23. Aviões

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Crânio deparou-se com um novo e-mail de Maria. Ali estava a lista de notas fiscais de cada item comprado para o projeto de ciências. Também dizia que a tese escrita por Crânio quatro meses antes finalmente entrava na fase final de revisão e seria lançada como um livro. A capa e outras especificações de design seriam cortesia da faculdade.

Lentamente, observou com atenção o e-mail. Crânio constatou que havia vestígios de Maria em todas as áreas do trabalho. Ela estava no campo de pesquisa, de testes, preocupava-se com o andamento das coisas, e em especial, com o andamento da vida do gênio dos Karas.

Quando leu "P.S" ele encontrou uma mensagem que dava a ele o número do telefone da casa de Maria. Lembrou-se que não havia pegado na noite em que os dois fizeram amor.

Crânio percebeu de repente, que a bola agora estava com ele. Maria não pretendia mais insistir, a não ser que Crânio desse um passo à frente.

Preparou o café, alguns pães na chapa e se acomodou na pequena sacada mal projetada da casa que alugava. Contemplou a vista do mercado. Comeu os pães e bebendo aos poucos o café, se pôs a refletir.

Viajaria naquela noite para a Cidade do México. Quando retornasse, colocaria ordem em sua vida.

Magri, Calú e Peggy tinham ido para o México dois dias antes. Viajaria naquela noite Com Miguel e Chumbinho.

Às dez e treze da manhã, o gênio parou de refletir. Jogou suas roupas no cesto, tirou com dificuldade o imobilizador do braço e foi até o banheiro tomar um banho. Notou que o braço, depois de onze dias, começava a melhorar. Claro, não adiantava forçar. Preparou a maleta de mão de mão com roupas, seu caderno, alguns documentos e por fim, a gaita. Dedicou o resto da tarde para ligar para os seus familiares e se preparar para viajar.

Chumbinho e Miguel chegaram de táxi no aeroporto de Cumbica, em São Paulo. Com os olhos nos painéis de embarque, os Karas seguiram para fazer o Check-in. Iriam de classe econômica. Quem dispunha de dinheiro o suficiente para classe executiva era Calú. Eram dezoito horas e oito minutos quando se encontraram com Crânio.

—"Preciso comprar tudo isso aqui para os meus pais"—Disse Chumbinho exibindo uma página inteira de papel-.

Optaram por jantar dentro do Aeroporto -O que segundo Miguel, era gastar uma fortuna- antes de embarcarem. O embarque ocorreu às dezenove e vinte e oito. Quatorze minutos de atraso. Após mais vinte e cinco minutos sentados já dentro do avião, o gigante veículo aéreos alçou voo. Rumo a Cidade do México.

Chumbinho sentou-se separado dos amigos. Na fileira à direita, na cadeira do corredor. Ao lado de uma mulher adulta. Ela trabalhava em uma multinacional. Chumbinho e ela ingressaram em uma conversa divertida. Ela lhe indicou todos os lugares onde comprar os itens da lista dos pais. Depois da refeição oferecida pela equipe de voo, Chumbinho adormeceu antes mesmo da moça.

Miguel e Crânio conversaram sobre os mais diferentes assuntos durante o trajeto. Falaram sobre os estereótipos de suas futuras profissões, sobre o caso Andrade, sobre o ferimento de Crânio e suas aventuras nostálgicas. Quando uma aeromoça de traços finos passou próximo dos dois rapazes, comentários dignos para com uma mulher sobre sua beleza conduziram a direção da conversa.

—Ela é realmente muito bonita, mas acho que não estou em fase de relacionamentos. — Miguel disse com um sorriso -

—Mesmo com uma moça tão linda assim? - Crânio sorriu - Bem, não posso dizer nada. Eu também ando com a minha cabeça pensando em certa mulher...

Crânio observou a expressão de Miguel mudar aos poucos. De um olhar mais limpo e bem humorado, para uma expressão de expectativa e dúvida. Crânio entendeu logo que, Miguel acreditava conhecer a dona de seus pensamentos, o que já fora verdade inúmeras vezes no passado. Porém, dessa vez era diferente. Crânio deu um meio sorriso.

Os Karas | Cigarros & Moscow Mule.Onde histórias criam vida. Descubra agora