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Camila

Não sou a favor de relacionamento ioiô. Se acabou, acabou. Teve um motivo e fim. Ele pode falar o quanto quiser, pode se esgoelar gritando que aconteceu de repente e que vou me arrepender. Ninguém aponta o dedo para o outro do nada e o acusa de algo, de traição, de mentir, de ignorar, do que quer que seja. São pequenos pontos, pequenos espaços em nosso relacionamento que foram se tornando um buraco ao longo dos anos.  

Posso bater no peito e dizer que nunca o traí, porque realmente nunca o fiz nem em pensamento. Ficarei com minha consciência limpa e honra intacta até o fim. Estar de saco cheio nem define mais o meu humor. Saí do prédio tão estressada que nem lembrei de esperar as meninas para irmos todas juntas para a aula. 

O dia realmente valeu por 2, meu relógio parecia andar para trás. 

Harry não voltou a me ligar ou mandar mensagens, o que me traz certo alívio, não quero ter que precisar bloqueá-lo ou trocar de número. Às 17h, chego em casa. Estou sozinha. Tomo um banho demorado e visto uma roupa simples. Meu choro é de raiva. Não é nada desesperador que me faça tremer ou querer gritar, é só um choro silencioso, mais decepcionante que triste. 

Saio do quarto e ouço uma movimentação vinda da cozinha. 

- Eu já ia fazer algo. - digo, aproximando-me. 

- Não há problema, eu faço. - diz Lauren, retirando alguns ingredientes da geladeira. 

Sento-me num dos assentos atrás da bancada e fico observando seus movimentos precisos. Ela começa a cortar as verduras rapidamente, logo colocando para refolgar, fazendo com que o cheiro logo se aposse da cozinha e invada minhas narinas. Lauren faz tudo em silêncio, chega a ser hipnotizante ficar vendo o que ela faz, assim de costas, usando esse jeans claro bem colado às pernas e essa camisa social azul dobrada até os cotovelos de forma charmosa... 

- Vai ficar aí só olhando ou vai fazer alguma coisa? - quase pulo ao ouvir a voz dela.

- O quê? - pergunto, após limpar a garganta. Lauren olha para trás e sorri. 

- Falei pra você pegar os pratos. - diz ela.

- Ah... - pronuncio. Pego os benditos pratos e talheres e organizo a mesa. 

- Então, como você está em relação ao Barry? - ela pergunta quando começamos a comer. Reviro os olhos, tanto pela gracinha quanto pela menção. 

- Perfeitamente bem. 

- Oh, é mesmo? - ela pergunta, fingindo me olhar com seriedade. 

- Aham. - digo, antes de trazer o macarrão à boca. 

- Ótimo. 

- Ele também te ofendeu, desculpa por aquilo, você não tinha nada a ver. - falo, lembrando da cena.

- Não é ofensa alguma ser chamada de lésbica, na verdade, ele teria se saído muito melhor se tivesse me chamado de hetero, aí sim teria me atingido até a alma. - Lauren diz, sorrio, negando com a cabeça. - Mas de fato, não tive nada a ver, mas gostaria de ter dado motivo. 

- Não sou mulher de trair. - digo, firme. 

- Sei que não. - Lauren fala, direcionando-me seus verdes do outro lado da mesa. 

Terminamos o jantar e limpamos tudo. 

- Vou tomar um banho, quer que eu vá dormir contigo? - ela me pergunta. Hesito. 

- Ainda está cedo. - digo. 

- Sim, está, não precisamos dormir logo. - diz ela, apoiando a cintura na pia, enquanto seca as mãos. Ela sorri com aquele jeito sacana.

Gostos Peculiares - REESCREVENDOOnde histórias criam vida. Descubra agora