Capítulo Doze

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Eu estava nervosa, era estranho, sentia vontade de rir muito e ao mesmo tempo de chorar, mas me contive.

— Hum, vejamos. Eu creio que está tudo aqui na geladeira. - Eu disse abrindo a geladeira e procurando o ketchup, mostrada e maionese. - Droga, não está tudo aqui. Acho que o ketchup acabou. - Falei pegando apenas a mostarda e a maionese.

— Uh. Tudo bem, eu posso me virar com a mostarda. - Ele disse com aquela sua voz rouca. Olhei para ele e ele estava escorado na pia me olhando.

— Você não gosta de maionese?

— Não, é nojento e horrível. - Falou fazendo uma careta me fazendo rir.

— Concordo, tem um gosto super ruim. - Eu concordei com ele ainda rindo.

— Você também não gosta? - Ele me perguntou surpreso e eu apenas balancei minha cabeça para os lados lhe respondendo um "não". - Hum...

— Mas então, eu acho que tem no armário. - Falei indo em direção ao armário. Droga, não consigo alcançar essa merda, já estava irritada por estar dando vários pulinhos com o objetivo de pegar o ketchup na primeira prateleira do armário. Então resolvo pegar uma cadeira para subir, já tinha até esquecido da presença do Harry ali, até que quando eu estou pegando o banco ele solta uma risada baixa e rouca.

— Qual o teu problema garoto? Poderia me ajudar né?!

— Ah não, está legal aqui vendo você pulando pra alcançar. - Ele disse ainda rindo baixo. - Você realmente é muito baixinha, uma verdadeira tampinha.

Eu travei, estava realmente demorando, ele tinha que me insultar, só estava esperando o momento oportuno para fazer isso. Eu simplesmente abaixei minha cabeça e fui saindo da cozinha, eu poderia responder, sei que devia, porém eu não tinha nenhum estímulo à isso. Quando eu estava saindo da cozinha eu senti o meu braço sendo segurado e puxado.

— Hey você não se sentiu incomodada com isso né? - Ele me olhava esperando alguma reação. - Quer dizer, não foi por mal, saiu, simplesmente saiu. - Ele disse insistindo tentado se explicar.

Mas como assim saiu? Do nada? Será que já está enraizado nele os insultos que serão destinados a mim? Qual o prazer dele de me jogar para baixo? Minha cabeça girava, eram muitas perguntas que surgiam ao mesmo tempo e ele? Estava lá, ainda me segurando e me encarando. E eu? Eu não conseguia formular uma resposta boa o suficiente para aquele momento, na verdade eu não conseguia pensar em nenhuma resposta.

— AINDA VÃO DEMORAR MUITO AI? DAQUI A POUCO A PIZZA ACABA! - O Gustavo gritou da sala.

— Acho melhor irmos logo. - Falei me soltando da mão dele e pegando a mostarda e a maionese da mesa. - Se puder pegar o ketchup ali ficarei muito agradecida, porque como você já percebeu, a tampinha aqui não consegue alcançar. - Disse por fim saindo da cozinha e perceber que estava sendo seguida por ele já com o ketchup nas mãos.

— Nossa achei que não iam mais chegar. Ei garoto, o que estava fazendo com a minha filha na cozinha em? - O meu pai falou dando um olhar mortal para o Harry que ficou calado.

— An... Nada... É que... Hum... - Ele não conseguia terminar uma frase se quer, será que a graça dos insultos se perdeu por aí?

— Não aconteceu nada pai, eu apenas não conseguia pegar o ketchup no armário e o Harry antes de me ajudar estava rindo da minha dificuldade. Agora se me dão licença eu vou me retirar.

— Mas e a sua pizza, não vai comer? - Meu pai disse me olhando estranho. - Você nunca dispensou pizza Sophie. - Ele disse arqueando as sombracelhas.

