Capítulo 19

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Saí do banho de rastos. A água quente tinha-me conseguido relaxar o corpo, porém a minha mente não parava de rever o acontecido, deixando-me stressada. Os risos, a cara contida da Luna e do Pedro, as vozes da Jazmín e da Delfina e os olhos castanhos do Simon não me saiam da cabeça, mais parecia que estava a dar em louca. 

 Tive tempo apenas para me vestir, antes de ter de descer para o jantar. Para variar apenas avia dois lugares preparados à mesa, um deles já ocupado pela minha madrinha que me esperava com um olhar analisador e cauteloso.

 Respirei fundo e sentei-me a seu lado na mesa, enquanto a Amanda pousava a bandeja com a comida ao lado da minha madrinha, como sempre fazia, porém tinha um mau pressentimento que se confirmou com a próxima ordem da Sharon.

 - Pode retirar-se Amanda. -a empregada afastou-se e ela fitou-se severa- Serve-me, Âmbar.

 Aquilo pode ter parecido um pedido, mas já não era a primeira vez que ela me fazia aquela ordem mascarada, por isso, não ripostei, apenas levantei-me relutante, sentindo aquela sensação de humilhação e inferioridade atacar-me pela segunda vez, enquanto a servia a ela e depois a mim própria.

 Quando terminei tentei não me precipitar para o meu lugar, caminhando calmamente até ele, porém a minha madrinha deteve-me com um movimento de mão.

 - A comida não pode ficar aqui, Âmbar. -avisou-me ela.

Por um segundo fiquei apenas a encará-la. Eu não queria ter de levar aquela bandeja de volta à cozinha, onde aquela estúpida família feliz deveria de estar a comer, quando da última vez que ela me fez isto a Amanda é que a tinha levado por ordem da minha madrinha, mas mais uma vez eu não tinha como desobedecer a uma ordem da Sharon. Todos nesta casa, com exceção talvez do Alfredo, são inferiores à Sharon Benson, não importa se és o empregado favorito dela, a sua "filha" adotiva ou a sua sobrinha verdadeira. Todos nós lhe somos submissos e não há absolutamente nada que possamos fazer para a contrariar.

 Eu não a consigo contrariar.

 Agarrei na bandeja erguendo-a da mesa e por um segundo pensei fingir deixá-la cair por acidente e ela ser obrigada a chamar a Amanda para limpar, mas muito provavelmente ela só iria chamar a empregada para que ela me trouxesse as coisas que necessitaria para limpar tudo, por isso, respirei fundo com a bandeja bem firme nas minhas mãos e dei entrada na cozinha, silenciando os risos que estavam a ser proporcionados.

 A sensação de humilhação voltou a aumentar dentro de mim e eu senti novamente vontade de gritar e partir tudo ao meu redor, porém engoli essa necessidade e obriguei-me a não dirigir um único olhar para a estúpida da família Valente/Benson. Larguei deliberadamente a bandeja em cima da bancada, não querendo saber o barulho que isso provocou e virei-lhes a todos as costas, antes de entrar novamente na sala de jantar, agora mais apressada.

 - Perdi a fome. -avisei ríspida à minha madrinha, passando por detrás dela em direção às escadas, porém ela voltou a deter-me.

 - Não, Âmbar! -afirmou ela- Tu vais sentar-te aqui comigo e acabar a refeição que começaste.

 - Eu ainda nem sequer a comecei. -ripostei, virando-me de frente para ela.

 - Então vais sentar-te e começar. -ordenou, atirando-me um olhar gélido.

 - E porquê que eu tenho de obedecer a tudo o que dizes? -resmunguei já um tanto descontrolada.

 - Porque a bem ou a mal tens de aprender a controlar-te e tanto quando entraste nesta casa hoje, como agora mesmo estás a deixar o controlo escapar-te por entre os dedos e tu sabes o que eu acho da falta de auto-controlo.

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