Na imensa lista de erros estava eu. Depois vinha as outras pessoas.
Eu não conseguia entender o motivo de sentir a culpa dilacerar meu peito. Naquele momento, naquele maldito momento não havia mais lagrimas à serem derramadas. Só se encontrava a culpa. Juntando todo meu ser em pura covardia.
Eu havia fechado os olhos para os sinais que o universo havia tentando apressadamente me dar.
Eu havia tapado os ouvidos aos avisos.
Eu não havia lido nenhum misero sinal.
Eu sempre sentia culpa. Acho que ela, como as células que habitavam meu corpo, já fazia parte do meu ser. Me sentia malditamente culpada e sozinha. Ao meu redor parecia haver apenas paredes cobertas por tinta branca. Nada mais que isso. Me sentia traída. Não só por mim mesma, mas pelas pessoas que havia depositado a tão inalcançável confiança.
No final de tudo, juntando todos os pontos. Unindo todas as linhas. A razão disso tudo era culpa minha, também.
Amaldiçoando-me.
No fim de tudo, ela sempre estava ali.
— O que você está fazendo? — Hera me estudava. Olhando-me de cima à baixo. Seu habitual gesto de por as mãos na cintura acompanhavam seu cenho franzido.
— Estou empacotando essas coisas. — Respondo simples. Dedicada em arrumar cada peça de roupa naqueles amontoados de caixas.
O tom havia saído baixo, quase inaudível.
— Você vai embora? — O pavor era notório em sua voz.
A encarei de soslaio, achando seu desespero cômico, até. Dobrei os lábios para frente, dando de ombros sem responder nada.
Minha expressão continuava mortificada.
Meus gestos continuavam robotizados.
Nenhuma palavra mais que o necessário conseguia sair de meus lábios.
E se eu fosse você, Hera. Ia preferir o meu silencio.
Tudo estava sendo devidamente organizado para abandonar o que um dia chamei de lar. E não, não era uma expressão dramática. Era a pura realidade. Sempre pensei em sair daqui um dia, é claro. Amigavelmente dizendo. Mas agora, encarando todo esse lugar que passou a ser tão desconhecido, eu sentia vontade de fugir.
Como sempre.
Fugir era o meu refugio.
Minhas mãos continuavam na tarefa maçante de colocar as roupas devidamente arrumadas dentro das malas e caixas. Tudo já estava organizado para irmos embora, mesmo que a expressão exagerada estivesse sendo dita a apenas três apartamentos de distância daqui. Não tinha todo luxo que aqui comportava, mas estava todo mobiliado.
Simples, elegante e bonito.
Como eu sempre quis.
O casal estava procurando por um comprador há algum tempo, mas não conseguiam vender. Então, em um ato de pura impulsividade, eu lhes disse o quanto pagaria, e a palavra final dos dois fora: Foi ótimo fazer negócio com você. A mobília estava toda lá, eles iriam embora para o Chile. Motivo desconhecido, que não havia aguçado meu interesse, até então.
— Não vou embora. Só vamos nos mudar para o andar de cima. Se quiser vir conosco será bem-vinda, se não quiser, paciência.
Fria como a camada mais gélida que já havia sido estudada.
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THE REFUGE ✔
RomanceGeorgia Roe levava uma vida diferente da maioria das garotas de sua idade. Era difícil. Era caótica. Em meio a perdições e ambientes ruins, havia algo que lhe fazia bem e ela amava acima de tudo, e se chamava Calleb, seu irmão mais novo, por isso, d...