"O medo aparece quando pensamos que tudo depende de nós."
- Elisabeth ElliotEstava encolhida no canto daquela gaiola, meu rosto ardia do tapa que havia levado e meu lábio se encontrava ferido e sangrando, mesmo que pouco. Meu corpo sacudia de um ponto para o outro a medida que os cavalos puxavam a estrutura, meu estômago começou a embrulhar e se tivesse comido algo pela manha já teria colocado tudo para fora. Nunca agradeci tanto por não ter comido antes na vida como fazia agora.
Já estava naquela há um bom tempo, o sol começava a ficar forte e a incomodar, pequenas gotas de suor desciam do meu rosto e tentava enxugá-las com a mão, porém elas estavam sujas devido ao tombo que levei quando aqueles brutamontes me pegaram, assim fazendo com que o meu rosto se encontra-se em uma mistura de suor e terra nada agradável. Estávamos indo para áreas mais afastadas para o recolhimento de impostos, aqui a maioria das pessoas viviam do cultivo da terra, as casas eram escassas, as pessoas preferiam morar mais perto das cidades ou em pequenos centros urbanos para conseguirem vender os alimentos e conseguir dinheiro. A medida que os cobradores paravam para recolherem os impostos muitas famílias não conseguiram pagar o total de moedas, porém por não possuírem nenhum déficit de meses anteriores conseguiam acordar de pagar tudo no próximo mês, porém uma dessas casas não tiveram essa chance de acordo, pegaram uma linda menina como forma de garantia de pagamento da divida , ela possuía longos cabelos pretos, mas tão pretos que chegavam a ser azulados, pele branca e leitosa sem nenhuma mancha se quer, corpo avantajado e bonito, rosto tão delicado quanto o de uma boneca, olhos de uma cinza tão claro que lembravam a perolas dos colares das mulheres da corte, ela deveria ter seus dezessete anos. Assim que ela foi posta para dentro da prisão de ferro se encolheu em um canto e desatou a chorar, seus soluços eram o único som que acompanhava a viagem. Comecei a me comover, ela parecia estar desesperada e não sabia que era possível chorar tanto assim, queria falar algo para ver se conseguia a acalmar, mas eu não sabia como conversar com alguém da minha idade, as únicas mulheres que eu conversava eram as que compravam os meus produtos na feira, sendo elas senhoras casadas e já de mais idade, sem mencionar o fato de que eu também estava apavorada com essa situação toda, mas diferente dessa menina eu conseguia me controlar e não demostrar para todos que estava com medo.
Decidi ficar na minha e deixar ela fazer o que achava melhor, afinal não tinha nada haver com os problemas dela, apesar de estarmos no mesmo barco. O percurso continuou por mais um tempo assim, mas depois de algumas poucas horas a carroça parou de uma vez, projetando meu corpo para frente, fazendo-me bater a cabeça nas grades e cortar minha testa. O sangue começou a escorrer pelo meu rosto e tentei impedir que ele entrasse em contato com meu olho, estava zonza por causa da pancada e comecei a sentir um gosto metálico na boca, cuspi e percebi que era sangue. Sentei no chão e ouvi o trinco da porta ser aberto, um dos soldados entrou e foi em direção a menina que chorava.
-Cale a boca! Seu choro está me dando nos nervos! - disse o brutamonte puxando com força o cabelo da garota, a fazendo soltar um pequeno gemido de dor.
Aquilo me irritou bastante, esqueci da minha tontura e fui até ele. Quem ele pensava que era para ferir alguém tão indefeso quanto aquela menina?
-Solte-a seu troglodita! - disse desferindo um chute certeiro em suas costelas fazendo-o cair no chão.
Tentei ir até a Azulada, mas dois guardas entraram e me impediram, me segurando, forçando-me a ajoelhar. O homem que havia acertado estava em pé na minha frente e puxou meus cabelos com demasiada força, mas não soltei nenhum som, apenas fechei meus olhos em fendas e o olhei com raiva para logo depois cuspir em sua roupa, o deixando irado.
-Oras sua... Como ousas fazer isto!? - disse acertando um forte tapa em minha face, fazendo meu rosto virar para o lado oposto devido a força que ele havia usado.
-Ousando, não tenho um pingo de medo de tu! - disse sorrindo de lado e o olhando.
Ele estava vermelho de raiva, suas mãos estavam em punhos ao lado de seu corpo e seus olhos de cobra me miravam com tanta ira que por um segundo temi estar vendo o próprio demônio. Ele vai me matar, era só nisso que conseguia pensar enquanto engolia em seco.
-Mas irá aprender a ter, e lhe digo mais... Tu irás desejar nunca ter vindo ao mundo! - sua voz saiu baixa e mordaz e sem que conseguisse evitar todo o meu corpo retesou pelo medo.
