Capítulo 03

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Harry saiu cedo naquela manhã nublada, o mormaço deixava o ar abafado e salobre, sua mente estava distante. Se lembrou da conversa que teve com o paroquiano mais cedo. Fez todas as orações matinais e passou algum tempo refletindo sozinho no altar enquanto preparava a próxima missa.

O paroquiano se aproximou com seus passos ecoando pelo assoalho, estava preocupado com o jovem padre. Talvez estivesse sofrendo de alguma doença silenciosa, mas ele parecia saudável. Algo o atormentava a mente. Não eram amigos realmente, o padre só havia chegado a igreja há um ano e meio vindo direto seminário. Eram jovem mas dedicado, mas nos últimos dias, estava agindo estranho.

ㅡ Está se sentindo bem, padre?

Harry sacudiu a cabeça afastando os pensamentos.

ㅡ Não realmente. ㅡ Ele esfregou o queixo. ㅡ Escute, John. O que sabe sobre Kyra Jones?

O velho ergueu as sobrancelhas.

ㅡ A órfã? Pobre menina. Algum problema com a moça? Não a vejo desde a morte da tia, a que costumava vir todos os dias bem cedo antes de bater as botas.

ㅡ Eu não sei. ㅡ Seu rosto ficou pálido, só conseguiu se lembrar da sensação de formigamento que sentiu quando ela o tocou. ㅡ Há algo sobre ela que me intriga.

Sim, a forma como suas coxa roçaram em minhas pernas e a sua voz macia me enlouquecendo as ideias, pensou Harry. E logo se advertiu, no que está pensando? Quando aceitou o celibato para se tornar servo de Deus, sabia que seus desejos de homem estariam de lado por toda uma vida.

ㅡ Sempre pensei que era perturbada a menina. Mas cresceu esperta, tem um emprego na taberna, sabia? Não é grande coisa, mas não tem estudo. Pobre garota, está sozinha no mundo.

Harry se lembrou de ter tido uma conversa com a tia da garota enferma no hospital. Ela mencionou a morte do sobrinho e da esposa.

ㅡ O que houve com a família?

ㅡ Ninguém sabe. ㅡ O velho John deu de ombros. ㅡ Foram encontrados mortos há quase dez anos atrás. A mulher esquartejada pela casa, e o marido no porão dependurado.

"Dependurado". Aquilo não soou bem ao ouvidos de Harry. Preferia não pensar sobre essas coisas.

ㅡ E a garota?

ㅡ Na época a encontraram em choque escondida dentro do armário. Encolhida entre as latas de ervilha e os sacos de arroz. Vizinhos escutaram gritos e chamaram a polícia.

Harry teve uma terrível visão de uma criança assustada, escondida em um lugar escuro e rarefeito. Ouvindo gritos. Sozinha. E agora, estava sozinha outra vez. Lembrou-se dos dias difíceis quando visitava a tia enferma da garota em casa, no hospital. Lembrou-se da garota seguindo a com seus olhos cansados e distantes.

O padre lembrou se do dia no confessionário, e em como aquilo não convinha ao comportamento da moça. Ela tinha mexido com a sua cabeça, e com seus desejos já muito adormecidos. Aquilo o enlouqueceria, e não fazia ideia do que fazer.

Desejava a garota, mas repudiava o sentimento.

Queria descobrir um pouco mais sobre aquele sorriso malicioso e fugaz, mas tinha de se manter longe, Deus, como era difícil, como era profano pensar em suas curvas.

Harry não sabia o que fazer.

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