24. Veneno dos dias pré nascimento.

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Calú se arrependeu da decisão de estacionar a uma distância "segura" do bar. O sol das oito da manhã na Cidade do México o surpreendeu. Estava quente. Abriu dois botões da camisa, dobrou a manga, colocou os óculos escuros em frente aos olhos e o fedora de volta a cabeça. Agora, era complicado demais voltar atrás e trazer o carro para uma rua mais próxima. A carteira de motorista de Calú tinha licença internacional. Porém, era em momentos como esse, que ele agradecia não ser dono de nem um carro, mesmo com dinheiro o bastante para ter alguns dos mais cobiçados do mundo.

Será uma caminhada curta. - Disse Magrí.

Ela tinha razão. Percorreram metade de um quarteirão - a movimentação era mínima na calçada. Peggy e Calú passavam despercebidos -.

Pararam em frente ao local. Os seis Karas contemplaram um pouco a fachada do local que Andrade pisara duas vezes em momentos distintos de sua vida. Subitamente, se sentiram acuados. Como crianças que observam o prédio de uma escola nova pela primeira vez. Miguel deu um passo à frente, com uma coragem que nem sabia de onde vinha, e tocou a campainha. O bar estava fechado, como era de se esperar.

Uma senhora de pele bronzeada e cabelos escuros presos abriu a porta depois de três minutos de espera. Observou ao grupo lá fora com curiosidade. Miguel pareceu abalado em um breve segundo, porém, logo aceitou a situação. A foto a mostrou mais jovem, era natural que ela estivesse mais velha agora. Mas era incrível o quão vigorosa parecia ela.

—Em que posso ajudar? - Ela disse em espanhol -

—Bom dia, perdoe a visita tão cedo, mas tenho algumas perguntas para a senhora, Sofia Malpraga.

—Do que se trata?

Os Karas se entreolharam. Miguel não a tirava de sua vista.

Eu... Eu vim por causa de um nome. Acredito que a senhora conheceu ele... Andrade.

Crânio retirou uma fita e um gravador. Calú o observou com um olhar cômico.

—Virou paranoico? - Calú perguntou -

Crânio refletiu. Olhou para Calú e fez uma expressão de aceitação. Calú sorriu levemente com a resposta do amigo.

A expressão da senhora pareceu mudar um pouco.

—Senhora Malpraga, peço que nos escute. Não se trata de um jogo, ou qualquer coisa do tipo...

Ela fez um sinal para ele parar de falar.

—... Eu vejo. Andrade me contou de seus filhos... - Ela disse surpreendendo a todos ali - Tenho algumas coisas a contar a vocês, por favor. Queiram entrar.

—Obrigado, Senhora Malpraga.

—Ah sim, pare com isso.

—Perdão? —Miguel não entendeu -

—Não sou Sofia Malpraga. Sou Vivian Málaga. É um prazer.

Vivian Málaga indicou o caminho para os Karas e os acompanhou. Atravessaram o bar e entraram em um gabinete comprido, de cerca de trinta e dois metros quadrados, situado na extremidade aos fundos do bar. Uma parede estava coberta por cortinas. Tinha uma janela que dava para um jardim mal projetado na planta daquele lugar tão antigo.

Vivian caminhou por entre os Karas, porém, parou quando viu os rostos de Calú e Peggy. Finalmente havia reconhecido eles.

—Meu deus, são vocês mesmos? Eu não acredito. Metade da cidade do México está atrás de vocês... - Ela parou e refletiu durante sete segundos - Não me diga que você é filho de Andrade?

Os Karas | Cigarros & Moscow Mule.Onde histórias criam vida. Descubra agora