20 | georgia roe

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A claridade invadiu o ambiente, mesmo de olhos fechados, podia sentir os raios solares queimando minha pele. Comprimi meu corpo, puxando o edredom macio até o pescoço, apertando as pálpebras. Tudo isso em segundos, choramingando de arrependimento.

Tentei levantar a cabeça para buscar por ajuda, mas parecia pesar mais que uma tonelada. Minhas pálpebras se recusavam a abrir. Minha cabeça parecia ter uma banda de heavy metal tocando com todo seu ser e dedicação. Meu corpo parecia pesar mais do que realmente pesava.

Parecia virose, uma doença mortal, um vírus irredutível, mas era só ressaca.

Das mais fodidas que já tive em minha vida, e olha que de ressaca eu entendo.

O arrependimento começou a golpear meu peito, e praguejei por ter passado dos limites na noite passada. Eu era uma inconsequente sem limites. Não conseguia me recordar de quantos copos, doses, garrafas e shoots, mas com toda certeza, havia ultrapassado todos os limites existenciais no planeta terra.

Nunca mais vou beber.

Nunca mais vou entrar dentro de um litro e fazer dele minha morada.

Nunca mais vou beber até perder os sentidos e não conseguir ouvir meus próprios pensamentos.

A noite passada fora insana! Adorei todos os meros segundos e desfrutei de tudo que aquele lugar me traria. Eu nem me recordava do que era curtir uma noite sem pudor ou até mesmo repreensão. Estava livre como um passarinho. A sensação foi ótima, como se mesmo depois de tudo, minha liberdade e juventude ainda estava ali, na espreita, esperando para ser devidamente desfrutada.

A vida só se opõe para quem está disposto a ultrapassar os limites.

A música, as pessoas, as bebidas. Tudo, tudo me trouxe vida, e me fez refletir no quanto podia esquecer o que já passou. Ali, naquele lugar, e naquela hora, eu cai em mim. Chega de sofrimento, de se preocupar com o que aconteceu.

Estamos aqui, agora.

A porta do quarto foi aberta, e um barulho de algo caindo na cama chamou minha atenção. E me fez, no mesmo segundo, gemer de dor. Aquele misero barulho, aparentemente, uma cartela de comprimido. Me fez gemer de dor, isso mesmo. Gemer de dor.

Eu estava muito ferrada!

Abri os olhos, com certa dificuldade e encarei a figura loira, e bem nervosa em minha frente. Entortei a boca, já buscando em mente o que havia feito noite passada. Já que Hera parecia querer me engolir viva, como no filme Jennifer's Body. A loira colocou as mãos na cintura, sugou o lábio inferior e estendeu o copo de água em minha direção.

Estava me sentindo como uma meliante, diante de um policial grosseiro, que chutaria meu traseiro com força e xingaria de forma ultrajada todos os palavrões existentes.

Busquei novamente em minha mente o que havia feito.

Não roubei lugar nenhum.

Não matei ninguém.

Não dirigi sem carteira... Eu nem tenho uma carteira.

— O que eu fiz? Eu matei alguém? Briguei ontem? — Disparei terminando de engolir o comprimido que estava jogado entre os lençóis.

— Você realmente não se lembra? — Hera levantou sua sobrancelha, estudando a veracidade das minhas perguntas.

— Eu juro que não! — Bati as mãos no lençol. Em minha mente, eu buscava por qualquer coisa que explicasse aquela agonia — O que aconteceu? Só me lembro de quando chegamos, e só.

THE REFUGE ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora