Estávamos no ano de 2003 e algumas coisas começaram a ficar estranhas na cidade. Meus pais começaram embalar algumas coisas e pediram que eu fizesse o mesmo. Algumas pessoas pareciam perturbadas, dizendo que viram o avô andando pela rua. O índice de homicídio havia dobrado. As aulas foram interrompidas. Na televisão ninguém dava nenhuma informação oficial sobre o que estava acontecendo.
Certo dia meu pai foi trabalhar e não voltou mais. Quando escureceu dois policiais bateram à porta e minha mãe começou a chorar. No dia seguinte ela me obrigou entrar no carro, pois eu iria morar com minha avó, mãe do meu pai. No caminho minha professora acenou, eu abri o vidro enquanto minha mãe estacionava.
- Eu sinto muito sobre seu pai, Nicole. – Ela estava caminhando arrastando duas malas de viagem e com o rosto inchado.
- O que aconteceu com ele? – Olhei para minha mãe esperando uma resposta.
Ela não respondeu, ligou o carro novamente, enquanto a professora se desculpava por ter falado o que não devia.
Era impossível entender exatamente o que estava acontecendo. Estávamos quase pegando estrada quando vimos um dos meus colegas de classe deitado no chão desacordado, sangrando em uma das mãos, sendo arrastado por um homem. Minha mãe percebeu como eu estava assustada e segurou minha mão. Não sei se ajudou, mas talvez eu tenha parado de tremer por alguns segundos.
Assim que pegamos estrada ela me explicou que não era uma situação temporária, a gente ia se mudar de vez para cidade grande. Não tive tempo de me despedir dos meus amigos.
Eu estava com medo de perguntar alguma coisa para minha mãe, ela parecia tão assustada, mas não era um direito meu saber o que aconteceu com meu pai? Até minha professora sabia.
- Mamãe? – Tentei não encará-la, continuei olhando pelo vidro da frente.
- A gente pode conversar quando chegarmos? – Fiquei em silêncio concordando.
Claro que ela ia adiar o assunto. Talvez eu nunca ficasse sabendo diretamente por ela.
Quando chegamos, vovó me recebeu na porta com um abraço, mas com o sorriso de sempre, ela sabia de algo. Logo após entrar e sair para pegar a bagagem, percebi que só as minhas malas estavam no porta-malas. Minha avó seria minha nova responsável legal, minha mãe estava me deixando, eu não sabia o que tinha acontecido com meu pai ou com minha cidade. Ninguém queria me contar e nos jornais parecia que nada acontecia por lá. Misteriosamente 15 dias depois li no jornal que a cidade inteira havia sido destruída por objetos espaciais, algo como um meteoro.
Enquanto mamãe achava que eu estava desfazendo as malas, ela contou para minha avó que o velório do meu pai seria em 2 dias e ela precisava cuidar de mim, para que eu não descobrisse. Jantamos num silêncio sepulcral, mamãe e eu nos despedimos, fingi que fui para meu quarto e enquanto ela dava algumas orientações para minha vó, eu entrei no carro escondida.
Esperei ela entrar em casa para descer. Obviamente minha avó já estava desesperada atrás de mim, ligando sem parar. Corri 8 quadras até chegar à casa da minha professora, imaginei que por ela não ser próxima da minha família minha mãe demoraria em me procurar lá, caso imaginasse que eu estava no carro com ela.
- Sra. Clanton. Desculpa chegar essa hora, ainda mais sem avisar. – Fiz uma pausa para tentar recuperar o fôlego, ela estava de pijama, com apenas uma fresta da porta aberta. – Minha mãe tentou me deixar na casa da minha avó, mas eu fugi. Preciso saber o que aconteceu com meu pai, a senhora pode me contar? – Coloquei as duas mães sobre os joelhos, tentando descansar, enquanto ela tomava uma decisão.
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Crônicas de Ghost River
RomanceEssa é uma fanfic Wayhaught, do ponto de vista da Nicole Haught. Traz um pouco do passado dela e motivos que ela quis se tornar policial. Espero que gostem e comentem. Já tenho alguns capítulos prontos, então não terão que esperar mui...