Capítulo 59

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 Aos poucos o beijo foi perdendo a sua intensidade e nós separámo-nos, deixando-nos de testas coladas, debaixo da chuva, apenas apreciando aquele momento. Os meus braços estavam à volta do seu pescoço e ele deixava um dos seus braços rodear-me o corpo, enquanto a outra mão me acariciava a cara molhada, com uma delicadeza tão dócil que me deixava a respiração pesada.

 - Eu amo-te. -sussurrou-me ele por fim.

 Afastei as nossas testas o suficiente para o encarar, sentindo o peso daquelas suas palavras no meu peito como chumbo. Ele encarava-me tão intensamente, com um pequeno e subtil sorriso nos lábios e eu senti-me uma parva por não conseguir dizer aquelas suas mesmas palavras.

 Amor? Eu nunca soube o verdadeiro significado dessa palavra... Nunca ninguém mo disse, nem mesmo o Matteo... Para mim isso nunca existiu... Amor para mim é apenas um eufemismo, mas a forma como ele disse tais palavras não me fez duvidar delas e sim temê-las.

 É demais para mim.

 - Simon eu... 

 - Shiu! -pediu ele, pousando o polegar sobre o meu lábio inferior e sorrindo-me fraco, com uma mistura de tristeza e alegria no olhar- Eu sei que ainda não és capaz de dizer o mesmo... Eu só quero que saibas o quanto é que me és importante.

 Os meus olhos piscaram, sentindo lágrimas a formarem-se, porém estas não eram puramente de tristeza como das outras. Eu sentia-me feliz, completa, compreendia... Eu não me estava a sentir sozinha.

 - Desculpa. -pedi, não conseguindo fitá-lo nos olhos.

 - Não precisas de pedir desculpa. -sorriu-me ele, voltando a erguer-me a cara e fitando-me com aquele seu sorriso de antes- Saber que gostas de mim já é o suficiente para mim.

 O seu dedo voltou a tocar-me no lábio, numa caricia que me proporcionou um arrepio, antes dele voltar a debruçar-se e voltar a juntar os nossos lábios.

 Gostava tanto de ser capaz de lhe dizer as palavras que estão trancadas no meu coração, mas saber de alguma forma que ele estava bem em esperar o tempo que fosse necessário para que as palavras se soltassem livremente deixa-me descansada e livre.

 Este beijo é mais calmo, suave e menos desesperado, o que me faz voar para as nuvens, porém infelizmente não durou muito, porque ouve-se um pigarrear ao longe que nos desperta a atenção e eu apresso-me a afastar dele assim que percebo que é a mulher, a sua suposta mãe, que está à porta a fitar-nos sorridente.

 - Desculpem, não queria interromper, mas é que está um tempo terrível e o jantar já está pronto. -avisou ela, enquanto eu fitava o chão, a limpar a água da cara- Já estou a contar com a Âmbar. -afirmou ela sorridente- Não se demorem.

 Ela voltou a encostar a porta sorridente e eu fitei o Simon chocada. Como é que ela sabia o meu nome? Ele riu-se e voltou a passar a mão pelos cabelos molhados.

 - Posso ter falado de ti algumas vezes. -admitiu ele atrapalhado- Mas o que me dizes? Jantas connosco?

 - Eu não sei se é boa ideia. -receie- O Juan está à minha espera para voltar para a mansão e eu...

 - Por favor? -insistiu ele, fazendo beicinho.

 Ri-me dele e da sua cara, o que o deve ter levado a pensar que aquilo era um sim, porque ela sorriu e foi até à janela do lado do condutor ignorando o meu chamamento. Apenas me desviei para o passeio e passado menos de meio minuto o carro já estava a trabalhar e eu vi-o a afastar-se lentamente pela rua, com o Juan lá dentro, deixando-me para trás.

 O Simon sorriu-me todo alegre e estendeu-me a mão, que eu aceitei e ele entrelaçou os nossos dedos, antes de me puxar para sua casa. Eu não sei como é que fui capaz de me deixar levar pelo seu beicinho, porque depois do que a sua mãe viu, eu sinto-me um tanto que embaraçada e não me parecia correto estar ali naquele momento, sendo que aparentemente ele contou tudo sobre mim à sua família, enquanto eu me mantive praticamente calada.

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