19. Abutres.

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Quando Calú e Peggy assistiram ao noticiário eles não sabiam muito bem como reagir. A edição da madrugada do jornal televisivo tinha durado quarenta e seis minutos (quinze a mais do que normalmente possuíam) e comentava a bombástica revelação do caso Andrade. A informação havia sido passada por um recruta mais empolgado e de dentro da delegacia.

"O cenário era este: O nacionalmente famoso detetive Andrade havia sido morto. Um dos homens que o falecido havia capturado o tão famoso quanto, Dr. Q.I conseguira o seu laudo e o escondeu, antes de morrer em uma rebelião na penitenciária em que estava preso há quase cinco anos. Porém, o seu assistente, um detetive chamado Nicolas Rodrigues, entrará "sozinho" na periferia e localizou o laudo roubado que revelava que o bom detetive havia morrido envenenado".

Calú comentou com Peggy o quão irônico era isso. Era daquela forma que a mídia via Andrade. O detetive que resolvia tudo "sozinho". Peggy lembrou-se dos anos em que conheceu Calú.

Alguns apresentadores e lideres das equipes redatoriais dos jornais deram suas visões polêmicas sobre o caso.

"Andrade sempre esteve envolvido em casos enormes e de proporções muitas vezes cinematográficas. O quão irônico é então, se é que possa ser ironizado, o fato de até mesmo o caso de sua morte, está se tornando um caso tão grande quanto aqueles que o tornaram famoso".

O furo dado pela TV eclipsou as rádios de notícias e jornais impressos. Os jornais do dia seguinte precisaram correr para publicar o mínimo possível. "Caso da morte de famoso detetive é rondada de crimes graves". A notícia desencadeou uma atividade febril nas redações e estúdios de notícias do país. Quando os jornais do segundo dia após o laudo ser encontrado e vazado chegaram às ruas, uma investigação sem precedentes havia se iniciado na mídia.

Ninguém arredava o pé da delegacia, do estúdio, ou da frente da TV. A mídia chamava então a responsabilidade para Nicolas Rodrigues. O detetive que "sozinho" descobrirá a tudo até então, e, que por opiniões públicas, era aquele quem deveria assumir as investigações do caso.

A estranha ausência de Nicolas, porém, se veio pelo pedido de um cara conhecido. Um Kara conhecido. Miguel não precisou insistir tanto quanto da vez que se ocorreu os eventos da Droga da Obediência. Nicolas era diferente de Andrade. Mas, até mesmo o detetive dessa vez se afastou. A mídia do país o procurava. Seria uma questão de tempo até o Jovem Detetive ser obrigado a dar carne para os abutres da mídia.

E esse dia chegou. Naquela noite, ao vivo no jornal mais famoso da atualidade, Nicolas falaria, enfim.

Calú comentou com os outros Karas o tanto que a mídia estava desesperada por informações. Convidaram Nicolas para um "Talk Show" ao vivo no jornal das Nove horas.

Todos os Karas se reuniram no quarto de Hotel de Calú. Eles então assistiram a entrevista de Nicolas.

Afirmar que o caso está perto de ser resolvido é ter um positivismo que eu... Eu não disponho. - Nicolas estava visivelmente nervoso -

O apresentador da TV mostrou-se surpreso. A resposta não seguia o esquema proposto pelo diretor e ele seria então, obrigado a improvisar. Calú enquanto assistia sorriu.

"Estamos diante, novamente de um caso de grandes proporções em nosso país, o senhor tem se mostrado extremamente competente. Poderia nos dar alguns nomes na morte do Dr. Q.I?".

Veja, Não vamos misturar duas coisas. O caso Andrade não tem relação com a morte do Dr. Q.I. Este morreu por desavenças dentro da penitenciária. A grande verdade, é que por sua influência ele conseguiu mover seus pauzinhos e atrapalhou as investigações do caso Andrade.

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