Capítulo 15

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 Os meus passos faziam-se ouvir pelo silêncio que assombrava aquela mansão, de uma forma que eu nunca esperei vir a acontecer e eu juntei as sobrancelhas confusa, algo aqui estava mal. Estava demasiado silêncio. 

 Parei em frente à mesa circular que marcava o centro da entrada e observei as tulipas, que pareciam bem cuidadas e perfeitas, uma obra de arte que só a minha madrinha seria capaz de obrigar a planta a fazer.

 Ouço em fim passos vindos de cima, passos pesados e aguçados. Sabia quem ai vinha, por isso, fechei os olhos e respirei fundo esperando ouvir a minha confirmação.

 - Âmbar!

 Aquela voz autoritária e áspera fez-se ouvir pelas enormes paredes brancas da mansão e eu abri os olhos, direcionando a minha atenção calmamente para o cimo das escadas, onde a Sharon me analisava com desgosto e desaprovação. Estava como um sem-abrigo aos seus olhos e nem precisei de lhe perguntar para saber esse facto.

 - Estás uma miséria! -cuspiu ela com raiva, antes de erguer o olhar mais imponente- Vamos falar no meu escritório.

 Sem esperar uma resposta que não lhe ia dar, ela virou-me costas e voltou a subir as escadas, deixando os seus passos voltarem a ecoar em afastamento. Sem hesitações, comecei a caminhar para as escadas, subindo-as em completo silêncio por conta dos meus pés descalços e vi o Rey a sair pela porta que dava para o escritório da minha madrinha.

 - Despacha a polícia, não quero ninguém a fazer perguntas que não deve. -ordenou a Sharon no interior.

 - Sim, senhora. -respondeu ele.

 Com isto ele virou-se para o corredor, preparando-se para seguir caminho, porém o seu olhar bateu em mim e ele pareceu paralisar, como se estivesse chocado por me ver, ou mais possivelmente por me ver no estado que estava, mas eu não liguei, continuei de cabeça erguida e passei por ele, sem ao menos fraquejar.

 Sem esperar uma ordem da minha madrinha, que já estava disposta no escritório a espreitar pela sua enorme janela, fechei a porta e sentei-me em frente da secretária, de olhos fixos na parede adiante, onde um quadro de Leonardo Da Vinci se fazia brilhar com uma moldura de ouro a delineá-la, com relevos calmos e calculados.

 - Finalmente decidiste voltar. -comentou ela friamente, virando-se para mim- Sabia que não irias conseguir fugir para sempre.

 Manti-me calada, o jogo dela estava em aberto de momento e eu não lhe iria mostrar fraqueza alguma enquanto ela não começasse a responder às minhas perguntas. Ela ensinou-me tudo o que sei, agora estava na hora de lhe mostrar que sabia pôr as coisas em prática, até mesmo contra ela.

 Ouvi-a inspirar fundo, deixando-se aproximar com calma e sem tirar os olhos de mim, enquanto se encaminhava para a sua luxuosa cadeira, bem à minha frente. Não desviei o olhar e muito menos atrevi-me a baixar um milímetro que seja a cabeça, em vez disso ergui-a mais um pouco mostrando que não estava minimamente com medo do que ela me poderia fazer.

 - Traíste-me. -acusou ela, semicerrando um pouco os olhos- Podias ter ficado de boca fechada, mas em vez disso aproveitaste para me atacar quando estava em baixo e depois fugiste com medo que tudo se virasse contra ti.

 Continuei a fixa-la, sem abrir uma única vez a boca.

 - Âmbar, tudo o que fiz foi por ti. -afirmou- Eu menti para te salvar e proteger tudo ao qual tinhas direito. -pausou esperando uma resposta- Estou a ver... -suspirou pesadamente- Eu sei que viste o teu ficheiro, antes de teres desaparecido... Também não me pareceu que estivesses com a intenção de esconder essa tua ação já que nem te preocupaste em voltar a arrumar o ficheiro no lugar, mas eu vejo-me obrigada a perguntar o quê que leste e viste naquele ficheiro.

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