15. Armadilhas lógicas

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Calú estava acordado há algumas horas. Despertara junto com o sol naquela manhã. Seus pensamentos vagavam entre seus três amigos que se aventuravam naquele exato momento. Também teve bons pensamentos sobre Nicolas. Ele se provava cada vez mais um aliado. Observou o perfil de Peggy na semiescuridão daquela manhã nublada. A colcha cobria o corpo da amada até a cintura. Observou os seios de sua amada subirem e descerem acompanhando o ritmo da respiração. Peggy tinha o dom de fazer Calú a desejar mais e mais. Ele sorriu, pensando que felizmente, possuía o mesmo dom para com aquela a seu lado.

Quatro anos, pensou. Fazia quatro anos que ele e peggy mantinham relações. Ele esperava que eles ainda fizessem amor pelos próximos quatro, oito, dezesseis, trinta e dois... sessenta e quatro anos. Naquele momento, percebeu que não fumava há dias... Não sentiu falta nem naquele momento. Calú aparentemente havia vencido um de seus demônios pessoais.

Levantou-se por fim. Iria fazer uma sessão de fotos para uma revista. Havia passado a noite no quarto de Peggy, suas roupas não estavam lá. Seguiu aquela não convencional rotina de pessoas famosas com um olhar introspectivo e enigmático. Como se julgasse o que estivesse fazendo. Enquanto os amigos arriscam a vida, ele a vive como um rei.

Calú era um crítico de si mesmo ardiloso. Um rei que não arrisca sua vida pelo que acredita, merece quais tipos de servos?

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Crânio e o bandido esperaram o semáforo ficar verde e cruzaram a rua em uma faixa de pedestre quase apagada pelo tempo. O bandido se apresentava agora um tanto mais cauteloso. Crânio refletiu sobre o bandido. Ele havia assaltado a mulher sem nenhum tipo de remorso. O esperado de um dos capangas do Q.I. Crânio não sabia ao certo o que iria sentir se o bandido roubar alguém em sua presença. Teria que silenciar o seu afiado senso de justiça.

Um assalto possui diversos fatores a ser considerados. Primeiro é preciso programá-lo, e depois é preciso se mexer depressa para impedir os vazamentos. "Depressa" quer dizer dois ou três dias, desde que se tem a primeira informação até que se encontre um esconderijo em algum lugar ou em outro país, dependendo da gravidade do crime. Sempre se tem de pagar, gastar grana, mas também corre o risco de que um informante venda a dica para outro grupo.

Iam para um esconderijo os dois "capangas". Um péssimo lugar, em um lugar perigoso, na viela que dava para uma mecânica clandestina. Ele se escondera lá para ninguém jamais descobrir.

"É um quarto/banheiro deplorável num bairro perigoso, só um refúgio para armar os planos e esperar" pensou Crânio... Digo Fêmur.

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Miguel retornou e observou a Chumbinho conversando com Nicolas. Aproximou-se ainda pensativo.

Nada... —Disse Chumbinho decepcionado- A praça estava tranquila.

—Também não encontrei o cara...

—Vamos dar uma pausa e continuamos depois. Só vamos esperar o retorno do Crânio. Aliás, ele está demorando muito...

Miguel arqueou as sobrancelhas.

—Droga! Crânio o encontrou.

—Por que "droga"?

—Ele vai tentar conseguir alguma coisa... Ele não vai apenas segui-lo e descobrir onde ele mora...

—Miguel, já é a segunda ou terceira vez que você subestima o Crânio. -Chumbinho disse fazendo os dois adultos olharem para aquele adolescente brilhante- Não estamos falando de qualquer pessoa...

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