Capítulo 1

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Acordo na manhã de quarta-feira com uma terrível ressaca e prometo a mim mesma que irei parar de beber durante a semana, não importa se minha chefe é terrivelmente irritante, se meu caso com Sean foi pelo ralo, se o apartamento novo tem infiltração no banheiro ou o quão triste esteja sendo a semana. Não irei beber durante a semana nunca mais.

O apartamento novo ainda se resumia a um amontoado de caixas empilhadas pelos cantos e embalagens de comida para viagem jogadas pela sala. Normalmente eu sou mais organizada, juro. Mas levar um fora de Sean me fez embebedar de baixa autoestima, encher a cara de desânimo e mergulhar na preguiça.

Ele nem era muita areia para o meu caminhão ou algo do gênero, na verdade ele fazia mais o tipo padrão da sociedade com seu terno sob medida, quarenta e dois anos bem distribuídos por aquele corpinho sexy, barba feita e corridas diárias pelo Central Park. Nunca foi mais do que sexo casual, ambos estávamos ocupados demais com nossas carreiras e além do mais ele não fazia meu tipo, se é que eu tenho um.

Entenda, tínhamos acabado de nos mudar para Nova York, não conhecíamos quase ninguém (e nem tínhamos tempo para isso), além de que as coisas fluíam bem com Sean devido ao fato dele ser muito bom (e coloca bom nisso) de cama e de não nos falarmos muito.

Eu amo uma boa conversa, pode apostar nisso, mas Sean e eu não tínhamos nada em comum a não ser que éramos alérgicos a polvo. Sean era do tipo que falava apenas o necessário e evitava gastar palavras demais (evitava gastar caracteres demais também) e mesmo se ele gostasse de falar tínhamos opiniões um tanto divergentes sobre muitos assuntos.

Sou um completo desastre com números e antes de me tornar dermatologista comecei o curso de História, Ciências Biológicas e de Filosofia e fiz ao menos um semestre de cada um. Teria continuado se minha mãe não tivesse ameaçado cortar meu dinheiro e tomar meu carro caso eu não parasse de trocar de curso.

Uma mulher como eu dá muito valor à sua mesada e com o quanto de sacolas da Channel se pode sair da loja com ela.

Eu era um tanto imatura, sou obrigada a assumir. Mas ao menos eu cresci em algum momento, ao contrário de pessoas como Zoey Mitchell, que ainda dependia da grana dos pais para bancar seus passeios de grife.

Mas voltando a Sean e ao fora que eu levei...

A cerca de quatro dias eu me mudei para uma cobertura nos arredores do Central Park graças a uma ajudinha dos meus pais (não totalmente graças a eles, chupa Zoey!) e Sean perguntou se eu gostaria de ajuda para inaugurar o apartamento novo (tradução: se eu gostaria de transar com ele pelos comodos da cobertura como se não houvesse amanhã). Respondi que esperava ele às oito e pedi para que ele trouxesse comida japonesa. Ok, tudo bem até aí, contudo estamos falamos de Blair Ashworth, é óbvio que algo ia dar errado.

Depois da inauguração e do jantar com direito a um diálogo de quatro frases ele me olhou por longos minutos e soltou um longo suspiro.

- Nós nos damos bem, você é linda, mas eu quero terminar. - ele disse.

Lembra do que eu disse sobre não gastar palavras demais? Pois é, esse é um perfeito exemplo.

Olhei para ele um tanto atordoada e tive que piscar várias vezes para quem sabe ganhar um tempo para digerir a informação.

- Ok. - foi tudo o que eu consegui dizer, mas a verdade é que eu queria gritar "Que porra é essa?" e exigir uma explicação plausível.

- Bom... - ele se levantou da cadeira e começou a pegar sua roupa jogada pela sala e pela cozinha. - Eu tenho que ir, tenho uma reunião de negócios amanhã cedo.

Ergui a sombrancelha e fiquei atônita diante da facilidade dele de lidar com términos, por mais que aquilo fosse sexo casual.

- É algum problema comigo? - perguntei.

Preciso dizer que me arrependi muito de ter perguntado isso, se eu pudesse voltar no tempo e bater mim mesma antes que dizer aquilo...

