Capítulo XIII

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Você nunca pensou nos outros
Você só viu sua dor
E agora eu choro no meio da noite
Pelo mesmo maldito motivo
- Because of You - Kelly Clarkson

Hinata

Não posso dizer que todos esses meses aqui presa foram de todo mal.
Uma das coisas positivas disso tudo foi ter conhecido Sakura, Ino, Tenten e Temari, elas fazem os dias aqui serem mais divertidos e menos opressivos, elas se tornaram a minha família. Em tão pouco tempo consegui algo que pensei que nunca fosse ter.
Eu sempre procuro ver o melhor em qualquer situação que eu enfrente, pode até ser um defeito meu, porém, por mais louco e improvável que seja, até mesmo o fato de eu ser obrigada a conviver com Naruto está tendo o seu lado positivo. Com o passar do tempo percebi que ele era uma pessoa relativamente boa, sempre preocupado em fazer o melhor possível em qualquer coisa que fizesse. É admirável a força de vontade que ele possui.
Até há algum tempo atrás eu morria de medo dele, não que eu tenha o perdoado por tudo o que o mesmo já me fez, longe disso, porém pude perceber um lado que antes eu me recusava a ver, por que, bom... Para mim quem fez o que ele fez comigo não tinha nada de bom para mostrar aos outros, mas eu me enganei. Ele está cheio de defeitos, não tem como negar isso, mas se sobrepondo a isso existe algumas poucas qualidades significativas.
A nossa "relação" melhorou consideravelmente, ele parou de ser tão bruto e desprezível e eu consegui me fortalecer muito tendo que conviver com ele. Antes eu não conseguia controlar minhas ações, sempre fui levada facilmente pela emoção, porém hoje em dia consigo me controlar muito mais, sem contar que o Uzumaki havia me ensinado algumas coisas sobre o exército, antes eu não sabia nem o que era um regimento, mas atualmente me arisco a dizer que sou quase uma comandante!
Mesmo tendo me acostumado a essa vida que levo, eu não consigo ver a hora em que vamos finalmente sair daqui, afinal acostumar-se a algo é totalmente diferente de aceitar. Talvez tudo pudesse ter sido diferente, mas para mim já não tinha mais jeito, Naruto conseguiu acabar com qualquer resquício de uma vida juntos entre eu e ele que pudesse existir.
Eu irei para longe dele, para bem longe, e a única coisa que levarei comigo de toda essa história serão as marcas que ficaram em meu corpo e mente, assim como o filho que carrego em meu ventre. E de uma coisa eu tenho certeza, não me arrependeria de minha escolha, mesmo que as coisas compliquem em um futuro próximo ou distante, eu iria lutar por minhas ideologias, ninguém nunca mais iria me subjugar. Quase dezessete anos vivendo oprimida me fizeram perceber que eu não poderia mais me esconder, eu tinha que ir a luta, e era isso que eu faria.
Estava na biblioteca folheando um livro, mas sem realmente prestar atenção nas palavras que estavam escritas naquelas páginas meio amareladas, minha mente não estava focada a aquele momento, ela vagava por vários episódios que já me aconteceram, um deles foi o dia em que o Uzumaki havia liberado minha livre circulação pelo castelo.
Foi algo bem inusitado.
Aconteceu no dia em que estava mexendo em suas coisas procurando algum mapa mais atualizado sobre as rotas e regimentos espalhados pelo território. Estava mexendo nos papéis espalhados sobre a sua escrivaninha quando ele abriu a porta de uma vez, fazendo- me assustar e jogar as folhas que segurava no chão. Meus olhos quase saíram do meu glóbulo ocular, eu jurava que naquele momento ele iria me trucidar por estar mexendo em suas coisas sem permissão, porém ele apenas ficou curioso e me perguntou o motivo de eu estar mexendo em suas folhas. Na hora eu não sabia o que responder, então apenas falei a primeira coisa que me veio à mente, sem pensar muito em minhas palavras.
- Estava procurando algo para ler e me distrair, não aguento mais ficar aqui trancada. - falei para logo depois tampar a minha boca com as duas mãos.
Mas que merda era que eu tinha dito? Não poderia ter inventando nada melhor não?
O Uzumaki soltou uma risada constrangida e coçou sua nuca, ato que percebi ser frequente quando o mesmo estava nervoso ou envergonhado.
- Fui um idiota com você - falou ele olhando em volta do quarto enquanto mantinha sua mão em seu pescoço. A minha vontade era de erguer uma sobrancelha e lhe dizer "jura mesmo? Nem notei que acabastes de perceber o óbvio" - olha sei que começamos errado - começou ele me olhando nos olhos e por alguma razão eu não sentia aquela necessidade pungente de desviar meu olhar como aconteceu em todas as outras vezes que ele fez isso antes -eu sou um babaca e sei disso, mantive-te em estado de cárcere por mais de quatro meses, os únicos lugares que conheces desse palácio são meu quarto e a ala em que ficas.
Ele desviou novamente o olhar e caminhou até sua cama se sentando nela, e eu continuei em pé, apoiada em sua escrivaninha. Eu queria muito falar o que eu pensava, porém chamá-lo de imbecíl, filho da puta, sociopata e estuprador não iria me ajudar em nada. Então apenas me mantive quieta enquanto ele continuava com o seu monólogo.
- Eu não tenho nem o que te falar para tentar me redimir, não tenho nenhum maldito motivo para merecer tentar conquistar teu perdão. Caralho! - ele gritou, assustando-me. Recuei para trás e olhei receosa para ele, que continuava sentado na cama, mas agora suas mãos apertavam com força o colchão abaixo de si. - essa situação está me deixando louco. Mais louco do que já sou! - ele deu um pulo da cama se levantando - tu estás fudendo com a minha cabeça a cada dia que passa. Eu não posso, entendeu? Não posso.
