Capítulo 27

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 Depois daquela discussão com as meninas, não estava com cabeça para mais nada, mas assim que pisei o chão da mansão o Rey aparece-me à frente e ordena-me que vá para o escritório ter com a minha madrinha. 

 Não ripostei apesar da vontade, mas para compensar atirei-lhe um olhar zangado. Este é outro, nunca gostamos um do outro, ele vê-me como uma miúda mimada e eu vejo-lhe como um empregado com o nariz empinado, sempre foi assim e não à forma de modificar isso.

 Subi as escadas e entrei no escritório, que tinha a porta entre aberta. Desta vez a minha madrinha já me esperava na cadeira e parecia bastante séria, como sempre.

 - Senta-te. -ordenou-me.

 Fiquei parada um momento, atrás da porta fechada e ponderei desobedecer-lhe só para mostrar que ela não tinha pleno controlo de mim, mas de que me valia? Então, sentei-me à sua frente de costas direitas e a olhá-la diretamente nos olhos, mostrando-lhe que não ia ceder às suas intimidações. 

 - O que quer falar comigo, madrinha?

 - Hoje o meu pai veio chatear-me a ordenar-me para que eu te deixasse falar com ele, como se eu te tivesse proibido de lhe dirigires a palavra e eu disse-lhe que eu não te tinha restrito a nada e que possivelmente não podias falar com ele porque estavas concentrada nos estudos. -pausou- Tu não podes ignorar o meu pai, Âmbar.

 - Porque não? -rebati- Ele não me é nada, não é verdade? 

 Ela manteve-se calada, apenas erguendo mais a cabeça e eu fiz o mesmo, para lhe mostrar que não estava aqui para ser rebaixada. Já lhe tinha feito frente mais do que uma vez e tinha conseguido sair incólume, por isso, não ia deixar que isso mudasse. Ela tinha de perceber que o erro dela, de não me querer como sua, implica que ela não me possa controlar por completo.

 - Eu não quero falar com o Alfredo, nada do que ele me tenha a dizer vai mudar alguma coisa e eu não estou disposta a perder o meu tempo com ele. Tu própria o disseste. Nunca devemos olhar para trás.

 - Já chega, Âmbar! -quase gritou ela, batendo com as mãos na mesa e deixando-me chocada, enquanto o seu olhar frio me percorria- Já estou cansada das tuas manias de poder. Tu não me podes fazer frente! 

 Senti-me tentada a dizer: "E quem é que me impede?", mas a sua agressividade deixou-me atordoada e eu manti-me calada.

 - À tempo demais que te ando a deixar com as rédeas soltas e tu estás cada vez pior, a pensar que me podes simplesmente desafiar com as tuas palavras de criança mimada! -ripostou com raiva na voz, antes de respirar fundo e voltar a endireitar-se na cadeira- A partir de hoje, nunca mais me vai desafiar. Disseste-me que antes eu te fazia obedecer ou à força ou manipulando a tua mente, agora está na altura de voltares a perceber quem é que manda aqui. 

 - A madrinha já não me pode bater, nem me trancar no quarto ou no sótão. Já não tenho idade para isso. -repliquei.

 - Tu já não andas a mostrar idade para muita coisa, Âmbar.

 - E o que pensa fazer? -desafiei.

 - A partir de hoje, eu quero ver-te focada a cem por cento nos estudos, vais para a escola e da escola voltas diretamente para cá. Estudas até ao jantar e depois, conforme me apetecer estudas mais até à hora de deitar, ou ficas com tempo livre para aproveitares no teu quarto.

 - Está a obrigar-me a ficar aqui fechada?!

 - Não, Âmbar, tu podes sair, mas desta mansão tu não tiras um pé! -fitou-me desafiadora- E acho que é escusado dizer que não quero mais visitas nenhuma das tuas amigas e não à saídas a lado nenhum até achar que aprendeste a lição.

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