- Não, você é ótima. - ele disse mostrando um sorriso travesso. - Mas eu encontrei uma pessoa que me completa e isso não fazia mais sentido.

- Entendi. - disse mecanicamente.

- Adeus Blair. - ele disse depositando um beijo na minha bochecha antes de sair do apartamento.

Não sei por quanto tempo eu fiquei parada como estátua, mas quando dei por mim eu estava até meio tonta.

- Que merda foi essa? - perguntei para as paredes vazias do apartamento e não obtive resposta. - Você é ótima? Isso é sério? Não, isso não é sério!

Juntei as embalagens da comida japonesa e as joguei no lixo, tomei um bom banho e esfoliei o corpo todo, não queria um vestígio dele sequer em mim mais. Apaguei seu contato, joguei os lençóis da cama num saco preto e passei alvejante por todos os lugares que tínhamos inaugurado o apartamento.

Mas a verdade é que mesmo agora, quatro dias depois eu ainda me sinto um tanto facilmente substituível e tenho levado os dias pensando o que a nova affair dele tem que eu não tenho.

Mas preciso dar um basta nisso, e nada melhor do que distrair a cabeça revirando as caixas do velho apartamento.

Comecei colocando todos os vários itens de cozinha que eu nunca usei nos armários da cozinha e colocando os porta retratos com fotos da família e amigos pela estante de livros do meu escritório. Logo depois me deparei com uma caixa repleta de coisas do meu ensino médio, incluindo meu vestido do baile de formatura.

Ah, o baile de formatura! Uma das melhores noites da minha vida, dancei até ter bolhas nos pés.

Confesso que agora, anos depois, aquele vestido era um tanto brega, mas imaginei o quanto eu estava diferente dos meus anos de colegial e resolvi experimentar ele novamente.

Talvez até mandasse uma foto para Alexia relembrando nossos velhos tempos de Colégio assim que eu conseguisse desabotoar aqueles botões...

Deveria ter alguma coisa errada, os botões estavam abertos e por que o vestido não entrava?

Me vi diante do espelho e não pude conter a decepção, eu tinha engordado, uns cinco quilos talvez e aparentemente todo aquele sorvete e comida japonesa estava indo diretamente para meu bumbum.

Talvez fosse por isso que Sean não me quis mais, pensei enquanto virava a cabeça no espelho tentando ver minha bunda e as supostas celulites que já deveriam estar nela.

Já me dada por vencida, tirei o vestido o joguei de volta na caixa e me sentei no chão completamente arrasada.

Continuei mexendo na caixa e vi todas as fotos do anuário e assinaturas, me sentindo ainda pior quando lembrei de tinha me encontrado com Zoey na semana passada e ela ainda tinha o mesmo corpinho de angel.

- Chega disso! - disse jogando o anuário de volta na caixa.

Devido à minha falta de mira ele caiu a uns três metros de distância da caixa e vez um barulho horrível. Com o impacto uma folha cor de rosa saiu de dentro dele e ficou presa debaixo do sofá.

Mesmo desolada minha curiosidade ainda era maior, me levantei e abri a folha:

"A teoria da felicidade:

Almas gêmeas não existem, é praticamente impossível achar todas as qualidades e características necessárias em uma só pessoa para que ela possa ser a sua.
Para ser feliz, a felicidade básica na vida é necessário rir, ser compreendida e ter diálogos interessantes e beijar alguém que saiba o que está fazendo.
As três coisas não são simplesmente encontradas em uma pessoa, mas podem ser encontradas em três.
Juntando as três coisas é possível atingir a felicidade básica de sua vida.
Por isso, nós, Blair Ashworth e Alexia Sanders nos comprometemos solenemente a não ir em busca de almas gêmeas e sim de nossas três felicidades, não iremos nos contentar com menos que a felicidade e nos apoiaremos para consegui-la.

Blair Ashworth
Alexia Sanders."

Peguei o celular em cima da mesinha de centro e disquei o número o mais rápido que pude, ainda de lingerie e com o papel cor de rosa em mãos.

- Lex, sou eu, a Blair. - disse rapidamente. - Você não vai acreditar no que eu achei em meio as minhas coisas do ensino médio....



Os três pilares da felicidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora