Capítulo 62

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 - A Sharon foi levada pela polícia e o Rey foi até à esquadra para recuperar os documentos. -afirmou ele por fim, desviando o olhar para o chão por um momento, como se temesse as suas próximas palavras- Ela matou a Lili e o Bernie.

Juntei as sobrancelhas completamente chocada com a confissão e perante o seu silêncio e olhar hesitante deixei-me escorregar para o banco, o mais afastado dele possível, enquanto tentava assimilar as suas palavras.

- Como? -perguntei mais calma.

- Ela é que causou o incêndio. -respondeu-me ele, com aquela sua expressão cansada- Aparentemente ela gostava do Bernie, mas ele não lhe correspondia, obviamente. Isso irritou-a e ela... Ela diz que foi um acidente e que não queria que nada daquilo tivesse acontecido. O facto de ter sido um acidente e da sua história ter coincidido com as provas expostas reduziu a sua pena de dez anos, por ter ocultado a verdade todos estes anos, para apenas cinco.

- Então ela sempre foi presa. -comentei chocada, antes de abanar a cabeça para afastar esses pensamentos por um momento- É por isso que a Luna está de rastos? -questionei com desprezo.

- Agora ela é oficialmente a Sol. -informou-me ele- E sim, é e para que conste é motivo suficiente porque ao contrário de ti ela tem pavor ao fogo e nunca poderia ter imaginado que a própria tia é que lhe matou os pais e quase a ela.

- De qualquer forma, isso quer dizer que o Alfredo trouxe aqui a sua filha de propósito para a meter atrás das grades!

- Não! -afirmou ele ofendido- Eu não sabia nada disto! Eu mal sabia alguma coisa sobre algo e foi por isso que fui ter convosco até Paris. -fitei-o mais curiosa- Com a situação toda da Sol e tudo mais, eu apercebi-me que as histórias da Sharon não estavam a bater certo. Durante anos ela fez-te acreditar que ela era tua madrinha e que os teus verdadeiros pais, como diplomatas, estavam a trabalhar na Europa, eu acredito que ao passar dos anos começaste a desconfiar que essa história não era verdade, porque afinal nunca os viste, mas o medo de saber a verdade deixou-te calada e depois do nada ela afirma que és a Sol e que na verdade ela adotou-te para te proteger de todo o escândalo que seria caso todos descobrissem quem tu verdadeiramente eras, só que depois a verdade veio à tona e a fim de contas a Sol é a Luna, por isso, eu perguntei-me quem é que eras realmente... Que tipo de ligação tinhas comigo. -fez uma pausa respirando fundo para recuperar as forças nas palavras- Fui ao cartório e perguntei por ti e descobri que oficialmente tu não me és nada... Descobri que estavas dentro de um processo raro qualquer de adoção, que desde sempre esteve em desenvolvimento.

- Espere. -pedi atónica- Está a dizer que eu não sou adotada?

- Nunca chegaste realmente a sê-lo. -respondeu-me ele, juntando as sobrancelhas confuso- Eu pensava que sabias... Pela forma como afirmaste que não te era nada, eu pensei realmente que sabias.

- Não. -abanei a cabeça- Eu disse isso, porque nunca serei capaz de o ver como um avô depois de tudo... Eu não desconfiava que nem sequer era adotada... Mas isso não faz sentido, como é que é possível eu estar estes anos todos com ela se nem sequer minha mãe de lei ela é?

- Bem... O processo que estavas imposta estava relacionado com a polícia, por isso, não podia saber essa resposta e foi por isso que fui atrás da Sharon até Paris... Queria saber a verdade... Quem eras de verdade, o que estava escondido atrás de ti e todos os segredos que estavam à tua volta, mas... Eu não descobri grande coisa, apenas que ela te escolheu porque viu em ti algo que a identificava, algo que vos unia às duas: a vossa história.

Então ela não me escolheu por ser a mais fraca? Não me escolheu porque era a mais fácil de moldar? De manipular? De construir conforme as suas regras? Ela escolheu-me porque se identificava comigo? Com a minha história?

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