Capítulo 42

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 O pico de felicidade que me envolvia era tão grande que me vi a saltitar pela rua a arrastar o Simon. Ele ria-se, mas parecia-me cansado para me acompanhar o passo, por isso, abrandei um pouco e ao parar em frente às portas do hotel sorri-lhe animada.

 - Recompõe-te. -pedi-lhe, enquanto lhe endireitava a roupa- Tens de dar as tuas documentações e não podes parecer bêbedo.

 - Porquê que tenho de ser eu a dar a minha documentação?

 - Sou menor, esqueceste-te disso? -resmunguei e revirei os olhos- Estás pronto?

 Ele respirou fundo rodando a cabeça e assentindo. Mordi o lábio para esconder um enorme sorriso que me queria dominar a cara e depois agarrei de novo na sua mão, entrelaçando os nossos dedos antes de em fim entrarmos.

 Como esperava a recepcionista estava no balcão, o que confirmava as minhas suspeitas sobre aquele hotel estar aberto vinte e quatro horas por dia, por isso, só tínhamos que esperar que houvesse um quarto disponível.

 Assim que a recepcionista deu conta da nossa presença levantou uma sobrancelha desconfiada e respirou fundo antes de nos cumprimentar, como se estivesse aborrecida.

 - Olá, muito boa noite, o que desejam?

 - Hã... -começou o Simon meio perdido.

 Suspirei. Com ele naquele estado meio atrasado e eu num estado eufórico quase que podíamos parecer dois malucos a tentar arranjar confusão, por isso, esforcei-me para desfazer um pouco o sorriso e arrancar com as minhas palavras.

 - Um quarto, por uma noite.

 - Preciso de ver os documentos de identificação.

 O Simon tirou do bolso a sua carteira e estendeu o seu cartão. A senhora verificou tudo, dedilhando o computador à sua frente e voltou a entregar-lho, depois dele assinar uma ficha qualquer.

 - Sessenta e cinto pesos. -informou ela.

 Antes que o Simon pudesse sequer voltar a abrir a carteira, tirei duas notas e pousei-as no balcão, recebendo logo o troco e as chaves.

 - Quarto vinte e nove, terceiro andar. -informou ela.

 Assenti em agradecimento e puxei o Simon na direção do elevador, num passo mais cuidado para que ele me conseguisse acompanhar. Eu sei que provavelmente ele estaria a pensar na loucura que ambos estamos a fazer, porque o Simon sóbrio jamais teria embarcado nesta aventura e eu duvido seriamente que eu tivesse sequer pensado em tal coisa se não estivesse um tanto tocada pelo álcool.

 Tentei prender o riso assim que entrei no elevador e vi a cara da recepcionista que parecia estar a implorar-nos para não confundirmos este hotel de três estrelas com um motel. Carreguei no botão que nos levaria ao terceiro andar e assim que as portas se fecharam as minhas risadas escaparam-me por entre os lábios e o Simon sorriu-me meio perdido.

 - Do quê que te estás a rir? -perguntou ele confuso.

 - De nada. -afirmei, contendo um pouco mais o riso- Só parvoíces minhas.

 - Tu és louca. -riu-se ele.

 - Só um pouquinho. -sorri-lhe atrevida.

 As portas voltaram a abrir-se e nós entrámos no largo corredor, forrado com uma alcatifa vermelho muito fora do que seria de esperar num dos hotéis onde estou habituada a ficar alojada.

 - Sabes, eu não gosto quando pagas tudo. -comentou ele atrás de mim, enquanto me seguia em direção à porta onde o número quarenta e nove brilhava a dourado- Podíamos ter pelo menos pago a meias.

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