Capítulo 22

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Há dias Kyra notara que Harry tinha começado a agir de forma estranha com ela. Não a olhava mais como antes, parecia mais frio quando conversavam. Aos poucos foi se afastando de Kyra, e isso a incomodava. Notou que Harry não dormia mais como antes, quando se levantava, sempre o via sentado na cozinha encarando as próprias mãos e rezando baixinho, com olhos fundos e olheiras marcadas.

Se perguntava se ele tinha mudado de ideia sobre ela a cada segundo. Estava confusa e não sabia o que fazer. E se tivesse dito coisas dormindo? E se tivesse dito coisas erradas?

E se ele estivesse com alguma desconfiança sobre ela?

Sua mente agora era uma infinidade de "E se..." e mal conseguia se concentrar em seu trabalho ou em qualquer outra coisa. Estava com medo que Harry visse o quão quebrada era por dentro e desistisse dela. Todos já haviam desistido em algum ponto.

Naquela manhã em especial, a nevoa tinha descido sobre Dustinville e nem os pássaros cantavam nas árvores. Um vento frio que vinha do sul deixava as ruas congelantes e tudo parecia mais vazio, e as pessoas permaneciam em suas casas. Era para ser outra manhã normal como qualquer outra quando seguiram com a suas novas rotinas, tentando se acostumarem as novas vidas.

Harry havia dirigido ao seu lado em silêncio por todo o caminho até a cidade, e o silêncio incomodava Kyra. Ela detestava nunca saber o que ele estava pensando. Hoje ele estava mais quieto que o usual, olheiras mais escuras em seu rosto contrastando com seus selvagens olhos verdes.

ㅡ Você parece péssimo. ㅡ Ela disse finalmente quando já estavam entrando na cidade. O carro deslizando no asfalto entre as casas coberta de nevoa espessa e cintilante, e seus telhados pintados de vermelho. ㅡ Em que momento invertemos os papéis?

ㅡ Não tenho dormido bem. ㅡ Ele forçou um sorriso com o canto dos lábios. ㅡ Tem acompanhado as notícias sobre os Lodge?

Kyra remexeu desconfortável no assento.

ㅡ Ouço muitas coisas por aí. Coisas que eu não gostaria de ouvir.

Ele acena com a cabeça.

ㅡ Talvez essa cidade não tenha realmente um mistério, só pessoas que fingem não ver as coisas que precisam ver.

Ela parece um pouco confusa sem entender o rumo da conversa. Harry continua dirigindo em silêncio por um longo tempo.

ㅡ Preciso passar na igreja, resolver umas ultimas pendencias. Tudo bem? ㅡ Ele tamborila os dedos no volante. ㅡ Prometi a John continuar ajudando com a gasolina do pequeno gerador dos fundos. Estou com esses galões há dias na traseira.

ㅡ É claro. ㅡ Kyra sorri. ㅡ Eu espero aqui.

Ele estaciona há alguns metros da entrada da paróquia, e acaricia o queixo de Kyra com a ponta dos dedos. Seu olhar está diferente, Kyra tem de repente uma terrível sensação em seu peito, muito medo de perde-lo.

ㅡ Acho que finalmente entendo as coisas agora. ㅡ Foi tudo que ele disse antes de sair do carro. Kyra continuou o observando atravessar e subir os degraus até a entrada da igreja. A porta estava fechada, e foi o velho pároco John que a abrira para Harry. Ele desapareceu porta a dentro, enquanto ela continuou com seu rosto apoiado no vidro da janela da caminhonete.

Tirou seu celular do bolso para conferir as horas e constatou que ainda era cedo.

Vinte minutos depois continuava ali, suas pernas já criavam dormência e estava impaciente. Harry estava demorando e ela não gostava disso. Detestava ser deixada de lado. Pegou seu celular outra vez, com um descuido ele escorregou entre os seus dedos e caiu.

ㅡ Droga. ㅡ Resmungou se abaixando, e batendo a cabeça no porta luvas.

Soltou um "Ai" agudo e massageou a testa dando uma risadinha. O porta luvas se abriu com o impacto e ela estalou os lábios. Algo brilhante chamou a sua atenção, eram um conjunto de chaves novas. Talvez Harry tivesse mandado fazer chaves reservas da pequena casa no lago, pensou, Talvez as desse a ela. E se estivesse pensando em propor-lhe em casamento? Seu coração acelerou mas sabia que estava se antecipando.

Pegou as pequenas chaves um pouco receosa por Harry talvez não gostar de pega-la mexendo em suas coisas. Mas quando ergueu as chaves no ar, e de repente caiu sua ficha. Quando deu por si, tinha jogado as chaves prateadas no banco e tinha saltado par fora do carro, correndo em direção da igreja em desespero.

Uma das chaves, tinha um nome gravado em um dos lados:

Lodge.

The SinnerOnde histórias criam vida. Descubra agora