Capítulo 57

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 A viagem de Paris a Cancún é de doze horas e quarenta minutos, o que é imenso tempo e aturar o Tino e o Cato até estes adormecerem foi uma tortura avassaladora.

 Assim que chegámos ao aeroporto o Rey ajudou-me a fazer o check in já que era ele que tinha os passaportes dos meus dois acompanhantes e antes de embarcarmos ele deu-me um papel com uma morada, numa letra cuidada que conhecia muito bem: Luna.

 O Rey disse-me apenas que o Alfredo lhe pediu para mo dar e eu guardei-o no bolso, desconfiando do que seria, enquanto ele guardava todos os passaportes, documentos e algum dinheiro vivo, dentro de uma mala pequena e prática que ele me pediu para não perder de vista e manter longe do alcance do dois palhaços que iam comigo.

 Felizmente, ou nem tanto assim, o avião dividia-se de dois em dois assentos, o que queria dizer que iria ficar sozinha, porém o Tino e o Cato ficaram logo atrás de mim e o histerismo todo que faziam não só me incomodava a mim, mas como todos os outros pouquíssimos passageiros e trabalhadores que lá estavam. Então quando chegou a hora do almoço os dois começaram à luta porque só tinham dinheiro para pagar um pacote de batatas e passaram meia hora a discutir até eu me fartar e dar o dinheiro que sobrava para que cada um tivesse o seu pacote.

 Foi como cuidar de crianças em ponto grande e o pior de tudo é que descobri que estas ainda conseguem ser pior. Quando descobriram que tinha dinheiro, ficaram a agradecer-me durante uns dez minutos e depois começaram e implorar para que eu lhes comprasse mais coisas, chegando mesmo a fazerem birra em pleno avião. Liberei-os apenas duas bebidas e depois disse-lhe que não tinha mais dinheiro.

 Passado quatro horas de viagem eles em fim adormeceram, deixando-nos a todos aliviados e com medo de os acordar. O meu estômago ainda estava às voltar por causa dos nervos nessa altura, mas consegui pedir e comer umas quantas bolachas só para não o deixar vazio.

 Quando ainda faltavam seis horas pela frente acabei por pôr uns fones e ouvir alguma música do meu telemóvel, passando mais uma hora a cantarolar interiormente para me distrair do stress que era pensar nele e no que iria dizer-lhe assim que o visse, porém não estava a resultar muito bem, então depois de uma bela ida à casa de banho, aconcheguei-me no banco e tentei dormir.

 Foi difícil, mas assim que o consegui sonhei em branco e agradeci-me mentalmente por isso, assim que o piloto me despertou com o anuncio de termos chegado. Espreguicei-me e arranjei forças para acordar os dois homens que estavam completamente feitos macacos a dormirem nos bancos de trás.

 Decidi que iria esperar pelo menos até aterrarmos e coloquei-lhes apenas o cinto. Quando o avião pousou em terra firme e os passageiros começaram a sair os dois começaram a resmungar um com o outro, sobre quem devia de desligar o "alarme" estranho que estava a tocar e eu vi-me obrigada a arrastá-los para fora do avião pelas orelhas.

 Eram quatro e cinquenta da tarde nessa altura, segundo o meu telemóvel que mudou automaticamente para o horário mexicano e eu estava mais nervosa que nunca. Aqueles dois idiotas estavam numa miséria autentica, com as roupas todas amachucadas e fora do lugar, cabelos despenteados e desfeitos, caras abatidas e ensonadas e como se não bastasse espreguiçavam-se e bocejavam como verdadeiros homens das cavernas.

 Quando foi para buscarmos as malas, eu obriguei-os a levarem as minhas, para que eles ficassem entretidos com alguma coisa, para não me chatearem a mim e eu fui buscar um táxi. Assim que nos metemos na estrada o cérebro deles parece ter dado o clique e eles começaram um festejo por estarem de novo no México, o que me deixou um tanto surpresa porque nunca soube que eles já tinham vindo cá.

 De qualquer forma, eles fizeram o taxista parar por duas vezes para poderem tirar fotos nalgum sítio ou apenas comprar bolachas com uns trocos que tinham escondidos nos bolsos, mesmo que o tempo naquela região estivesse péssimo e por maior que fosse a minha vontade de mandar o taxista seguir sem eles, eu sabia que precisaria deles, pelo menos até chegarmos à mansão da minha madrinha, onde teria total autoridade sobre eles, como sua patroa.

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