Ele saiu me puxando pelos cabelos e me jogou em um canto com certa brutalidade, saiu e trancou a porta, voltando ao seu posto e fazendo a carroça andar. Levantei com certa dificuldade e me sentei, meu rosto ardia e o sangue pingava devido ao corte na testa, meu corpo estava um pouco dolorido por causa da queda, mas eu sobreviveria. Fechei meus olhos e comecei a respirar bem fundo para tentar me acalmar um pouco, quando abri meus olhos a garota de orbes estranhos estava me encarando.
-Obrigada por me defender, mas não precisava fazer aquilo. - disse ela com a voz baixa. Sua voz era doce e muito delicada, ela não parecia uma camponesa, mas sim alguém da realeza.
-Precisava sim. - respondi sorrindo de lado.
-Vou tentar dar um jeito nestes cortes no seu rosto, eles podem infeccionar. - disse ela com calma, pegando a barra de seu vestido marrom e rasgando-o, pegando e pedaço de pano e passando no meu rosto para tirar o sangue.
-Não precisa fazer isto, estou bem. - falei tentando afastar meu rosto de suas mãos delicadas, mas não deu muito certo, ela apenas me olhou feio e voltou a cuidar de meus ferimentos.
-Fique quieta e deixe-me fazer isto logo sua teimosa! - disse de um jeito muito fofo e sorrindo. - a propósito, meu nome és Hinata.
- Tenten. - disse para ela.
Depois que ela terminou de limpar meu rosto enfaixou minha testa com outro pedaço do pano do vestido que usava e se sentou ao meu lado, ficamos conversando um bom tempo, só percebi o quanto o tempo havia passado quando começou a anoitecer e os homens do reino pararam a carroça para montar um acampamento. Soltaram os cavalos e os deram água e alimento, fizeram uma fogueira para os aquecer durante a noite. Meu estômago doía devido a falta de alimento, tentei pensar em alguma coisa para esquecer da fome e do frio que começava a fazer.
A porta foi aberta e uma cuia com água foi posta, assim como um pão e um cobertor. Nada foi dito, a porta apenas foi fechada novamente.
-Pode comer Hina, estou sem fome. - disse fechando os olhos e tentando dormir.
-Nada disso, tu também irás comer. Vamos dividir - falou ela.
Abri meus olhos espantada e a olhei. Ela realmente queria dividir o alimento comigo? Isso era novo para mim, as pessoas não eram muito de dividir as coisas. Lá em casa eu sempre cedia meu alimento para o meu pai enquanto ele ainda era vivo porque eu o amava e faria tudo por ele. Mas Hinata nem me conhecia direito e estava ali querendo dividir a pouca comida que tinha comigo, que era uma completa estranha para ela
-Não há necessidade, sério. - olhei para a garota e ela apenas balançou a cabeça e bufou.
-Por Deus, você é muito teimosa garota! Coma logo e pare de reclamar. - falou ela me dando um pedaço do pão.
Peguei a comida de sua mão e fiquei encarando aquilo meio atônita.
-Porque? - perguntei.
-Hã ? Como assim porque? - perguntou ela me olhando confusa.
-Porque insistir tanto para eu comer e até mesmo dividir comigo? Esta comida certamente não é para mim, aquele homem quer me ver morta por ter o afrontado. - falei soltando um pequeno riso ao falar a última parte.
Eu estava em uma grande furada
A garota abriu um lindo sorriso e deu de ombros.
-Não sei o motivo. Mas posso te responder com outra pergunta. Porque me defendestes? - perguntou e arqueou uma de suas sobrancelhas ao olhar para mim. Fiquei sem resposta. Eu a defendi porque me senti incomodada com aquilo, apesar de não ter nada haver com o assunto. Eu não sabia explicar o motivo de ter feito o que fiz para ser bem franca. - viu só - disse ela dando uma pequena risada - não há motivo. Nós duas só estamos defendendo uma a outra, e vai ser assim por um bom tempo. Já tenho você como alguém da família, e a família se defende.
Arregalei tanto meus olhos que fiquei com medo de rasgar minha pele ao redor dos olhos. Meu coração acelerou um pouco e sem perceber havia dado um sorriso para ela.
-É parece que somos uma família agora baixinha! - disse soltando uma pequena gargalhada enquanto ele inflava as bochechas e fazia um bico enorme.
Comemos e bebemos a água, depois que terminamos nos deitamos uma perto da outra e jogamos a coberta por cima para diminuir um pouco o frio que sentíamos. Antes de pegar no sono fiquei pensando em como seria as coisas daqui para a frente e sorri por saber que apesar de tudo eu não estaria mais sozinha, teria alguém do meu lado para me ajudar a passar por tudo que possa vim.
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Minha Salvação
FanficUm grande território, formado por diversas uniões durante os séculos é governado por cinco Senhores, Uzumaki Naruto, um dos generais do grande exercito, que é conhecido por nunca ter perdido uma batalha, é governante das terras ao sul do grande feud...