Capítulo 1

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Inglaterra, 20 de março de 2017


O som dos saltos da bota de Freya ecoavam, ao entrar em contato com o piso de cerâmica, por todo o corredor. O silêncio ali era absoluto, e não havia uma alma viva no longo caminho, a não ser a garota e seus sapatos barulhentos.

Freya andava distraidamente por entre os corredores enquanto balbuciava alguns trechos de uma música qualquer. Não tinha pressa, apesar de estar atrasada mais uma vez. Não era muito do seu feitio chegar na hora, e isso irritava a maioria dos homens ali, e ela sentia uma pontinha de satisfação toda vez que acontecia.

Caminhou o mais devagar que era capaz. Ainda eram 09:30 da manhã, e já estava ali, a caminho de uma reunião. Nem havia tomado café, acordara confusa e assustada, com o toque estridente de seu celular. Quase não o atendeu, pensou seriamente em fazer a egípcia e fingir confusão ao ser questionada do porquê não havia atendido, mas sabia que não podia fazer isso. Poxa, só queria dormir até às onze horas hoje. Era pedir muito? Só podiam ser os cosmos. Eles sabiam que ela não era uma pessoa diurna, deviam fazer esse tipo de coisa exatamente para sacanea-la.

Mas o ponto era que, ao atender o telefone, soube que todos os planos que tinha feito sobre ficar dormindo a manhã toda tinham ido por água abaixo.

"O toque do celular era alto e incomodo, e Freya, estirada na cama, só conseguia pensar em alguma forma de evaporar viável para um ser humano. Só podia ser brincadeira, só tinha que ir para a sede na parte da tarde, tinha feito planos lindos sobre dormir até não poder mais. Então quem era o infeliz que a atormentava a essa hora? Pelo o que ela lembrava, não era lá cheia de amigos, e os que tinha sabiam que ligar para Freya Cole pela amanhã era arriscado demais.
Relutante, a garota esticou o braço até alcançar o aparelho, e suspirando fundo deslizou seu dedo sobre a tela, o levando até a orelha em seguida.

- Fala. - Freya disse assim que atendeu, sem nem ao menos se prestar a ver o nome de quem ligara.

- Bom dia, Freya. Desculpe por ligar agora, mas Charlie quer falar com você - a voz do outro não se identificou, mas ela sabia quem era.

- O que ele quer, Fred? É tão importante? Tenho que ir aí a tarde, não pode esperar? - ela perguntou, mesmo sabendo a resposta.

- Eu não ligaria se não fosse importante, Freya. Esteja aqui em uma hora - mesmo que quisesse, e acredite, ela queria muito, não teve tempo de retribuir a grosseria, pois no instante seguinte pode ouvir o "tum tum tum" do celular, indicando que a ligação havia sido encerrada. Bem em sua cara. Cretino.

- Tchau para você também, querido Fred- ela disse sozinha, já jogando o celular de lado e levantando-se para se arrumar, já que não tinha escolha. Freya sabia que Fred não ia muito com sua cara, por isso seu tratamento ríspido não era surpresa para ela. Só não sabia o porquê da antipatia, mas também não fazia questão de saber. Era recíproco."

Ao chegar finalmente até a sala de reuniões, só então Freya percebeu que o assunto não seria tão simples, não envolvia só a ela. Caso contrário, Charlie a mandaria direto para seu escritório, onde trataria sobre o que quer que fosse, em particular. Sentia que viriam problemas por aí.

Respirando fundo, ela girou a maçaneta, adentrando o local.
Assim que colocou os pés no recinto, a mulher sentiu olhar de todos os homens ali caindo sobre ela. Era a penitência de ser a única pessoa do sexo feminino entre centenas de homens a trabalhar com os Walkers.

Maldita regra machista.
Freya mesmo só estava ali por simplesmente ter sido deixada em uma sala qualquer, ali na sede, ainda recém nascida.

Charlie havia lhe dito que a encontraram morrendo de fome, e congelando de frio. E desde então, foi criada ali dentro mesmo, sendo cuidada por Johanna, sua babá. Johanna era o mais próximo de uma figura materna que Freya tinha.

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