O Dia Antes Do Primeiro Dia

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Deitado no meu quarto que sempre foi meu pela última vez. Aquela sensação de nostalgia ao olhar para aquelas estantes vazias onde deixava minha coleção de discos e livros. Tudo limpo, é tão estranho, aquelas caixas de mudança que me lembram que a minha casa não será mais aqui. É triste me mudar desse lugar que gosto tanto, mas não temos escolha.
Você deve estar se perguntando o porquê dessa mudança. Vou contar de forma breve, apenas para que você saiba que o destino pode ser bem imprevisível.
Tudo começou à oito anos, quando um inspetor entrou pela porta da minha sala de aula procurando por mim. Eu soube na mesma hora que era algo sério, o inspetor estava com aquele olhar apavorado. Naquele maldito dia eu recebi a notícia de que o meu pai se envolveu em um acidente de carro. Ele morreu na hora. Os policiais disseram que o motorista que bateu no carro do meu pai estava embriagado. No banco de trás ele levava seu filho que sofreu apenas um corte na testa. Os dois sobreviveram e só o meu pai foi tirado de mim. Minha mãe sofreu muito nos primeiros meses após o funeral, foi aí que ela começou a se drogar para não pensar nele. E eu, bom, eu herdei dessa tragédia seis horas semanais com um psicólogo. Já faz quase oito anos e eu ainda o frequento, mas só faço isso para agradar minha mãe. Ela, nesses anos, começou a namorar vários caras estranhos e se afundou nas contas. Nós acabamos perdendo a nossa casa e agora temos que nos mudar para um bairro pobre da cidade. Ela tá namorando esse Clyde, um babaca que só vive chapado. Vamos ter que nos mudar pra casa dele e eu já imagino o inferno que vai ser. Terei que mudar de colégio, bom pelo menos vou poder recomeçar.
Tive que terminar com a Grace, vai ser melhor assim. Ela era mais uma amiga que namorada. E eu realmente gosto muito dela, mas ultimamente estávamos muito distantes.
As vezes tenho esses pensamentos estranhos, quero dizer, eu sei que foi um acidente. Mas por que tinha que ser meu pai? O cara que estava embriagado e seu filho que deveriam ter morrido aquele dia. Eu não sei quem é esse cara mas eu nunca vou perdoá-lo pelo que fez. Eu odeio ele, odeio o filho dele! Porra, isso me afeta tanto, e já faz tanto tempo que eu não sei porque essa merda mexe com a minha cabeça assim. Preciso parar com esses pensamentos que me perturbam. Porra, a minha vida vai piorar morando com o Clyde!

Arrumando minhas últimas coisas acabo achando uma foto minha com meu pai, minhas lágrimas caem pesadas em cima da fotografia, como eu sinto sua falta pai. Guardo a foto na caixa e respiro fundo.
Depois de terminar de guardar tudo nas caixas saio e paro na porta do meu quarto e dou uma última olhada. Daí seguimos colocando as caixas no carro, que segue o caminhão da mudança. No caminho minha mãe dirige enquanto fala comigo:

Eloise - O Clyde está nos esperando na casa dele, você vai gostar de lá, Kody!

Eu apenas olho para ela e mantenho silêncio.

Eloise - Você está bem?

Então eu respondo:

- Sim.

Eloise - Me perdoe pela casa, eu sei que você gostava dela porque te lembra do seu pa...

- Não fale dele... Por favor.

Depois disso o carro se mantém em silêncio o resto da viagem.
Finalmente chegamos na casa nova, eu paro no portão e olho ao redor, ela é menor que a minha antiga casa. Quando passo pela porta o Clyde aparece na frente, pressiona o dedo contra o meu peito e diz:

Clyde - Nada de bagunça na minha casa moleque. E não fique no meu caminho.

Eu apenas ignoro e entro pra ver meu novo quarto. Ele é pequeno mas consigo guardar tudo que tenho e a única coisa que quero agora é dormir. Minha mãe entra no meu quarto, escora o ombro na porta e me diz para dormir, porque as aulas começam na manhã seguinte.
Deitado na cama, quarto escuro. Apenas um abajur ligado ao lado da cabeceira. Olho meu telefone e já são 00:23. Pego meu iPod para ouvir música e pensar. Passo horas vagando por meus pensamentos até conseguir finalmente cair no sono.
Acordo no meio da noite com o coração acelerado, acabo de sonhar com meu pai, na verdade foi mais uma lembrança. É de quando ele me levou em um parque, ele me empurrava em um balanço. Minha mãe estava na nossa frente e fotografava a gente enquanto sorria. Logo agora um sonho desses, balanço a cabeça para tentar esquecer. Pego o telefone para ver as horas e já são 03:17. Me deito e fico olhando pro escuro até finalmente conseguir dormir.
Que merda de vida que estou vivendo, tenho medo de que no futuro seja pior. A propósito, meu nome é Kody. Seja bem vindo a minha história.

Juventude PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora