Extracurricular

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Capitulo 2 – Extracurricular

Entrar despercebida nos lugares é muito mais fácil quando você está em uma novela e certamente eles não me deixaram ler o que estava escrito no laudo do legista, mas isso não quis dizer que eu não podia fingir que estava perdida para ouvir as conversas alheias.

Os policiais tinham visto algumas pessoas agindo de formas estranhas, inclusive pessoas baleadas não sangrarem. Isso, até para mim, passava do que era real.

Minha mãe foi me buscar, eu disse que entrei em uma rua errada e não consegui chegar em casa, ela não disse nada, só me levou embora.

- Eu sei que o papai vai ser enterrado amanhã, eu só queria me despedir. – Informei ao descer do carro.

- Não acho que seja uma boa idéia. Se você olhar como ele ficou... - se interrompeu – Realmente não é uma boa idéia.

- Por favor, você não pode me negar isso. – Ela abriu a porta e fez sinal para eu entrar, entrei – Eu prometo que depois você pode me levar para a casa da vovó e não fujo mais, mas eu tenho direito de ver meu pai pela última vez.

- Eu deixo você ir ao enterro, não no velório. – Deixou as chaves em cima da mesa de centro e foi para a cozinha pegar alguma bebida alcoólica.

- Mas mãe... - Tentei reclamar, mas ela me interrompeu.

- Sem mas e por via das dúvidas vou deixar alguém cuidando de você para você não fugir de novo. – Informou enquanto enchia o copo até a boca de whisky.

- Da outra vez não foi um problema fugir de alguém. – Resmunguei baixo para que ela não ouvisse.

- O que foi? – Pegou uma cadeira e se sentou, como se fosse passar a noite toda ali, então eu me lembrei do que a professora tinha dito, sobre minha mãe também estar passando por um momento difícil. Engoli minha frustração e fui até ela.

- Tudo bem, mãe. Vai ficar tudo bem. – Coloquei a cabeça dela no meu ombro e a abracei. Ela chorou, por um bom tempo. Eu chorei também. Ela estava mal e eu não gostava de vê-la assim. Tirei o copo da mão dela e joguei na pia o conteúdo. Ajudei ela se arrumar para dormir e esperei ela pegar no sono. O dia seguinte ia ser pior.

No dia seguinte, Tegan me ligou perguntando se eu estava bem, eu não estava, mas disse que sim. No velório, não me aproximei do caixão, mas as pessoas que chegaram perto pareciam impressionadas e faziam comentários meio assustadores. Eu estava muito curiosa e preocupada se ele tinha sofrido. Tentei não deixar minha mãe mais nervosa não indo até lá, fiquei no fundo da igreja, onde ela podia me ver. Quando começou o enterro, minha professora chegou e ficou comigo até o final. Ainda não conseguia realmente acreditar que ali era meu pai, não fazia sentido, mas eu ia descobrir o que tinha acontecido, mesmo que demorasse alguns anos.

- Obrigada por vir, professora, nenhum dos meus amigos quiseram vir. Disseram que não "gostam" de enterros. Quem gosta? – Agradeci enquanto andava até o portão do cemitério.

- Achei que você fosse precisar de alguém. – Sorriu e me abraçou – Espero que você fique bem. As aulas vão demorar a voltar, ao que se parece. Talvez eu faça uma viagem, mas como você vai ficar com sua avó, não vai precisar de mim.

- Se você quiser me fazer uma visita, durante sua viagem... – Peguei um papel e anotei o endereço e entreguei a ela.

- Veremos. – Deu um beijo na minha testa e quase foi embora. – Você é pode mais do que essa cidade pode te oferecer, fico feliz que você vá para um lugar melhor.

Crônicas de Ghost RiverOnde histórias criam vida. Descubra agora