Capítulo XI

451 24 3
                                    

Eu diria que tudo bem ter esperança,
Porque às vezes é só o que me faz prosseguir
- The Vampire Diaries

Ino

Estava sentada perto da janela admirando o grande jardim do lado de fora.
Eu adorava plantas, em minha antiga casa havia plantado um belo jardim, cheio de flores de várias espécies diferentes e com algumas árvores baixas. Era o meu passatempo diário sentar na terra e retirar todas as ervas daninhas, assim como podar as plantas e rega-las. Era trabalhoso, mas reconfortante.
Já tinha meses que morava no castelo e nunca pude ir até o jardim, podia apenas admira-lo da janela. Essa era a única parte boa de vim para o quarto daquele troglodita ruivo, sem dúvidas a vista de seu quarto para o jardim era uma das mais lindas que tinha. Eu queria ao menos ter a liberdade de andar no meio daquelas árvores e me deitar em baixo de uma de suas sombras.
Minha barriga ainda não dava sinal nenhum de que tinha um pequeno ser crescendo dentro de mim. Só de pensar nisso tinha vontade de chorar. Eu não sabia como iria cuidar dessa criança, por Deus. Nunca cuidei de um irmão por ser filha única e meus pais não poderiam ser chamados de bons exemplos, eles apenas me mantinham viva.
Coloquei minha mão em cima de minha barriga e comecei a fazer carinho nela, sem me importar com as lagrimas que desciam.
Eu sei que essa criança não tem culpa de nada que aconteceu, mas isso não faz nada ficar melhor. Fui feita de escrava sexual, tiraram minha liberdade e meu direito sobre meu próprio corpo. Fui obrigada a fazer coisas que não queria e agora estou carregando o fruto de toda essa violência. Não sei se vou conseguir olhar para essa criança sem lembrar de todo o mal que passei.
Eu realmente não queria sentir isso, mas essa é a verdade nua e crua. Estou apavorada demais para pensar no melhor. Ou para ser melhor.
A única coisa que sei é que qualquer chance que eu tenho de ser feliz mais essa criança está bem longe daqui, e eu vou ir atrás dela. Não posso mais deitar ao lado do homem que quer apenas meu mal.
Já tinha conseguido pegar as cinco adagas de Gaara, ele nem deve ter dado a falta delas. Ele não era nenhum poço de organização o que me ajudou muito no processo. Três semanas haviam se passado desde a conversa com as outras e já conseguimos alguns avanços. Além das armas conseguimos alguns objetos que valiam algum dinheiro, sem contar que Sakura já tinha pego o mapa que continha as passagens secretas do palácio. Precisávamos apenas de um pouco mais de tempo para sair daqui e nunca mais voltar.
- Porque estás chorando?
Levei um susto e levantei de uma vez, causando-me uma tontura forte. Fui para trás para segurar em algo, porém meus dedos escorregam da pequena mesa que tinha ali, fazendo meu corpo tombar para frente. Fechei os olhos e coloquei minhas mãos sobre a barriga, para a proteger de qualquer impacto.
Não cheguei a encostar no chão, antes disso Gaara me segurou evitando uma queda feia.
- Tu estás gelada, Ino - falou ele me levando até a cama e me acomodando nela - comestes?
Sua voz monótona me dava nos nervos, não compreendo como uma pessoa pode ser tão fria ao se tratar dos outros.
- Comi - o respondi sem prolongar o assunto. Não queria causar nenhuma desconfiança.
Ele apenas deu de ombros e seguiu para o banheiro, batendo a porta com força. No começo eu me assustava quando ele fazia isso, mas hoje nem me importo mais, acabei me acostumando com seu jeito frio, grosso e prepotente de ser.
Suspirei pesadamente e me encolhi entre os lençóis da cama. Daqui a alguns minutos vai começar a tortura.
Olhei ao redor para me distrair.
O quarto do ruivo era assustador, possuía cores escuras e não tinha nenhum traço de familiaridade nele. Nenhum retrato, nenhuma pintura, nada. Era apenas paredes cinzas, um grande closet, uma cama enorme de casal com lençóis pretos e vermelhos, alguns moveis e a grande janela que tinha vista para o belo jardim. Era um quarto e frio, o que de certa forma combinava com o dono dele.