- Eu não estou te entendo - falei ainda receosa, mantendo uma distância segura. Não queria estar perto caso ele enlouquecesse e começasse a quebrar as coisas jogando-as pelo quarto, o que já havia acontecido antes. - não tens o menor sentido o que falas para mim. As coisas são como são, não tens como mudar o passado, pare de se martirizar por algo que já aconteceu, apenas esqueças.
Os olhos de Naruto escureceram e sua respiração ficou pesada, como se ele forçasse para que o ar entrasse em seu corpo corretamente. Suas mãos se fecharam em punhos e seu rosto se contorceu em uma expressão agoniada.
- Tens certas coisas que por mais que tentemos nunca iremos esquecer, Hinata.
Seu rosto voltou a ser inexpressivo depois dessa fala.
Eu ainda não me acostumei com as mudanças de humor que o loiro possuía, mas eu conseguia perceber que, seja lá o que ele esteja pensando, era uma coisa que o machucava.
- Podemos não esquecê-las, porém aprendemos a ser alguém melhor com elas. - cheguei perto dele, esquecendo do receio que sentia de me aproximar, e coloquei uma mão sobre seu ombro. Ele estava tenso e respirava mais rápido que o normal. - tudo de ruim que acontece tem seu lado bom e tudo de bom também tem seu lado ruim, acontece que estamos tão preocupados e anestesiados sentindo aquele momento que não paramos para refletir no que aquilo significa para cada um, ou para o que mudou em nós. - comecei a mover minhas mãos em círculos, como se fosse uma pequena massagem para que o homem ao meu lado relaxasse um pouco. Dei poucos passos até ficar frente à frente com ele, tendo que levantar meu rosto para conseguir olhar em seus olhos. - não sei o porque de estar assim agora, mas não podes se abater desta forma. Todos temos uma cruz para carregar, mas não se pode deixar que alguém além de si mesmo saiba de sua existência. Tem que ser forte para aguentar as pancadas da vida, e ser mais forte ainda para aguentar a mudança.
Ficamos nessa posição por um bom tempo, apenas um olhando o outro, tentando entender o que se passava na mente de cada um.
- Você é boa - falou acariciando meu rosto - boa demais para alguém como eu.
Meu coração acelerou a tal ponto que podia jurar que qualquer pessoa conseguiria ouvi-lo e só de imaginar isso meu rosto queimou em vermelho vivo.
- Não fale essas coisas - falei tentando retirar meu rosto de suas mãos. Só queria me esconder em algum lugar, odiava quando ele me tratava como se fosse alguém especial, porque por mais absurdo que seja eu me sentia bem quando ele me tratava assim.
- Só estou falando a verdade, Hinata. Não entendo o motivo de sempre ficar assim quando te digo essas coisas - falou me mantendo no lugar em que estava.
- Não somos amigos, muito menos um casal para que fale essas coisas para mim. A única coisa que temos é uma relação de Senhor e Submissa, nada a mais. - falei desviando meu olhar, mirando a janela que estava do outro lado do quarto.
Ele me soltou, mas continuou em pé na minha frente.
- Tens minha permissão para andar pelo palácio, só não podes ir para o último andar. Um guarda irá te acompanhar quando quiser sair - sua voz saiu fria.
Eu realmente não entendo essa bipolaridade
- Obrigado, Mestre.
Voltei a realidade com o barulho de algo caindo no chão. Olhei ao redor mais não conseguia ver ninguém.
Levantei da poltrona que ocupava, a qual ficava no final da imensa biblioteca, e comecei a andar pelos corredores extensos, olhando ao redor para ver se encontrava o motivo do barulho. Parei quando achei um livro no chão.
Mas como ele tinha ido parar aqui?
Estava encarando o livro tão atentamente que levei um susto quando falaram comigo.
- Eu que o derrubei - uma voz imponente cortou o silêncio.
Virei-me em direção a ela e me vi de frente a Neji. Ele usava vestes casuais, uma calça branca bem leve junto com uma camisa cinza de mangas longas. Não era um traje costumeiro de um príncipe, porém parecia se adequar perfeitamente a ele.
- Aqui está - falei entregando-o para ele.
Ele apenas concordou com a cabeça, agradecendo.
Não sabia muito bem o que fazer, seria falta de educação da minha parte virar as costas para ele e voltar para o lugar aonde estava lendo, porém ficar na sua presença sem saber o que fazer ou como agir estava me deixando constrangida.
Então, para evitar que me sentisse assim, levantei meu rosto e olhei melhor para ele. Uma das coisas que mais me chamavam atenção nele era o fato do mesmo ter cabelos compridos, o que era muito exótico vindo de homens, porém nele ficava inegavelmente atraente. Suas madeixas estavam presas em um rabo de cavalo frouxo, o que deixava alguns fios se soltarem e grudarem em seu rosto. Ele usava o mesmo tipo de penteado que eu. Seus olhos se pareciam com os meus, o que era algo bem curioso. Nunca, em todo esse tempo, tinha visto alguém com os mesmos olhos que eu, ou no mínimo semelhantes. Nem mesmo meus pais os possuíam.
Tombei minha cabeça para o lado o olhando com curiosidade. Eu queria saber o porque de termos olhos tão parecidos assim.
- Neji! - alguém gritou, tirando-me do transe em que estava.
- Estou aqui, Naruto - respondeu o outro.
Afastei-me imediatamente quando ouvi o nome de Naruto, não queria arrumar confusão com ele.
- Hinata, o que faz aqui? - perguntou o loiro com riscos na bochecha.
- Estava lendo - falei simplista, parando de andar e suspirando pesado, virando-me para ele.
Ele estava ao lado de Neji e quando me virei o seu rosto embranqueceu.
- Por Deus! - exclamou ele
Ergui uma sobrancelha olhando indagadora para ele.
- Porque estás tão pálido assim? - perguntei
- Por nada - falou andando para trás, acabando por esbarrar em uma estante e quase derrubar tudo o que estava nela - eu tenho que ir agora!
Ele saiu correndo, deixando eu e Neji sem entender nada para trás.









