Imigrando

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-Maya, o que está acontecendo? Acorda!

Minha irmã caçula se remexe na cama em que nós duas dividimos. Provavelmente, ela está tendo um pesadelo. Sacudo-a de leve na tentativa de desperta-la desse pesadelo. Ela acorda atordoada e se agarra em mim. Acaricio seus cabelos e pergunto:

-O que aconteceu minha pequena?

-Eu tive um pesadelo.

-Está tudo bem, já passou. Não foi de verdade. O que você sonhou?

-Com aqueles aviões que jogam bombas e machucam a gente.

Doe ouvir isso. Abraço-a ainda mais forte e tento consola-la:

-Se acalma, você está segura aqui. Volte a dormir.

-Eu quero água!

Me levanto da cama e vou até o filtro de barro. Ao abrir, descubro que nossa água acabou. Digo para Maya:

-Volte a dormir, eu vou buscar água.

Prendo meu cabelo e saio em busca de água. Aqui fora, mesmo ainda sendo manhãzinha, o sol está escaldante. Típico de Belta.
Encontro o senhor Hélio. Ele cuida dos suprimentos que recebemos e os divide por cada família aqui no abrigo. Digo:

-Bom dia Sr. Hélio!

Ele sorri com simpatia e responde:

-Bom dia Kristine! O que te traz aqui ainda cedo?

-A água da minha família acabou. Temos economizado ao máximo mas, são 6 pessoas para dividir tudo. Por favor, teria como me arranjar ao menos um pouco de água?

-Eu entendo, espera um pouco.

Ele entra no humilde espaço que armazena os suprimentos do abrigo. Em seguida, volta com um balde cheio de água e diz:

-Aqui, foi o que consegui, espero que os ajude.

-Ah, muito obrigado!!

Começo a segurar a alça do balde quando Sr. Hélio diz:

-Kristine, você está sabendo de uma oportunidade de sair daqui para um lugar melhor?

A pergunta me alimenta esperanças. Indago:

-Não, como assim?

-Uma pessoa do abrigo conseguiu abastecer um pequeno barco e vai levar algumas pessoas para fora dessa zona de perigo.

-Isso é ótimo!

-Você deveria ir, é a sua chance.

-Mas, como faço isso?

-O dono do barco quer levar o máximo de pessoas. Muitos já garantiram seu lugar. Ele é gente boa, com certeza se você falar com ele, ele te levará.

-Poxa, que ótimo. Vou falar com ele, depois preparar minha família e...

Ele me interrompe:

-Calma aí. O barco é pequeno. Ele não pode levar famílias inteiras. Se você for, terá que ir sozinha.

A simples ideia me assusta. Ficar longe deles não é o que quero. Dispenso:

-Ah não, sem eles não têm como eu ir para lugar nenhum.

-Ah querida. Você devia tentar! Iria ajudá-los mais do que ficando aqui. Você poderia conseguir um emprego e trazer dinheiro para casa.

Penso um pouco nesta possibilidade porém, assim que lembro de que ficarei quilômetros de distância da minha família, descarto-a imediatamente. Eu estive toda minha vida aqui. Vi cada um de meus irmãos nascer. Ficar longe deles está fora de questão.
Pergunto:

Permanecer ou partirOnde histórias criam vida. Descubra agora