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Camila

Despertei antes do alarme. 

Abri os olhos sem preguiça e vi o rosto dela, ela dormia de forma profunda virada para mim. Respirei com calma e subi o cobertor devagar para proteger meu corpo, mesmo assim ela reagiu, respirando fundo e mexendo uma das mãos. 

Não estou com vergonha de ter ficado desesperada a ponto de pedir para que ela dormisse comigo, estava com medo, acho que teria enlouquecido se tivesse ficado sozinha essa noite. Lembrei que não contei a ninguém a respeito e isso fez meu estômago embrulhar. 

Vi ela abrindo os olhos. 

- Está muito cedo. - ela disse num tom baixo. 

- Não consigo voltar a dormir. - digo. 

Ela respira fundo. 

- Eu te levo na delegacia e depois na reitoria, mas ainda não é hora de encarar isso. Reviver a cena ao ter que falar sobre será um incômodo necessário, sabe disso. 

- Sei. - falo, encolhendo-me com preguiça. 

- Você ronca e fala dormindo. - a voz rouca anuncia. Vinco as sobrancelhas numa careta. 

- Eu falei o quê? - pergunto, mesmo com medo da resposta. 

- Alguma coisa sobre eu ser maravilhosa e meus olhos serem da cor do caribe. 

- Que mentirosa! - digo abismada e ela começa a rir. 

- Mas você falou algumas coisas sim, só não lembro o quê. 

- Falei coisa nenhuma e nem ronco. - defendo-me. 

- Não, você dorme feito uma princesa. - Lauren diz. 

- Dá próxima vou ficar acordada e esperar você dormir para te filmar. 

- Você quer dormir comigo mais uma vez? - ela pergunta com um sorriso safado no canto dos lábios. Sinto minha face arder, pois não era esse o sentido da coisa. 

- Para de me zoar. - digo, erguendo o corpo para sair da cama. Ela me segura pelo braço, olho para o gesto. Ela não aperta, apenas segura. 

- Mesmo se você não pedir, eu virei, se não quiser que eu fique, basta me mandar embora. - com calma, ela diz. Ela passa segurança, no tom de voz, nos gestos, até mesmo pela expressão em sua face ridiculamente bonita para quem acabou de acordar. 

Vou para o banheiro e faço minha higiene com calma, não a encontro quando saio. Vou na direção da cozinha e ouço o barulho das panelas. 

- Que gororoba você está fazendo? - provoco, sentando do outro lado do balcão. Ela ri com desdém. 

- Cuidado, posso ter cuspido dentro. - ela diz, me fazendo sorrir. 

- Pelo menos está cheiroso. - digo. 

- Vou tolerar suas gracinhas hoje, mas só porque você acordou bonitinha. - Lauren fala, colocando o conteúda da assadeira num prato e na minha frente em seguida. 

- Bonitinha? - pergunto, fazendo uma careta como se sua provocação tivesse me ofendido. 

- Bonitinha. - ela repete, piscando um dos olhos para mim.

- Pelo menos acordei bonita, já você... - provoco e ela ri.

- Acordei com vontade de foder. - ela diz, me encarando de forma direta. Engoli a saliva e abri a boca algumas vezes, sem resultado. - Coma. - ela coloca a xícara de café na frente do prato.

Não fomos à aula. Como prometido, ela me acompanhou até a delegacia mais próxima. Eu já conhecia o procedimento, mas... Quando acontece com você, a sensação é muito diferente. Você fica acuada. Sei que não devia sentir vergonha, a errada não sou eu, mas não é fácil lidar. Agradeci mentalmente pela delegada ser mulher e por não me olhar estranho, como se eu fosse uma pobre coitada. 

Gostos Peculiares - REESCREVENDOOnde histórias criam vida. Descubra agora