Oi nenês! Adivinhem quem tem att novas? As coisas vão ficar mais sérias agora, tanto na cidade quanto com Kyra e Harry. Espero que vcs saquem no final. Obrigada pelas leituras! Não esqueçam de votar.
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O burburinho sobre a morte dos Lodge se espalhou pela cidade, por baixo dos panos, por janelas fechadas. Ninguém falava sobre isso em público. Era quase como se temessem ser os próximos. E naquele momento, qualquer um podia.
A cidade parecia vazia e silenciosa. As pessoas no mercado se cumprimentavam com um breve aceno de cabeça e olhares desconfiados, os idosos na praça estavam todos apreensivos, como se soubessem de algo que não tinham condição de mencionar.
E Harry, dobrava a sua última batina cuidadosamente quando o telefone tocou. Arrumara todas as suas malas e tirou a sua velha caminhonete da garagem, a usava apenas quando pretendia visitar a sua família em outra cidade. Agora, era para ir para o campo e repensar sobre os últimos acontecimentos turbulentos da sua vida, na casa vazia no lago que antes eram dos seus tios que nunca mais passaram o verão pelas aquelas bandas. Suas malas estavam na porta, e essa era a última que relutava silencioso em guardar. Depois do que ouvira outra vez do bispo, tinha se decidido por dar um tempo. Não queria atender ligações, responder perguntas as quais não tinha resposta, mas continuava a insistir.
Ele pegou o celular um pouco desconfiado e franziu o cenho. Logo, o celular caiu, e segundos depois o jovem padre já estava correndo assustado demais para pensar. Kyra estava no hospital.
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A garota dormia sedada, fios saindo dos braços e maquinas com bipes incessantes e agoniantes, rosto pálido tão branco quanto mármore. As mãos macias e firmes de Harry deslizaram até os dedos frios como gelo de Kyra Jones desacordada, e mesmo distante de si mesma, aquele gesto não poderia ser mais reconfortante. Não conseguia entender como as vezes ela parecia forte e segura de si, e em como outras era frágil como uma folha de papel. Kyra Jones chegava aos extremos em segundos, era verdadeiramente instável como urânio.
ㅡ Ela vai ficar bem? ㅡ Perguntou Harry á enfermeira que checava o monitor e anotava algo em uma prancheta.
ㅡ Vai sobreviver. Talvez amanhã de manhã já esteja de pé. É claro, talvez fique com alguns problemas no fígado, mas por agora é difícil dizer. ㅡ Disse ela sem o olhar. ㅡ Por sorte trouxeram-na a tempo, e todo o remédio fora retirado do organismo.
ㅡ Meu bom Deus!
ㅡ Com a graça de nosso senhor pai, amém. É um milagre ainda estar viva. ㅡ Ela sorriu sem mostrar os dentes e caminhou em direção a porta, com seus sapatos de sola de borracha rangendo no chão liso.
ㅡ Porque telefonaram para mim? ㅡ Perguntou curioso. ㅡ Eu não me lembro de...
Ela sorriu outra vez como se aquilo fizesse parte da sua rotina de trabalho.
ㅡ O seu número era na discagem de emergência do celular dela.
Harry ergue as sobrancelhas, mas preferiu ficar em silêncio, mas com certeza não se lembrava de ter dado o seu número a Kyra. Preferiu guardar isso para pensar mais tarde, e apenas agradeceu a enfermeira.
ㅡ Vou deixar o senhor a sós para fazer as suas orações, sua benção padre.
Styles apenas concordou com um aceno. Tinha se aproveitado do fato de ser conhecido no hospital, ah ora pois! Tinha rezado muitas vezes para enfermos a beira da morte. Inclusive para a própria tia da garota na cama. Se não fosse por isso, nem teria entrado. Kyra parecia em um estado delicado, e não tinha família, nesses casos, somente a família entra. Há quanto tempo não se alimentava direito? Parecia mais magra, definhando devagar.
Estava cansado de ser ele mesmo, cansado do peso da sua batina. Talvez Kyra estivesse cansada também. Mas suicídio? Não conseguia entender, os dois compartilharam momentos secretos e prazerosos juntos.
Respirou fundo assustado, não conseguia entender porque Kyra tinha feito aquilo. A igreja condena o suicídio. ㅡ Lembrou-se de ouvir as lições antigas da catequese quando criança. ㅡ Céu, inferno, ou qualquer outra coisa não tinha mais a mínima importância. Estava tão cansado, tão exausto de todos aqueles pensamentos conflitantes.
Nem se quer se considerava mais um padre. Talvez devesse mesmo largar a ordem. Olhou para Kyra outra vez com um pouco mais de atenção. Ela precisava dele, e talvez ele precisasse tanto dela quanto não poderia imaginar. E se estivesse errado sobre sua vocação por toda a vida? Estremeceu no lugar. A princípio estava furioso com o bispo e o pároco, mas agora, começava a acreditar que realmente talvez fosse mesmo uma boa ideia se afastar e organizar suas prioridades. E no momento, a maior delas, era entender e cuidar de Kyra Jones. Todos aqueles policiais e investigadores andando pela cidade, as notícias nos jornais e a atenção ao caso Lodge, poderia trazer lembranças cruéis a garota.
ㅡ Porque você quer tanto fugir daqui Kyra? ㅡ Murmurou baixinho apoiando seu queixo na perna da garota. ㅡ Me deixe ajudar você.
Ela respirou fundo, ainda dormia de forma serena.
ㅡ Eu estou tentando. Juro que estou tentando.
Harry, que agora não queria mais ser chamado de Padre Styles, beijou o topo da mão da menina. Naquele momento, talvez estivesse com tanto medo quanto ela, mas tinha no seu peito a força que dizia que tudo que estava fazendo era o certo. Era com certeza, a sua verdadeira missão. Pediu a Deus que não estivesse enganado. Lembrou-se da última conversa que teve com o bispo na casa paroquial antes de arrumar suas malas e se perdeu nas lembranças enquanto os equipamentos bipavam e o soro gotejava lentamente.
ㅡ Vou colocar as coisas às claras Harry. ㅡ o velho tossiu, parecia seco e contente, parecia satisfeito. ㅡ As pessoas já estão comentando desconfiadas. É essa imagem que quer deixar a comunidade?
ㅡ Não. ㅡ O jovem padre massageou o cenho. ㅡ E se eu quiser ficar? Eu não estou certo sobre deixar o clero, eu...
ㅡ Você pode pegar a sua licença e pensar sobre isso, ou simplesmente sair.
Ele quase gritava "escândalo" em sua cara. Imaginou o que aconteceria se ficasse, ter de lidar com os boatos sobre seus pecados. Com as pessoas o olhando como se não devesse estar ali. Estava inseguro e com medo. O clero tinha sido sua vida, não podia simplesmente escolher assim. Não podia voltar para a sua casa e dizer que tinha falhado na sua missão.
ㅡ Essa é a nossa última conversa Harry. Faça suas malas, passe algum tempo longe. Essa cidade já tem problemas demais.
Ele se virou perplexo.
O velho o estava mandando embora. Era isso. Tinha falhado como homem e com Deus. Estava péssimo.
Mas ali, de volta aquele hospital, tentou bloquear essas lembranças, Kyra era muito mais que desejo sexual, mas talvez não estivesse pronto para admitir. Mas valia a pena tentar. Alguém realmente precisava dele.
