Verdades Ocultas

Capítulo 18

 Uma semana se fez passar depressa. É engraçado como o tempo joga, manipula e diverte-se connosco, como se não passássemos de marionetas às suas mãos, mas realmente é assim que o vejo: como um controlador. 

 Durante este "curto" espaço de tempo passei, na escola, os minutos mais longos onde as aulas pareciam arrastar-se por mais de horas e horas a fio e onde os intervalos pareciam ainda maiores enquanto eu e a Delfina nos ignorávamos mutuamente, com a Jazmín sempre entre nós a tentar unir-nos a fazer os seus discursos de moda, já o tempo passava mais depressa quando voltava para casa, a primeira coisa que fazia era saber se a Luna ou Sol estava em casa, se não arranjava uma forma de me esgueirar para o seu quarto e roubava-lhe umas quantas folhas de um dos seus cadernos, se estava ia fechar-me no quarto tanto para estudar como para aperfeiçoar a minha letra para que se tornasse igual à sua.

 Pois é, se queria que o plano resultasse teria de ter uma letra igual à sua e para minha felicidade, este fim de semana, as letras já me pareciam bastante simétricas, o único defeito era o tempo que demorava a fazer aquilo, por isso é que ontem, segunda-feira, tive de fazer o que nunca pensei ser capaz: roubar os testes de uma professora. Para minha surpresa, não foi nada difícil, talvez por ser a melhor aluna da escola e os professores todos gostarem de mim ou por ela ter confiado em mim já que não pertenço aquele ano, de qualquer das formas fui ter com ela no final das aulas, à sala onde ela estava a terminar uma e eu comecei apenas a falar, quando ela diz que tem de ir à casa de banho e que eu guardasse as coisas dela. Assim que me desapareceu de vista vasculhei a sua mala de professora e tirei foto a um dos testes. Depois de conseguir o mais difícil só tive de chegar a casa e escrever as respostas erradas numa folha de teste, demorei duas horas e meia para o fazer sem que se percebesse a diferença entre os nossos "g" e "b" que eram bem diferentes, mas o resultado agradou-me.

 Agora estou em casa numa quarta feira à noite, são dez e eu já estou deitada na cama a refletir sobre tudo isto. Tinha conseguido trocar o teste da Luna pelo meu sem qualquer problemas e tinha tratado das provas com um fósforo, mas algo não estava bem, podia sentí-lo. Tenho a certeza que cometi um erro e não consigo ver onde.

 O melhor a fazer-se era esquecer o assunto e dormir, se cometi mesmo algum erro mais tarde ou mais sedo ei de descobrir e quando o fizer só o vou encarar uma vez antes de passar em frente e não olhar para trás.

 Porque é assim que se fazem as coisas.

(...)

 Acabei as aulas do dia com um teste de inglês e como sempre correu-me ótimamente. Adoro inglês e não tenho quaisquer dificuldades em seja o que for, já a Jazmín que estava a meu lado, lamentava-se por não ter percebido grande coisa, mas era sempre assim. Ela dizia que não sabia nada, acabava o teste a lamentar-se de lhe ter corrido horrivelmente mal, contudo quando o recebe consegue um satisfaz à rasca e passa o dia toda feliz da vida.

 - E a ti Delfina, como é que te correu o teste? -interrogou-lhe a Jazmín, enquanto as três nos dirigíamos para a saída.

 - Como de sempre. -respondeu-lhe ela, encolhendo os ombros.

 - E já sabes o que vais seguir? Qual faculdade é que vais?

 - Vou seguir jornalismo numa universidade por aqui, a minha mãe está ainda a decidir qual vai ser a melhor para mim. -sorriu-lhe- Quero ser jornalista de moda e trabalhar numa revista super in.

 - Oh! Que bom! -animou-se a Jazmín- Eu vou fazer design na universidade de Palermo, aqui mesmo em Buenos Aires.

 - Que bom. -concordou a Delfina alegre.

 Por um momento senti um peso no peito, ouvi-las a falar estava a deixar-me maluca. Tudo bem que ambas iam ficar por cá a seguirem os seus sonhos e tudo mais, mas é preciso de uma festa tão grande por isso? Eu vou para Paris, uma cidade internacionalmente desejada e mil vezes melhor que Buenos Aires, pelo menos lá eu poderia ficar longe de toda esta gente.