26. Cigarros e Moscow Mule

229 1 0
                                    



Aquela quarta-feira havia sido pobre em acontecimentos e Nicolas pôde dispor de algumas horas de sua noite para escutar com atenção a fita gravada por Crânio. Escutou atentamente três vezes tudo o que vinha da voz de Vivian. Anotou a tudo e pode concluir algumas coisas.

Levantou-se e refletiu. Estava abalado com a descoberta do passado de Andrade, mas não surpreso. Simplesmente sabia lidar com aquilo. As peças do quebra cabeça finalmente haviam se colocado e a imagem estava por fim...

...incompleta. A pergunta principal ainda precisava ser respondida. Quem havia envenenado Andrade e por que?

Guardou o gravador na gaveta, encaixou a chave no trinco e trancou ali o objeto. Seguiu para o banheiro. Tomou uma rápida ducha e foi dormir.

•|•

Com expressão séria, Magri desligou a tevê depois de assistir ao noticiário da madrugada. Não dormia uma noite inteira desde o retorno da rápida viagem ao México. Olhou no calendário um pouco distante na escrivaninha localizada no canto oposto da sala. Constatou por fim que ainda tinha mais nove dias de férias. Estaria retornando para sua rotina logo menos, deixando para trás esse caso e o passado de Andrade.

Levantou-se do sofá e seguiu para o quarto. Ao observar o telefone sem fio na base, ela precisou conter o impulso de telefonar para Miguel. Ela finalmente havia terminado suas obrigações para com a venda da casa de Andrade. Queria um abraço dele. Pensar em Miguel a fazia logo lembrar-se de Sofia Malpraga.

Foi até a cozinha e se serviu uma dose de café com leite. Duas colheres pequenas de açúcar. Sentou-se diante da mesa e contemplou o silêncio. Estar consciente perante aquilo tudo era perturbador. De súbito, sentiu-se extremamente grata por ser rodeada de homens de bom coração. Seu pai. Seus Karas... E o Andrade que ela conheceu e viveu aventuras.

Sofia Malpraga havia sofrido muito. Magri sentiu-se inspirada na força que aquela mulher possuía. Sentia-se pronta para começar a viver em prol daquilo que ela queria. Restava que ela deixasse o orgulho de lado, e se entregasse de peito aberto...

Pegou o telefone e discou algum número.

•|•

Crânio sentou-se à mesa da cozinha e refletiu sobre a vida. Na manhã seguinte, estava convencido a passar rapidamente no laboratório. Um telefonema o pegou de surpresa.

—Alô? - Crânio esperou com certa ansiedade a resposta do outro lado da linha. Ficou extremamente surpreso com quem era a voz do outro lado. -

—Crânio, sou eu... - Dizia a voz -... Calú.

—Calú... Qual o problema?

—Nenhum... Digo quase nenhum. Está tarde eu sei... Podemos tomar café amanhã de manhã? - Essa era uma das formas de Calú pedir algumas desculpas. -

Crânio não pode evitar um sorriso.

—... Claro, Kara. Não se atrase. Você criou o péssimo hábito de se atrasar.

—E você criou o péssimo hábito de me lembrar disso constantemente. - Calú disse do outro lado - Boa noite.

—Até amanhã.

Crânio voltou para a mesa. Sua cabeça estava de certa forma indecisa sobre o que gostaria de fazer. Sentia uma enorme vontade de ir até Maria e conversar a noite toda... Suspirou fundo. Olhou o braço que havia sido ferido. Mais alguns dias de recuperação. Seria rápido. A vida cobrava que ele voltasse a suas obrigações pessoais, mas o gênio dos Karas, mais do que qualquer pessoa, odiaria voltar a sua rotina com uma peça faltando no quebra-cabeça.

Os Karas | Cigarros & Moscow Mule.Onde histórias criam vida. Descubra agora