02 | georgia roe

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           O sol em Hornell fazia com que fechasse meus olhos, ou os protegesse com o braço. Não podia negar, mesmo mediante ao meu sono e cansaço que o dia estava lindo. Eu amo o verão e o clima que ele traz. Os raios deixavam meus olhos cada vez mais sensíveis, já era pra eu estar acostumada, havia algum tempo que presenciava isso diariamente. Estalei a língua no céu da boca ajeitando minha bolsa no ombro direito enquanto caminhava pela enorme rua a qual morava. Afastei a blusa de manga comprida dando uma olhada no relógio que marcava sete e quarenta e cinco.

Espero que Calleb esteja no colégio.

Enquanto caminhava as pessoas murmuravam bom dia, e algumas até perguntavam como eu estava. Alamo, era um bairro tanto quanto religioso, havia várias igrejas aqui, e algumas delas eu já havia frequentado com Diana, a mulher que me deu a luz. 

Quanta ironia. 

Diana frequentando uma igreja, dando seus dízimos todos os domingos e agindo como se seguisse linha por linha do que era dito na bíblia.

Aposto que ela nunca havia lido esse livro.

A minha vida não era boa, e sempre me fizeram acreditar que depois de tudo isso sempre melhoraria. Bom, eu pelo menos tinha esperança, uh? Chegou um tempo que eu apenas esperava o destino decidir. A única coisa que me mantinha de pé, e até mesmo me fazia pensar mil vezes antes de fazer uma besteira era o meu irmão. Nunca me perdoaria, e pensar na possibilidade dele passar o mesmo que eu passei. 

Não deixaria que nada acontecesse com ele enquanto estivesse viva.

Era uma promessa de dedinho, como ele pediu.

Abri a bolsa, procurando pelas minhas chaves quase de frente a minha casa. A pintura em tom pastel azul... Ou verde? Bom, acho que era azul puxado para o verde, do lado de fora já estava velha e descascada. 

O portão precisava ser empurrado com um pouco de força para que abrisse, e o jardim estava totalmente mal cuidado, mas ali havia um espaço no qual Calleb gostava de plantar o que via na rua e lhe agradava. 

A casa não era luxuosa, nem muito boa, havia vários problemas na parte elétrica ali, mas não ousava mexer naquelas fiações velhas e que não tinha intimidade nenhuma. Era o que dava pra pagar e ficava muito satisfeita com isso. Abri o cadeado segurando meu cigarro entre os lábios para que não caísse.

Cigarro estava caro, na verdade, tudo que passava de dois dólares eu considerava absurdamente caro.

O habito de fumar chegou assim que comecei a trabalhar na Vegas, precisava de uma válvula de escape, precisava de algo que me tirasse ou que pelo menos tentasse me afastar de todo aquele caos. 

Cigarro havia se tornado meu refugio. 

Que péssimo refugio, uh? Mas era o que estava disponível, e era um bom amigo, mesmo sabendo e ouvindo aqueles discursos clichês de como aquilo iria me matar gradativamente durante os anos.

Enquanto caminhava lentamente pelo caminho de pedras, ouvia risadas vindo de dentro da velha casa. Rolei os olhos, já imaginando os donos das risadas, e o motivo delas. Abri a porta dando de cara com Diana e Javier sentados no sofá com garrafa de cerveja em mãos, logo a atenção foi voltada para onde estava, e eles pararam de rir.

— Bom dia pedacinho do céu — Diana disse sorrindo alegremente com sua voz embolada já demonstrando que daqui a pouco estaria bêbada enquanto Javier me analisava cuidadosamente. — Você se esqueceu de colocar o lixo pra fora antes de sair ontem.

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