Uma sensação familiar crescia em mim sempre que olhava para o jardim. Eu não conseguia explicar o motivo, mas olhar para ele me acalmava de uma forma estranha e única. Ainda mais quando eu olhava para o grande canteiro de girassóis, minhas flores prediletas.
Fui tirada dos meus pensamentos por uma pontada em minha barriga. A apertei e gemi de dor. Aquilo doía absurdamente.  Assim que diminuiu levantei e fui até a jarra de água para beber um pouco de agua para ver se melhorava, mas antes de colocar algo no copo uma pontada mais forte que a última começou, acabei por largar a jarra no chão e soltar um grito.
-INO!? - Gritou Gaara saindo do banheiro enrolado em uma toalha e vindo na minha direção.
- Pelo amor de Deus, me ajuda - falei me contorcendo e soltando alguns barulhos desconexos por causa da dor.
Ele me levantou e me colocou na cama deitada, saiu correndo do meu lado e foi até a porta a abrindo com força.
- TRAGAM UM MÉDICO AGORA PARA CÁ! - Bradou para os guardas que estavam no corredor
As dores diminuíram e meu corpo pesou, era como se tivessem colocado chumbo nas minhas veias. Minha cabeça girava e doía e meu peito forçava o ar para dentro dos meus pulmões.
- Ino, não feche a merda dos olhos - Mandou.
A voz dele apenas piorava minha dor de cabeça.
-Tu és realmente um insensível - falei com a voz embolada e fechando os olhos com força.
- Abra os olhos!
- Não grite, minha cabeça está quase explodindo - falei quase chorando.
Mas que merda está acontecendo comigo?
-Tudo bem, só não feche os olhos, se você desmaiar pode piorar - falou preocupado.
Espera aí... Preocupado? Realmente eu estou muito mal para achar que ele está dando a mínima para mim, ele só não quer perder uma foda fácil.
-Como se realmente ligasse para o que acontecesse comigo, vossa alteza - falei irônica.
Minha cabeça ainda doía, porém bem menos. Estava suportável.
Antes de ele falar algo e brigar comigo um homem mais velho com os cabelos platinados e uma máscara tampando metade do seu rosto entrou no quarto.
-Peço que se retire majestade para que eu possa examina-la - falou com uma voz calma e monótona.
-Eu vou ficar Kakashi. - Disse Gaara cruzando os braços e fechando a cara para o mais velho.
- Vou repetir, é para sair Gaara, tenho que examina-la e ficando aqui só irás me atrapalhar.
O ruivo olhou feio para o médico que não deu a mínima para ele e foi colocar uma roupa e quando terminou fechou a porta com tanta força que nem sei como ela não saiu das dobradiças.
-Ele realmente não tem jeito - falou o platinado rindo de lado
-Fico impressionada de ainda estar vivo depois de ter falado assim com ele - falei assustada com a ousadia do homem a minha frente.
-Sou amigo da família real a anos, além de ser o médico de confiança deles. Tirei esse menino da barriga da mãe e o vi crescer – falou sorrindo pensativo, como se tivesse se lembrado de algo.
-Estás explicado porque sobrevivestes - falei soltando uma risadinha.
- Qual teu nome? - Perguntou
- Ino - disse deitando-me melhor no colchão.
- Ino de que?
- Apenas Ino, meus pais não quiseram colocar um segundo nome em mim - falei dando de ombros.
- Quantos anos têm?
- Dezessete anos.
-  E o que faz aqui? Trabalha com a limpeza?
Nesse momento arregalei meus olhos e virei meu rosto para não ter que o encarar. Provavelmente ele não tinha reparado na minha roupa, ou na falta dela para ser mais específica. Sabia que Gaara ficaria com raiva se eu mentisse para Kakashi então mesmo morrendo de vergonha de responder aquela pergunta eu não poderia fugir de lhe dar uma resposta.
-Faço parte do harem real - falei baixo evitando qualquer tipo de contato visual com o mesmo.
-Como?! - Perguntou ele.
Olhei em sua direção e seus olhos estavam um pouco arregalados e tinha algo neles que mostravam tristeza.
Agora ele tem pena ou nojo de você Ino, parabéns
- Fui dada como pagamento de uma dívida que minha família tinha com o reino - disse torcendo meus dedos, um tique nervoso que adquiri ao longo dos anos.