Naruto

Merda!
Mil vezes merda!
Eu não acredito, como pude ser tão estupido dessa forma?
Corria pelos corredores do palácio feito um louco, quase atropelei um ou dois guardas durante o meu percurso, mas isso pouco me importava no momento. Tinha que chegar até o meu escritório, e rápido.
Entrei em meu escritório em um estrondo, assustando Kiba e Rock Lee.
- Ainda bem que estão aqui! - falei me apoiando na parede, fechando os olhos.
- Tu estás bem, Naruto?- perguntou Kiba e Lee juntos
- Calem a boca e me escutem! - disse afoito, sem responder a pergunta. - preciso que façam uma missão para mim, mas ninguém pode saber. É extremamente sigiloso, e só confio em vocês para isso.
- Aceitamos a missão. O que temos que fazer? - disse Lee
Respirei fundo e me desencostei da parede, passando minhas mãos em meus cabelos. Estava nervoso e meu estômago revirava.
Merda
- Preciso que peguem os registros de Sakura, Ino, Temari, Hianta e Tenten. Quero que descubram quem são as famílias delas e as tragam para o palácio.
- Certo, faremos isso. Mas para que? - perguntou Kiba
- Não tens que saber a merda do motivo, só faças o que estou mandando. Tragam eles para cá! Quero todos aqui em quatro dias! - gritei perdendo a pouca calma que ainda tinha. Os dois se assustaram com minha reação, arregalando os olhos, mas se mantiveram firmes em seus lugares, como verdadeiros soldados. - o que ainda fazem aqui?! Saiam da minha sala agora e vão fazer o que lhes ordenei!- gritei
Os dois bateram continência em respeito a mim e saíram, fechando a porta após o ato.
Desabei no chão e coloquei minha cabeça entre meus joelhos, tentando controlar o turbilhão de sentimentos que estavam me desestabilizando. Eu estava me sentindo extremamente perdido e agoniado.
Era coincidência demais!
Hinata possuía os olhos de Neji, porém não me atentei a esse fato, ninguém se atentou a ele, afinal qual seria a probabilidade de ela ser a Hyuuga desaparecida? Era mínima! Mas ao vê-la hoje perto de Neji um click veio a minha mente, como uma arma disparada em minha direção. Os dois eram muito parecidos, parecidos demais.
Como não percebemos uma característica única do Clã Hyuuga?
Só de pensar nisso meu estômago embrulhava.
Se o que estou pensando realmente for verdade eu nunca irei me perdoar.
Sakura possuía olhos verdes e cabelos róseos naturais. Não era comum uma coloração como aquela, que era típica do Clã Haruno, ao qual a irmã de Sasuke pertencia.
Ino era uma bela loira de olhos azuis tão límpidos quanto os meus e de Deidara, e por falar nele, Ino era a versão feminina do meu irmão mais velho.
Temari e Tenten eram mais difíceis de comparar, apesar de terem as mesmas características físicas da Sabuku e Nara desaparecidas, porém o temperamento explosivo e inconstante de Temari me lembrava a Gaara e a calma de Tenten a Shikamaru.
Não poderia ser real, elas estavam aqui, o tempo todo bem embaixo dos nossos narizes! Como não percebemos?
Se isso realmente se confirmar.... Por Deus, eu não saberia nem por onde começar.
Eu nunca desejei tanto em minha vida não ter encontrado minha irmã mais nova.

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