Capítulo 32

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 Depois de passar uma semana miserável, onde a minha cabeça explodia de dores ao pensar no Simon ou em tudo o que estou a passar e onde mal conseguia dormir por causa dos pesadelos, passei a usar óculos de sol mais vezes, para esconder a minha cara cheia de olheiras da falta de sono. 

 Consegui arranjar uma forma de me abstrair de tudo o que mexia comigo quando estou desperta, apesar de ainda não conseguir parar de procurar o Simon nas aulas antes do almoço. Ele estava sempre lá, sempre à minha espera, mas eu passei a comer no bar e cada vez que recebia uma mensagem ou chamada da sua parte, eliminava-as para não ter a tentação de as ver quando a raiva passa-se.

 O que não consegui manipular em mim, são os pesadelos. Não posso manipular a minha própria mente se estou inconsciente, não é? Por isso, ontem passei a comprar à socapa comprimidos para dormir e pela primeira vez consegui dormir uma noite como deve de ser.

 E ainda bem, porque eu precisava de concentrar as minhas energias no que estava prestes a fazer. É sexta, estou escondida atrás de uma coluna no corredor onde fica a sala da Luna e onde estou a ouvir o miúdo a falar calmamente com a professora.

 Ótimo. Ele estava a seguir bem o plano, agora só tinha de esperar que eles de afastassem e me despachasse o mais depressa que pudesse.

 Os passos da professora começaram a afastar-se em sintonia com os do miúdo e antes mesmo deles desaparecerem do corredor, corri sorrateiramente para dentro da sala e reparei com agrado, que a professora ainda não tinha arrumado nada e os testes estavam todos dispostos sobre a sua secretária.

 Precipitei-me para eles e procurei o teste da Luna tirando-o do seu lugar com cuidado, para saber onde pó-lo outra vez e depois agachei-me no chão, pousando a folha na cadeira da professora, enquanto abria uma das suas canetas.

 Os primeiros exercícios foram fáceis de modificar, porque não passavam de escolha múltipla, por isso só tive de riscar a resposta que a Luna respondeu, de forma que ficasse ilegível e escrever uma outra qualquer. O que veio a seguir foi mais difícil, perguntas de desenvolvimento, risquei as palavras chave da sua resposta e com a melhor letra que consegui, o que parecia uma cópia exata da sua para meu agrado, pus outra palavra errada, respondendo à pergunta do teste de uma forma, como se ela não percebesse o que ela queria dizer.

 Os sinónimos ainda mais fácil foi de errá-los, porque metade deles ela tinha errado por ela mesma, por isso, esqueci o exercício e passei para o seguinte: a composição. Valia quarenta pontos do teste e era o último, tendo em conta que passei pela gramática bem de pressa, trocando apenas alguns verbos certos, para sítios errados e riscando o modo verbal de algumas das suas frases.

 Já um pouco apressada apenas fiz uns ajustes no primeiro parágrafo bem depressa e comecei a arrumar as coisas como elas estavam, mas para meu azar comecei a ouvir os passos a aproximarem-se e apressei-me a esconder do outro lado da secretária, mordendo o lábio inferior, enquanto o coração me saltava no peito.

 Aquele idiota não a empatou o suficiente e agora seria apanhada. O objetivo era eles não voltassem até tocar, mas faltavam ainda três minutos e eu estava completamente presa dentro da sala, enquanto as suas vozes se aproximavam.

 -... mesmo assim tenho que agradecer-lhe muito por me ouvido, professora. -disse ele, aproximando-se da porta.

 Pensa, Âmbar! Pensa! Mordi o lábio com mais força com os nervos e senti o sabor do sangue invadir-me a boca. É repugnante! Levei uma mão ao lábio, enquanto ouvia a professora a despedir-se dele e senti o sangue manchar-me o dedo, como uma gota caída no chão de mármore branco que é a minha pele.

 Cair. É isso!

 Já a ouvir os passos apressados do rapaz a afastarem-se, enquanto a professora suspirava bem perto da porta, eu consegui tirar habilmente o meu brinco e atirei a peça pequena que o prendia para o meio do chão o mais perto da porta que me atrevi a atirar.

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