Gostos Peculiares - REESCREVENDO

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Camila

Já se passaram três semanas desde que saí de Miami. 

A sensação de frio na barriga está começando a me deixar. Sempre gostei de ter tudo sob controle em minha vida e, certas vezes, não saber o que me espera gera uma ansiedade absurda. 

Estou decidida a dar duro, dar o meu sangue nessa nova etapa e até virar noites estudando para realizar o meu sonho de ser juíza. Tive muito medo de ser colocada como colega de apartamento de alguém problemático e bagunceiro, mas parece que a sorte olhou pra mim. 

E apesar de vivermos de baixo do mesmo teto, nossos horários não estavam se batendo. A vi pouquíssimas vezes, e um tipo de admiração começou a nascer no meu peito ao vê-la lidar com uma rotina tão pesada e não desistir. 

Já a minha, dificilmente mudava. Pela manhã e tarde eu estava em aula, pontual e com minhas duas melhores amigas. De noite, aproveitava para estudar sozinha na biblioteca ou no quarto.  Apartamento que conseguia ser tão silencioso quanto a biblioteca, para ser mais direta nem parecia que eu o dividia com outra pessoa. 

Numa das madrugadas em que fiquei estudando até tarde, ouvi a porta do apartamento sendo destrancada e logo trancada. Somente uma das vozes me era familiar ali. Pela fresta da porta do meu quarto, vi duas sombras passando para o quarto de Lauren. 

Contanto que não fizessem barulho, não me importaria, afinal, o lugar não é somente meu. Lauren é adulta e deve saber no que se mete e com quem se envolve. Enfim, sua vida sexual não me interessa.

*

O relógio da cozinha marcava 7:40 e minha primeira aula teria inicio em vinte minutos. Eu mastigava meu último pedaço de waffle quando me perguntei se Lauren tinha dormido em casa. Ponderei. Seria estranho além do normal chamá-la enquanto está com alguém, ao menos para mim. 

Afastei pensamentos levemente obscenos da mente, seria sacanagem deixá-la perder aula só por isso? 

Fui até a porta do quarto dela e dei três batidas de leve. Sem resposta. Pensei novamente. E se ela estivesse nua? Ou pior, transando neste exato momento... Cocei a cabeça pela dúvida. Com cuidado, abri e vi uma única figura tão mais branca quanto o próprio lençol que a cobria até a cintura. Ela só usava um top preto na parte de cima. 

- Lauren? – chamei com delicadeza da entrada. – Lauren, você vai para a aula hoje?

- Hmmm... – eu ri com o som quase inaudível que a mulher produziu.

- Lauren, você vai se atrasar. – disse-lhe.

- PUTA QUE PARIU. – Lauren pulou da cama e quase tropeçou nos próprios pés. – MERDA. MERDA. MERDA. MERDA. – ela xingava enquanto abria seu armário e jogava qualquer peça de roupa em direção a cama. – que horas são? – perguntou-me, desesperada.

- Vinte para as oito.

- PORRA. Não acredito nisso. Tenho uma apresentação hoje. Dinah vai me rasgar meu pescoço.

- Desculpa, eu não sabia. – disse sincera. Vi Lauren fechando os olhos para respirar fundo.

- Não se preocupe... Dormi muito tarde e você não sabia de nada. Tudo bem. - ela falou com sua voz rouca. 

- Vou te deixar sozinha.

- Camila... Obrigada. Você pode ter salvado o meu dia.

- Não há de quê. – a vi correndo para o banheiro e dei meia volta para tomar meu rumo. 

A tela do notebook de Lauren se acendeu com o som de notificação. Não pude evitar. Sabe aquela coisa "foi mais forte que eu"? Pronto, uso isso em minha defesa. Olhei na direção do banheiro e só ouvi o chuveiro ligado. Dei leves passos até a frente do notebook e vi uma mensagem de email aberta na qual estava escrito: