17. Cicatrizes fantasmas

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Morais Santos, ex-detetive, cinquenta e nove anos, abaixou a mão da arma e contemplou a confusão no rosto daqueles cinco jovens adultos. Encarou Chumbinho com olhos de reprovação.

—Você. Eu sabia que traria problemas, pivete.

Chumbinho não disse nada. O velho de cabelos brancos caminhou em direção ao grupo. Calú deu um passo à frente.

Não se aproxime. - Calú se botou entre Crânio e o velho –

Morais empurra Calú com má educação e vai até Crânio. Calú pensou em socar o velho, porém teve o braço travado por Miguel.

O dono dos fios grisalhos observou Crânio. Olhou nos olhos do garoto e suspirou.

—Não vai morrer. Já vi pessoas em estados piores. Vamos levá-lo para minha casa.

Ele observa o grupo em silêncio. Suspira.

—Estou falando com vocês, seus m*rdas. Vamos logo.

Calú tremeu de raiva. Morais caminhou em direção até Nicolas. Observa o bandido gordo que ainda estava rendido.

—Escória. - Ele diz –

Miguel se aproxima de Magri.

—Ele é um radical. Já entendi.

—O que vamos fazer?

—Ele parece saber quem nós somos... Vamos esperar.

O susto foi grande. O velho atira no joelho do gordo bandido que cai em lágrimas. Ele não parecia nem um pouco afetado pelo bandido.

—Esses capangas do Q.I me dão dor de cabeça. Eu tenho vontade de entrar na penitenciária e transformar ele em uma peneira.

Nicolas o observa.

Ele suspira e o encara.

—Vamos logo. Eu quero almoçar ainda.

•|•

A casa de Morais passou a impressão de um lugar estranho e desconhecido quando Nicolas entrou pela primeira vez naquele lugar. Ajudava Miguel e Calú a trazerem Crânio para dentro.

Morais os encarou. Sumiu da vista deles por meio minuto até retornar com uma caixa de primeiro socorros. Ele a atira no colo de Miguel.

—Ajude seu amigo de cabelo falso.

Os últimos sete anos tinham sido marcados por uma inquietação em sua aposentadoria. Problemas do lado de fora. Em anos em silêncio, milhares de problemas estouraram no país como se um vulcão que até então era desconhecido, despertasse de um sono de mais de seis séculos.

Como você nos conhece?— Magri deu um passo à frente.

Morais suspirou. Vai até Crânio, diz alguma coisa pra ele e começa a fechar o buraco. Crânio urra de dor. Ele começa a falar.

—Sou ex-detetive. Conheci Andrade na época de treino.

Ainda não respondeu a pergunta. - Magri foi fria -

Ele não se importou.

—Não gosto de pensar naqueles anos do começo da minha vida como detetive. Fazem-me sentir uma fragilidade e um sentimento de raiva inacreditável. Eu me lembro dele... Cabeludo, magro, mas dono de um charme que, sinceramente... era insultante.

Os Karas estão em silêncio.

—Ah... Andrade. Meu bom e velho amigo. Eu evito pensar nele, também. Nossa diferença nos nossos dias atuais deve ser uma brincadeira do destino.

Os Karas | Cigarros & Moscow Mule.Onde histórias criam vida. Descubra agora