ARIEL
Ao cair a noite, percebi que meus pais estavam cada vez mais ansiosos. Tive vontade de ficar em casa para saber o que estava acontecendo mas eu iria me sentir mal por não fazer vontade deles. Fora que o trabalho que irei fazer vale metade da nota. Quando olho para o relógio vejo que são 19:30, precisava sair de casa.
- Mãe, vou sair agora. Tem certeza que não vão querer me buscar?
- Não, tudo bem. Saiba que eu e seu pai amamos e confiamos em você. - Minha mãe disse deixando um ar mais estranho do que já estava. Primeiro deixar pedir para ficar fora de casa, o que definitivamente era raro. Segundo por esse comportamento suspeito. Ela veio até a mim e me deu um abraço sussurrando um 'se cuida' no meu ouvido como se fosse uma despedida definitiva. Olhei confusa para ela e apenas concordei positivamente com a cabeça e desviei o olhar para o meu pai que veio em minha direção.
- Vou te levar para a casa do rapaz. - Ele estava tenso e pegou as chaves do carro no bolso e fez menção para segui-lo até o carro.
Seguimos o caminho em silêncio. Pedro morava em poucos quarteirões da minha casa. Quando chegamos meu pai tirou do banco traseiro um livro com aparência antiga e pegou minha bolsa do meu colo e o colocou o livro dentro.
- Ariel, amanhã quando tiver tempo quero que leia esse livro. -Disse sério - Eu te amo. - Me abraçou.
- Eu também. - Disse confusa - Qualquer coisa me liga. Estou muito preocupada com essa visita misteriosa e essas declarações repentinas. - Confessei.
- Não se preocupe, pequena sereia. Aqui - Pegou um dinheiro da sua carteira e me deu - Para qualquer emergência.
Peguei o dinheiro surpresa e coloquei no bolso. Me despedi e meu pai ficou me encarando até eu chegar a porta do Pedro. Eu sentia um aperto em meu coração como nunca senti na vida. Eu de fato amava meus pais, mas eu não conseguia tirar da minha cabeça o quanto esse comportamento era suspeito. Tentei abstrair esses pensamentos, até porque, mamãe irá me contar tudo amanhã como havia me prometido. Pensei sobre o tal livro, não cheguei a vê-lo ainda e do jeito que Pedro era tão curioso quanto eu ficaria fazendo perguntas de algo que nem eu mesma sei.
A dona Luciana, mãe de Pedro, abriu a porta e como sempre quando me via alargou seu sorriso sincero para mim.
- Boa noite. O Pedro avisou que eu iria vir hoje?
- Ele mandou mensagem avisando. - Adentrei a casa e ela foi em direção a cozinha e vi alguns sanduíches. - Eu deixei um lanche preparado pra vocês. Não vou poder ficar essa noite. - Se agachou até meu ouvido e sussurrou: Tenho um encontro.
Ela estava deslumbrante, com um brilho em seu rosto e uma maquiagem leve apenas realçando sua beleza natural, com um vestido preto e comportado. Luciana era nova e teve Pedro pouco tempo depois que casou. Perdeu seu marido, pai de Pedro, em um acidente de carro a cinco anos atrás. Nunca a vi se relacionar com ninguém depois do ocorrido e via o quanto estava feliz. Era uma enfermeira muito solitária e totalmente amorosa comigo como se eu fosse uma filha. Fiquei muito feliz por ela.
Não consegui responde-la, a companhia tocou e ouvi uma voz masculina assim que ela atendeu e só pude ouvir um "Comportem-se" e a porta se fechando rapidamente. Balancei a cabeça sorrindo e resolvi ir até o andar de cima para procurar Pedro.
A casa dele é grande contendo dois andares e o ambiente era alegre e trazia conforto. Mesmo depois do falecimento do seu pai e avós devido a um acidente de carro, optaram por ficar na mesma casa sendo apenas os dois. Subi as escadas em direção ao seu quarto que ficava no final do corredor, fiquei observando os quadros com diversas fotos da família, inclusive foto minha e ele e vi o quanto eles me consideravam. Fazia muito tempo que não vinha na casa do Pedro e é a primeira vez que ficamos sozinhos sem sua mãe, acredito que finalmente ganharam confiança na gente.
Quando cheguei em frente a sua porta estava distraída com meus pensamentos devido a preocupação com meus pais e abri a porta sem bater.
Pedro estava em seu computador estudando em um pose séria e totalmente concentrado no que estava fazendo. Deixei minha mochila no chão e fui em sua direção posando minhas mãos em seu ombro e dando-lhe um beijo em seu rosto, ele fechou os olhos e suspirou pesadamente. Senti um certa irritação da sua parte mas mesmo assim ele pegou as costas de uma das minhas mãos e beijou. Ergui minha sobrancelha estranhando e resolvi explicar o motivo do meu atraso.
- Meus pais vão receber uma visita misteriosa e conversaram comigo. Acabei me atrasando... - Ele virou sua cadeira olhando para mim agora - Depois sua mãe parou para conversar comigo também. A sorte é que está tudo impresso e só falta repassar o que devemos explicar na apresentação, e fazer o cartaz.
- Eu já terminei o cartaz - Ele se levantou ficando na minha frente - Já estava pré-pronto, só fiz a margem e colei.
- Eu sei que estou atrasada, mas...poderia ter me esperado. É injusto fazer tudo sozinho.
- Não se preocupe - Disse frio se sentando na cama - Vamos passar o que iremos apresentar? - Assenti.
Começamos a estudar e passamos o que cada um iria dizer. Separamos, grifamos as letras e partes principais do conteúdo e guardei na minha bolsa para cada um repassar no decorrer do final de semana. Falamos apenas o necessário e depois comemos em silêncio o sanduíche que sua mãe fez. Me segurei para não lhe fazer perguntas para não chateá-lo mas estava extremamente preocupada. Pedro sempre foi muito amoroso, carinhoso e brincalhão comigo. Ele ajeitou a cama dele para eu dormir e seu colchonete no chão ao lado da cama.
- Eu fiz alguma coisa? - Disse preocupada sentando na cama ao seu lado.
- Estou pensando em umas coisas. Prefiro ficar calado. - Passou a mãos em seus cabelos em um ato mostrando nervosismo.
- E tem a ver comigo?
- Sinceramente sim. - Arregalei os olhos surpresa.
- O que eu fiz?
- Ariel... - Ele desviou seus olhos e ficou brincando com os dedos de sua mão - Estava fazendo inscrições para a faculdade no ano que vem e vamos nos separar.
- Vamos ser sempre amigos, mas vamos seguir alguns caminhos distintos. É a vida...vamos estudar, trabalhar, casar e ter filhos. - Coloquei a mão em seu rosto - Sempre vou considerar você, ter ótimas lembranças e farei de tudo para mantermos contato. Eu amo você.
Ele ficou me encarando, um pouco surpreso pelo que eu havia dito. Tirei as mãos do seu rosto e foi sua vez de colocar as mãos no meu e no ato rápido no qual não consegui pensar ele deu um selinho demorado, ele afastou nossos lábios e me olhou mas continuou perto do meu rosto tentando ver qual seria minha reação.
Senti um nervoso, uma chama em um segundo e um frio percorrendo minha espinha no outro. Sinceramente não sabia o que pensar, nunca o vi desse jeito.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Vigésimo Quinto
Mystery / ThrillerAriel é uma menina nos seus dezessete anos que foi criada com uma vida normal. Quando seus pais foram assassinados brutalmente, descobre que veio de uma linhagem de feiticeiros muito poderosa que sua falecida mãe tentou esconder. Ela fica sob os cui...