Inimigos

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Capítulo 3 - Inimigos

Entrei na academia de polícia com 21 anos, como previa a lei vigente no estado onde eu morava. Tegan, minha mãe e minha avó fizeram uma festa para comemorar. Eu as via poucas vezes ao mês.

O primeiro dia foi o mais estranho, afinal ser policial mulher em uma profissão predominantemente masculina, claro que iam surgir piadinhas. Nossa sala tinha 22 homens e 2 mulheres, a outra mulher era casada e inclusive tinha filho, ninguém nunca chegou a fazer qualquer comentário torto a ela em respeito ao marido, claro, se fosse por causa ela o respeito não existiria.

Alguns tipos de comportamentos não são tolerados para ser um policial, principalmente quando você está na academia ou no começo da carreira. Às vezes a culpa cai sobre o lado errado, depende dos seus contatos.

- Ei, ruiva. Por que a pressa para ir embora? – Perguntou um rapaz mais ou menos da minha idade, mas talvez uns 15 ou 20cm maior que eu, no corredor em frente a nossa sala. – A gente vai comer umas pizzas no Intriga's bar. Vamos com a gente! – Ele estava invadindo meu espaço pessoal, eu conseguia sentir o ar quente saindo de suas narinas.

- Obrigada, mas minha avó está com o carro parado aqui na porta me esperando para jantar. – Eu sabia que se eu falasse "mãe" ele talvez fosse até o carro falar com ela, então falei "avó", porém não existia qualquer familiar do lado de fora.

- A gente faz questão que você vá. – Disse outro rapaz, esse da minha altura, cabelos bem cortados, loiro escuro. O tom desse não era convidativo, era intimidador. Os 7 faziam um meio círculo à minha volta. Eles não tinham que invadir meu espaço pessoal, isso me deixava nervosa.

- Qual parte do "eu vou jantar com a minha avó que está me esperando do lado de fora" vocês não entenderam? – Respondi um pouco mais alterada, eles perceberam certo tremor na minha voz e se aproveitaram ainda mais.

- Acho que ela vai entender se você não for dessa vez. – Todos sorriram ao mesmo tempo, como se um plano estivesse posto em prática ou estavam se auto-elogiando pela resposta.

- Pense de novo então. – Virei as costas na esperança de conseguir sair daquele semi-circulo, sem danos maiores. Minhas mãos suavam. A agonia ia até minha garganta e por lá ficava por minutos.

- Ela tem a língua afiada, que gracinha. – Comentou, o rapaz mais alto, irônico, enquanto puxou meu braço esquerdo com força. Engoli seco.

- Olha, nós somos um grupo e por um ano inteiro teremos que nos suportar, se no primeiro dia você já vai me obrigar fazer corpo delito pelo roxo que você acabou de deixar no meu braço, com certeza esse não vai ser um ano agradável e eu não vou desistir da minha carreira por causa de um babaca ou de vários só porque não aceitam "não" como resposta, então, por favor, me dêem espaço para sair. – Disse, tentando parecer gentil, porém num fôlego só, com o resto de coragem que ainda não tinha sido substituído pelo nervoso. Eles me encaravam com raiva e ironia, como se uma garota não pudesse dizer o que eu disse. Por um momento achei que as coisas iam piorar.

Meu braço foi solto com dificuldade e ele realmente ficou marcado por dias. Abriram passagem e eu andei normalmente até o banheiro, onde eu comecei a tremer de alívio, recuperando meu ritmo de respiração. Pedi um carro pelo celular e só sai do banheiro quando ele chegou. Fiquei olhando para trás, achando que algum deles estivesse me seguindo, mas não. Pensei que se eu chegasse no estado que eu estava na casa da minha avó ela ficaria muito preocupada, então fui para a casa da Tegan.

- Não aconteceu nada, foi mais pressão psicológica, exceto... - Mostrei meu braço- Não sei se faço BO ou se deixo como está. Vou ter que agüentar esses idiotas o ano inteiro, não queria arrumar confusão logo no começo.

Crônicas de Ghost RiverOnde histórias criam vida. Descubra agora