Revelação

84 8 1
                                    

Nuvens, névoa e neblina: minha mente está repleta de tudo isso neste momento. Não consigo discernir o que fazer. Provavelmente, se levantar, cairei. Parece que essa notícia esvaiu minhas forças. Ao analisar minhas opções:

- [ ] Continuar aqui e chorar na frente de Theo.
- [ ] Me esconder debaixo da mesa.
- [ ] Encontrar forças, me levantar e sair.

Decido escolher a última opção. Desorientada, tento formular uma frase decente para dizer ao Theo que estou me retirando. Não consigo e desisto. Firmo meu corpo e me levanto. Nessa hora, desejo não estar usando saltos. Apenas ouço Theo dizer:

-Kris, fala comigo, o que está acontecendo?

Eu tento abrir a boca para responder mas parece que minha articulação foi roubada. Então saio, esbarro em algumas mesas mas, continuo indo até a saída. Theo vem atrás de mim, segura meus braços e me vira em sua direção:

-Kris, olha para mim, eu preciso entender o que houve. Me diz, por favor, me diz. Eu vou resolver agora.

Me desvencilho dos braços dele e continuo andando. Não há nada que Theo possa fazer. Abro a porta e saio do restaurante. No frio da noite, me sinto ainda mais perdida. A porta se abre novamente e Theo sai do restaurante. Agora estamos os dois do lado de fora, nessa noite fria. Aliás, eu estraguei a nossa noite. Ele se aproxima, põe as mãos no meu rosto e indaga:

-O que aconteceu de errado? Foi algo que eu disse?

Suspiro e digo:

-A notícia na TV.

-Mas, o que isso tem haver com você? Não precisa ficar triste com isso, infelizmente é assim, guerras acontecem o tempo todo. Tenho certeza que...

Interrompo-o:

-Theo, eu sou de Belta.

Ele estremece e fica pasmo. Ele tira as mãos do meu rosto e pergunta:

-Como assim? Você está me dizendo que você é de Belta?

-Sim! Eu nasci lá.

-Mas você está aqui, você está segura!

-Minha família não!! Minha família está lá, no meio de uma guerra!! E se eles estiverem entre aqueles números?

Theo passa a mão por seu rosto e cabelos e dá um longo suspiro. Em seguida, põe a mão no bolso. Tenho certeza que agora ele deve estar como que encaixando as peças de um quebra cabeça que antes ele não conseguia montar. Agora, ele sabe. Ele entende porque estou trabalhando aqui, sabe que não sou uma turista e qualquer que seja o detalhe, ele entendeu agora. Decido dizer:

-Respondendo sua pergunta mental Theo, sim, eu sou uma imigrante.

Ele fica em silêncio e isso me assusta. De repente, ele puxa a chave do seu carro, começa a caminhar e diz:

-Vem comigo.

Olho para ele, um pouco assustada e questiono:

-Você vai me levar para casa?

Ele para, se vira e responde:

-Não. Nós vamos para a Embaixada de Belta.

Meu coração acelera e suplico:

-Não Theo! Não faz isso! Eu não tenho documentos, não tenho nada! Por favor. Eu só estou aqui para cuidar da minha família!

Ele segura meus braços e diz:

-Calma Kris, que tipo de monstro você acha que eu sou? Eu só quero te ajudar, não é o que você está pensando. Confia em mim?

Balanço a cabeça em concordância. Então, ele me abraça e nos seus braços me sinto segura. Tenho certeza que se eu tivesse o abraço dele em Belta, nem mesmo a guerra me faria ter medo. Ele diz em meu ouvido, quase num sussurro:

Permanecer ou partirOnde histórias criam vida. Descubra agora