18. Sentença em duas palavras

111 3 1
                                    


Crânio acordou às oito da manhã. O braço afetava muito as suas ações. Mesmo depois do tratamento quase militar feito por Morais, ele passará rapidamente no hospital. Quatro semanas longe do laboratório. Repouso e exercício leve para analisar se não haveria rompimentos.

Tomou um banho, fez o seu ritual tipicamente matutino e abriu um velho caderno. Fez uma equação rápida. O gênio dos Karas entendia todas as teorias do mundo. Uma equação contém em geral uma ou várias incógnitas, muitas vezes designadas por x, y, z etc. Diz-se que os valores dessas incógnitas, que garantem a igualdade efetiva dos dois membros da equação, satisfazem a equação ou constituem sua solução.

Assim que saiu de casa, Crânio foi recebido com uma temperatura fria. São Paulo estava fria naquela manhã. Seu braço estava imobilizado. Vestia calças jeans, camisa de botão e um cardigã azul. Nos pés, um velho tênis. Foi, comedido e fazendo o mínimo de esforço possível até o mercado no fim de sua rua. Comprou canetas, queijo, ovos, pão, bisnagas, manteiga, maçã verde, um pacote gigante de papéis higiênicos e uma lata de extrato de tomate. Pagou em dinheiro. Um garoto jovem se aproxima de Crânio e diz que ele o ajudaria a levar as compras, devido sua condição. Crânio nota as roupas do garoto. Ele está em treinamento. Deve estar se esforçando para assegurar a vaga no emprego. O gênio dos Karas aceitou com um sorriso.

Ao voltar para a rua, os eventos do dia anterior retornaram quase como um flashback. Lembrou-se do bandido, do tiro... Do rosto de Magrí. Mas por razões que não sabia dizer, uma parte de seu ser gostaria de evitar pensar naquela garota que fazia aquele homem feito voltar a ser um adolescente.

Foi decidido que os sete amigos iriam se encontrar para um jantar especial antes de abrirem o laudo de Andrade. O jantar seria às 20h de hoje. Peggy escolheu um local fino. Faziam questão. Crânio sempre teve uma vida confortável, mas a riqueza enorme de alguns de seus amigos o fazia às vezes se sentir menor. Bem, teria que evitar pensar em Magri até que se encontrassem novamente naquela noite...

—Crânio? - O rapaz foi surpreendido por uma voz familiar. Olhou para trás e pode observar o rosto bonito de Maria. -Meu deus, o que aconteceu?

Crânio parecia muito inexpressivo. Olhou para o próprio braço imobilizado e sorriu forçadamente.

Um acidente. Um mês longe do laboratório.

Maria sorriu.

—Desculpe vir sem avisar, mas... Achei estranho. Você faltar dois dias seguidos. Vim ver como estava...

Ela observou a expressão depressiva no rosto daquele rapaz.

—Não parece muito feliz em me ver...

Crânio voltou a si.

—Perdão... Eu... Tenho tido vários problemas essa semana... Er... Quer entrar? Tomar um café da manhã?

Crânio nunca planejou tornar-se um amigo, amante... Ou qualquer coisa de Maria. Ela era amável, bonita. Um corpo tão lindo quanto o de Magrí (obviamente, não tão atlético quanto o de uma esportista como era a colega de longa data). Não era certo mentir para ela, ou para si mesmo. Crânio entendia muito bem a ciência das coisas, mas desconhecia a ciência dos sentimentos.

Minhas anotações têm ajudado, então?

—Você quer mesmo saber? - A caneca de café que Maria segurava tinha os escritos "Para o dono de uma mente (loucamente) brilhante". Presente de Chumbinho.

Crânio meneou a cabeça com um sorriso.

—Eu mesma tomei a frente. Fiz tudo o que era possível. Estamos avançando.

Os Karas | Cigarros & Moscow Mule.Onde histórias criam vida. Descubra agora