05 | georgia roe

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Standing in the hall of fame.

Hera cantava ao meu lado enquanto descíamos do ônibus, de soslaio podia vê-la com seus olhos fechados, as mãos em punho frente a boca como se fosse um microfone enquanto seus inseparáveis fones de ouvido me faziam ouvir de onde estava, não que fosse muito longe, mas a musica estava bem alta. 

Uh, uh, uh — As pessoas a encaravam com o cenho franzido, e muita das vezes riam. — And the world's gonna know your name. Como eu amo essa musica.

Hornell era uma cidade quieta, onde todos seguiam essa linha. Típica cidade do interior mas Hera não se encaixava nesse estereotipo.  

— Não tem como não amar The Script.

— Você não acha que Superheroes tem a ver com a gente? — Guardou seus fones na mochila enquanto passávamos pela porta de vidro.

Adorava vir a mercearia do senhor e senhora Stwart. Os dois eram o casal de velhinhos mais simpáticos de toda cidade. O tom coral e verde claro dava um ar aconchegante ao comercio, e todas as vezes que aparecíamos aqui, ouvíamos a historia de como se conheceram e decidiram abrir-lo, que era o único elo que os dois tinham, já que a senhora Stwart não podia ter filhos. Eles se apegavam bastante a todas as pessoas que entravam aqui. 

Eram adoráveis.

— Eu também acho — Suspirei pesadamente me abaixando para pegar a cestinha e indo em direção a estante de leites.

— A gente vai sair daqui — Apertei os olhos umedecendo os lábios ouvindo mais uma vez Hera insistir nisso. — Eu prometo, nós vamos ser as garotas mais quentes e lindas de toda Nova York!

Queria ir embora, mas talvez tivesse medo demais de sair daqui e me sujeitar a algo pior. Não que existisse algo pior do que o habitual.

— Eu sei que vamos, Hera. Só que... E se tudo piorar? Eu tenho um irmão pra cuidar, amiga. Não é só eu, se fosse nem ligaria. — Dei de ombros voltando a pegar todas as coisas que faltavam na dispensa de casa.

— Eu entendo seu medo e receio — Passou as mãos pelo meu cabelo que estava solto de uma forma carinhosa — Mas você tem que tentar. Georgia, você só tem dezenove anos! Vai viver nisso pra sempre? Olha pra você, está nitidamente sobrecarregada.

— Eu sei.

— A gente vai sair aqui, e não vai demorar. A gente vai viver, pelo amor de Deus, nós precisamos disso!

Cocei os olhos sentindo minhas pálpebras pesadas, na verdade, mal conseguia abrir os olhos. O sono me dominava, e varias vezes abria a boca deixando nítido o quanto estava cansada, só queria chegar em casa, tomar um bom banho e dormir até dois mil e vinte.

Céus, estava tão cansada que não conseguia segurar meu próprio corpo em cima dos pés.

Terminei de pegar tudo que precisava e faltava na dispensa. Leite, nescau, arroz, farinha e macarrão. Passei os olhos pela lista e logo os levei até a pequena cesta azul que segurava, estava tudo ali. Caminhei até o pequeno balcão onde estava a senhora Stwart sorrindo carinhosamente em minha direção.

— Bom dia — Trouxe suas mãos até meu queixo de forma delicada acariciando de leve — Como você está? — O seu sorriso era tão acolhedor e materno que fez crescer uma enorme vontade de pedi-la um abraço.

— Bom dia — Sorri simpática em sua direção — Estou bem, e a senhora?

— Senhora está no céu — Cantarolou sorrindo.

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