Ficou um silencio estranho e constrangedor no ambiente e tudo o que eu queria era desaparecer naquele momento.
- Entendo, mas então o que estava sentido para que me chamassem até aqui?
- Kakashi, tudo o que conversarmos aqui ficará aqui não é mesmo? - Perguntei aflita
- Claro que sim, eu não irei falar nada que não queira - falou me tranquilizando.
- Estou gravida - falei antes que perdesse a coragem - Gaara não sabe e peço que não o conte! Ele ficará uma fera e tenho medo do que ele pode fazer comigo e com essa criança - eu já estava em pânico e as lagrimas chegavam em cascata em meus olhos.
-Acalme-se, não pode se estressar- falou sentando- se perto de mim e me abraçando de lado, fazendo um leve carinho em meus cabelos.
- És tão difícil, eu não queria que fosse assim, eu juro. Mas eu não pude fazer nada para evitar que isso acontecesse. Eu sou tão fraca - falei entre soluços.
- Tu não és fraca Ino, pelo contrário. Não é qualquer pessoa que aguentaria uma situação dessas.
Ficamos um bom tempo assim e depois de me acalmar contei tudo o que aconteceu a ele. Ele me explicou que não poderia me estressar porque no início da gravidez isso pode ser prejudicial para a minha saúde e a do bebe, teria que ingerir comidas ricas em proteínas e vitaminas, também disse que ia dar um jeito de me ajudar sem que suspeitassem que estava gravida. Ele passaria aonde eu estava para me consultar com calma depois sem que ninguém pudesse atrapalhar e aproveitaria e daria uma olhada em Temari para ter certeza que ela também estava bem.
- Eu não sei nem como te agradecer, Kakashi - falei abraçando-o.
-Não tens que agradecer nada, é o mínimo que posso fazer - falou levantando-se -vou falar para ele entrar antes que arrombe a porta
Concordei soltando uma risada e ele piscou para mim.
Assim que a porta foi aberta Gaara entrou com tudo no quarto.
- O que ela tem Kakashi?
-Ela está com uma pequena infecção, vou tratar ela e fazer todas as recomendações necessárias. Nada de esforço ou estresse. Dentro de uma semana vou examina-la novamente e ver se apresentou melhoras do quadro.
-Tudo bem, obrigada por ter vindo Sensei
- Sem problemas, qualquer coisa mande chamar-me, quero acompanha-la de perto para ter certeza que vai ficar tudo bem.
Gaara apenas assentiu e acompanhou o mais velho até a porta. Eu nunca me senti tão grata como agora, devia muito a esse homem. Eles conversaram mais um pouco e o ruivo voltou para perto de mim, sentando-se na cama.
-Vai dormir, precisa descansar.
-Não mandas em mim, sabias? - Falei revirando os olhos.
-Na verdade mando sim, então vás dormir antes que eu esqueça tudo o que Kakashi recomendou e faça o que eu quero.
Encolhi-me na cama e concordei. Fui levantar para sair do quarto quando sua mão fria se fechou sobre o meu pulso, me mantendo no lugar.
-Durmas aqui hoje. - Falou olhando dentro dos meus olhos - Podes passar mal e ficando aqui será mais fácil caso aconteça algo com você.
-Tudo bem - falei ainda processando o que estava acontecendo.
-Ótimo, agora deite e durma logo.
E o Gaara retorna a ser o insensível de sempre - pensei revirando os olhos.
Essa bipolaridade dele é algo com o qual não consigo lidar
-Boa noite - disse virando-me para o lado oposto dele, enrolando-me nas cobertas e relaxando o corpo. Essa cama era uma maravilha para dormir, tão macia.
- Boa noite - falou se aproximando de mim e enlaçando minha cintura. Eu ia reclamar, porém eu me sentia extremamente bem naquele abraço, me sentia protegida. Sem contar que estava muito confortável ficar assim com ele.
Só mesmo uma gravidez para me deixar tão sensível ao ponto de gostar de ficar abraçada a esse ruivo mequetrefe.
Com esse pensamento e com a respiração suave do Sabuku batendo em minha nuca adormeci e dormi muito bem, esquecendo todos os problemas que eu estava enfrentando nessas últimas semanas.

Minha SalvaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora