Prólogo

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Paris, 25 de março de 1993

Os gritos de Eugènie Delperiér ecoavam por todo o pequeno e escuro cômodo. A situação desesperadora agravava ainda mais as dores do parto, e seu pequeno corpo tremia a cada contração. Planejara por meses aquele dia, e não podia acreditar que tudo o que sonhará estava escorrendo por entre seus dedos.

-Você precisa fazer força, Eugènie. Senão a criança não sobreviverá- a voz de Marie a trouxera de volta a realidade detrás do marasmo de dor que lhe cercará.

-E-eu não consigo- disse entrecortada mente- Ela não pode nascer agora, Ma. Eles vão levá-la de mim. Vão tirar minha filha de mim- Eugènie mal conseguia falar. Suas falas eram uma mistura de gemidos, e fungados decorridos das muitas lágrimas que escorriam por seu rosto.

-Você precisa, minha menina. Ela morrerá se não nascer agora- a empregada disse segurando a mão da mulher que tremia violentamente sobre a cama.

-Faça força, Eugènie. - a parteira exigiu, aos pés da cama.

-N-não p-posso. - a mulher sussurrou de olhos fechados. A situação era desesperadora demais para a pobre Eugènie. Sua gravidez não fora nem um pouco tranquila. Eram tempos difíceis para eles. Qualquer passo era premeditado, qualquer decisão era um risco. Estavam em guerra, e sabiam disso. Passara nove meses fugindo. Os nove meses que deveriam ser os mais lindos de sua vida, foram os mais temidos. Quase foi morta por duas vezes. Mas teve força.
Teve força por Jean, por seu pai, e principalmente, por sua pequena Désirré. Sua menina, ainda tão frágil, por nascer. Porém, agora já não tinha mais força pra lutar.

Não era para ser daquele jeito. Ia dar a luz, ter sua bebê, mas não era para ser daquela forma, sendo atacados. Não era para estar ali, naquele porão, gritando de dor, enquanto seu marido e pai estavam lá em cima junto com os outros, lutando por suas vidas. Não era o barulho de tiros que deviriam ser ouvidos em um momento como aquele. Seus torpor, no entanto, fora tirado por uma voz tão conhecida, a seu lado.

-Você pode sim, meu amor. Vamos, faça força. Nossa filha precisa de você- imediatamente Eugènie abriu os olhos, e suspirou chorosa ao constatar quem era o dono da voz. Era Jean. Ele estava ali a seu lado- Eu estou com você. Com vocês, e sempre vou estar. Agora você precisa fazer força- a voz de Jean era aparentemente determinada, porém só ele sabia o quão longe teve de procurar coragem para falar tudo aquilo.

Ver sua mulher ali, naquela cama, tão frágil e entregue, fez com quem uma onda de medo se alastra-se por todo seu corpo. Estava tentando se manter firme, por ela, no entanto suas esperanças estavam se findando.

O barulho de um estouro no andar de cima o assustou, fazendo com que seu corpo salta-se levemente da cama onde estava sentado. Sabia que Roger estava fazendo o impossível para atrasá-los, porém o tempo deles ficava cada vez mais escasso.

Olhou suplicante para Eugènie, sentindo ser dominado pelo medo. A mulher a sua frente balançou a cabeça, e sorriu triste para ele.

-Ok. -disse ela num fio de voz, e apertando a mão de Jean, se pôs a fazer força.

No andar de cima, Roger e os outros caras, tentavam a todo custo deter o batalhão que invadira a casa.

Suspirando pesadamente, desencostou seu tronco da pilastra na qual se apoiava, e virou seu rosto para observar melhor. Precisava chegar até seu escritório, logo a sua frente, mas para isso teria que matar os homens que estavam agora no meio do corredor procurando por ele.

Respirando fundo, e fazendo um pequeno cálculo mental, Roger girou seu corpo e saiu detrás da parede, projetando um chute na barriga do homem que vinha logo atrás, que com a dor e o susto cambaleou alguns passos na direção contrária a qual estava indo. Os gritos e sons de tiros eram ensurdecedores, o que só aumentava ainda mais o ódio de Roger. Sem esperar por uma reação, atirou, acertando em cheio seu coração.

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