— Se o problema todo é esse eu levo meus pedaços. - Peguei um prato e coloquei dois pedaços de pizza e sair da sala indo em direção ao balanço que tinha na varanda da minha casa.

Sentei no balanço e comecei a me balançar levemente e pensando no que tinha acabado de ocorrer. Eu não aguento mais tudo isso, eu achava que era forte por aguentar, mas agora vejo que eu não sou, todas as minhas forças e paciência foram embora, eu só queria chorar, dormir, ficar no meu canto, viver a minha vida, na minha, sem ninguém que jogasse os meus defeitos na minha cara, ou que usassem as minhas qualidades como se fossem algo ruim. Eu coloquei meu celular para tocar "Quando Eu Chorar" da Bruna Karla, eu precisava daquela música nesse momento. Olhei para o lado e vi o prato com a pizza, o peguei e fiquei brincando com a pizza, eu não queria comer, não estava afim, mas também não queria ter que ouvir meu pai e meu irmão falando, então tirei um pedaço e mastigue lentamente, pela primeira vez a pizza tinha um gosto ruim, talvez eu realmente não estivesse com vontade de comer nada, logo coloquei o prato em uma cadeira que tinha ali e me endireitei no balanço e coloquei minhas pernas para cima colocando o meu rosto entre os meu joelhos enquanto de fundo tocava a minha pasta de músicas Gospel.

Acabei pegando no sono sem perceber, acordei ao ouvir o barulho da porta sendo aberta e umas vozes que logo reconheci ser do meu irmão e do Harry. Levantei minha cabeça para olha-los e ambos estavam olhando para mim, tirei a música do meu celular e baixei minha cabeça novamente. Eles se despediram e eu até ouvir um "Tchau Sophie" vindo do Harry, mas eu nem me movi. Sentir um peso no outro lado do balança e percebi ser o Gustavo que sentava ali.

— Então, vai me dizer o que rolou lá na cozinha ou vai ficar aí se remoendo? - Ele puxou uma conversa que eu não queria.

— Remoendo? - Soltei uma risada baixa e debochada. - Remoendo Gustavo? Caralho, acho que ninguém realmente vai sentir o que eu estou sentido até passarem pelo que estou passando, eu não aguento mais, eu não aguento ser insultada dentro da minha própria casa, eu não mereço tudo isso. - Eu já chorava horrores. - Eu realmente cansei, fui até onde podia, mas eu não consigo mais, eu juro que eu tentei, mas eu desisto, eu não quero mais tentar, eu não quero mais me fingir de forte, eu não quero mais colocar a droga de um sorriso no rosto e sair por aí esbanjando uma felicidade e bem estar que eu não tenho. Será que é tão difícil perceberem isso? Será que não conseguem perceber que eu cheguei no meu limite? Eu tentei, realmente tentei fazer o meu melhor, tentar não me afetar, tentar relevar cada insulto, cada provocação, e se eu achei que eu conseguiria continuar relevando tudo isso, guardando para mim, sem deixar transparecer, mas eu já vi que não estou, e se eu soubesse que seria assim eu já tinha dado um fim no meu problema a muito tempo. - Eu falei tudo, descarreguei tudo que eu estava sentindo por todo esse momento. Deixei o Gustavo lá e fui para o meu quarto, tranquei a porta e escorreguei no fundo dela, coloquei as mãos no rosto e chorei, chorei a fim de tirar de mim toda as coisas ruins que se instalaram dentro de mim, mas mesmo assim não foi o suficiente. Eu não tinha mais lágrimas para chorar, e mesmo assim a dor se fazia presente, e então eu fui atrás de outra maneira de diminuir esta dor.

                            Notas Finais

* Capítulo revisado - mas possa ser que haja uma outra revisão futuramente ;) -
* Comentem o que acharam, e se gostaram dêem estrelinha.
* Lembrem-se que opiniões/críticas (construtivas) são importantes e serão sempre bem vindas.

                 *Boa leitura unicórnios ❤*

A Nerd da Sala ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora