Capítulo XVI

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"Você foi embora em paz e me deixou em pedaços."
- Selena Gomez

Sakura

Temari nos guiava através da trilha no meio da floresta. A cada passo que dávamos mais a vegetação se tornava densa, a copa das árvores se fechavam a cima das nossas cabeças e poucos eram os raios solares que conseguiam passar por entre as folhas amontoadas. Eu estava começando a ficar agoniada, para onde quer que olhasse só conseguia ver mato e mais mato, em diferentes colorações de verde, marrom e amarelo
Eu não era fresca com isso, fui criada na plantação, ajudava meus país com a colheita e logo atrás da propriedade tinha uma mata, nunca me aventurei a entrar nela sozinha, a explorei apenas uma única vez junto com meu irmão, porém assim que escutei alguns barulhos estranhos eu saí correndo em direção à nossa casa e nunca mais voltei a pisar lá.
Poderia parecer medrosa, mas não sou fã de lugares onde não conheço nada e nem sei o que pode acontecer.
Bom agora eu não tinha muita opção, esse era o único jeito de conseguirmos nossa liberdade, então se for necessário eu enfrentar meus medos para isso eu o irei fazer, o quanto mais longe ficar desse lugar melhor.
Temari me surpreendeu, nunca imaginei que ela soubesse usar uma arma como usou, também não sabia que conseguia se guiar por uma floresta tão bem. Está certo que havia uma trilha e que estávamos seguindo por ela, porém a todo instante eu percebia o olhar atento da Loira mais velha ao seu redor, escutando os sons e analisando o chão. Eu não entendia muito bem o porque disso, mas parecia ser importante.
Ela parou e olhou para os lados, analisou um punhado de terra que havia pego e a esmagou nas mãos.
- Já está para escurecer, não será uma boa ideia ficar nessa trilha, podemos ficar muito vulneráveis aqui – disse ela virando-se para nós – vamos sair daqui e procurar por um lugar para acampar.
- Tudo bem – respondeu Tenten.
Assentimos e continuamos seguindo a Loira. Ela saiu da trilha e se embrenhou por entre as árvores. Era incrível a forma com a qual ela conseguia se movimentar sem pisar em galhos ou escorregar devido ao barro escorregadio. Eu estava patinando naquela lama e toda hora tropeçava em um galho. Eu não conseguia entender como ela conseguiu se machucar daquela forma na primeira vez que tentamos fugir, era notável que ela tinha experiência em terrenos irregulares. Bom, agora nada disso importa mais, tenho que pensar no agora e não no que aconteceu antes.
Continuamos a andar até um conjunto de árvores que formavam uma espécie de círculo. Eu não sabia o quanto tínhamos nos afastado da trilha, mas tenho certeza que Temari sabe muito bem onde ela está.
- Muito bem, vamos ficar por aqui essa noite. – disse Temari soltando sua bolsa no chão – arrumem suas coisas, vou pegar lenha para montar uma fogueira.
- Tema, não achas que uma fogueira podes chamar muita atenção? – questionou Hinata.
- Bom, a menos que queiram morrer de frio durante a noite ou serem atacadas por um animal selvagem enquanto domem... – começou ela.
- Animais! – gritou Ino.
Temari apenas rolou os olhos.
- Estamos em uma floresta, Ino. Tem animais aqui, em toda parte, a gente só não consegue os ver – disse dando de ombros.
- Aí meu Deus! – disse a mais baixa andando de um lado a outro – eu não quero ficar aqui! Eu posso morrer! – desesperou-se
- Calma aí, Criatura – disse Temari rindo – a fogueira vai manter os animais longe durante a noite.
- Como podes ter tanta certeza? – perguntou Ino desconfiada.
- Já passei longos períodos em florestas e nunca fui atacada – disse ela dando de ombros.
- És porque nenhum animal iria querer tua carne, eles iam passar mal! – disse Ino – já eu não. Minha carne é muito suculenta, eles vão me querer! – disse ela quase chorando.
Eu não me aguentei, comecei a rir igual uma condenada.
- Realmente, eles devem adorar carne de porco, Porquinha! – disse entre risadas fazendo todas as outras garotas rirem e Ino bufar.
- Calada, Testa de Marquise!
- Por Deus, é cada uma que sou obrigada a escutar – falou Tenten sacudindo a cabeça em negação e rindo.
- Concordo – disse Hinata que estava com as bochechas vermelhas de tanto rir.
- Eu vou logo pegar os galhos antes que escureça de vez – disse Temari depois que paramos de rir.
- Não achas melhor sentar um pouco e descansastes, Tema? – indagou Hinata – tu estás grávida e já fez muito esforço por hoje, sem contar o machucado no teu braço. Eu posso ir e tu ficas aqui, podes prejudicar o neném.
Eu não tinha parado para pensar nisso. Temari estava com cinco meses de gestação e sua barriga começava a aparecer, mesmo que ainda possa ser confundida com gordura abdominal ao invés de uma gestação. O dia tinha sido bastante estressante, principalmente para ela, e de certa forma a Azulada estava certa, Temari precisava ficar quieta.
- Não acho uma boa ideia, tu podes se perder no meio da mata. – respondeu Temari insegura – não é inteligente deixar alguém que nunca se embrenhou no meio da mata sozinho, é perigoso.
- Eu vou com ela, amarro a corda em uma árvore próxima daqui e seguimos a corda na hora de voltar – falei indo para o lado de Hinata – ela está certa, tu já se esforçastes demais para um dia, tens que ficar quieta, sem contar que é uma péssima ideia carregar peso com este braço machucado.
A loira mais velha parou para pensar um segundo e logo depois soltou um suspiro resignado.
- Estão certas, mas isso não invalida meu ponto de vista, é perigoso e já estás escurecendo. Pode acontecer alguma coisa...
- Não vai acontecer nada – disse Hinata – vamos buscar bem rápido e voltamos.
- Tudo bem – disse Temari suspirando derrotada – não demorem e peguem a maior quantidade de galhos secos que conseguirem. Se escurecer demais e vocês não voltarem vou atrás. – ditou por fim.
- Não vai acontecer nada, mamãe – falei brincando um pouco.
- Vão logo pragas, antes que eu desista dessa péssima ideia – bradou Temari irritada.
Eu e Hinata demos no pé rapidinho. Temari já era irritada por natureza, mas agora com a gravidez mais avançada os hormônios afetaram ainda mais o seu temperamento da loira e ela ficou extremamente bipolar, uma hora estava rindo para o nada, no outro quebrando tudo o que aparecia na sua frente e no outro chorava como uma criança. Era difícil acompanhar as mudanças constantes de humor dela e mais difícil ainda lidar com elas, então o mais sábio era manter uma distancia segura quando isso acontecia.
Amarrei a corda em uma árvore próxima da onde estávamos acampadas e fui junto com Hinata atrás de lenha. Alguns grilos cantavam ao longe, fazendo uma serenata bonita e calma . Aos poucos a luz do sol se esvaia, projetando sombras pelas árvores, as diferentes tonalidades da floresta foram atenuadas pela luz fraca mais alaranjada, era belíssimo e se eu soubesse desenhar com toda a certeza meus dedos estariam loucos para registrar esse momento, porém eu não era nenhuma artista, sem falar que eu tinha pouco tempo para voltar com os galhos junto a Hinata.
Conseguimos achar alguns galhos depois de um tempo de caminhada, eles estavam secos e serviriam para a fogueira que Temari queria fazer. Enchi meus braços com a maior quantidade de madeira que consegui, Hinata fez o mesmo que eu, porém era engraçado ver uma pessoa tão pequena carregando tanta coisa assim, a cabeça dela mal aparecia por causa dos galhos.
- Não achas que estás carregando muita coisa? – perguntei soltando um risinho – és perigoso caístes, mal consegues enxergar o que estás a frente.
- Eu não irei cair – respondeu Hinata achando graça – se destarte irei chegar antes que tu.
Apenas revirei meus olhos e comecei a caminhada de volta. A ideia de usar a corda foi muito boa, porque eu não tinha a mínima ideia de como voltar para o lugar em que estávamos sem falar que mal prestei atenção no caminho quando viemos, apenas observei a paisagem e parei quando encontramos quantidade suficiente de madeira. A noite já tinha caído e estava difícil enxergar o caminho, tornando-o bem perigoso, diversos pedaços de galhos me faziam perder o equilíbrio quando prendiam em meus sapatos, quase cai umas quatro vezes até agora.
Hinata ia a minha frente e pelo jeito ela estava do mesmo modo que eu, a todo instante uma quase queda a assolava. Quando estávamos bem perto do lugar em que iríamos ficar Hinata tupicou e caiu no chão, tudo o que ela carregava foi jogado na terra e se espalhou.
- Hinata! – falei quando a alcancei – estás bem? Machucastes? – coloquei os troncos ao meu lado e me agachei ao lado dela.
- Acho que sim – disse ela olhando para mim.
- Conseguistes se levantar?
- Não sei, estou um pouco tonta, por isso cai. – responde a Azulada.
Arqueei uma das minhas sobrancelhas.
- Estás ficando tonta com muita frequência?
- Não – disse ela me encarando confusa – de vez em quando tenho isso. Pode ser por falta de alimentação, eu comi apenas antes de sair do palácio e isso faz horas, caminhei muito e estou cansada. Acho que meu corpo está pedindo um descanso – respondeu dando uma risadinha.
- Tens certeza? – continuei insistindo – tu sabes, nos dormimos com os príncipes, e...
- Achas que estou grávida?!- indagou Hinata perdendo toda a cor do seu rosto.
- Não sei, para ser bem sincera para contigo qualquer uma de nós pode estar grávida – respondi dando de ombros, mas escondendo o quanto o assunto me incomodava – não usávamos proteção alguma, ao menos no meu caso nunca foi usado e imagino que foi o mesmo com todas nós. – suspirei e olhei novamente para o rosto de Hinata. Seus olhos estavam arregalados e sua pele branca estava mais pálida que o normal – nós estamos fugindo, não sei quanto tempo vamos demorar para encontrar um lugar seguro para recomeçamos a vida, porém não posso ser tão displicente. Eu, você e Tenten podemos sim estar grávidas e nem sabermos ainda, então, por favor, qualquer mal estar que sentir não esconda de ninguém, pode ser perigoso. – segurei nas mãos dela e fiz pequenos círculos em suas palmas para tentar acalma-la.
- Tudo bem – respondeu ela balançando a cabeça.
Soltei o ar que estava prendendo e resolvi falar logo antes que perdesse a coragem.
- Lembra do sangue que Kakashi coletou um pouco antes de fugirmos? – perguntei a Hina que afirmou com a cabeça – era para um exame, ele me disse que queria ter certeza que mais nenhuma de nós poderia estar grávida, mas eu não sei qual foi o resultado, saímos de lá antes de eu poder descobrir isso.
- Meu Deus... – exclamou Hinata – Sakura... Kakashi pode falar da gravidez, ele sabe que Temari e Ino estão grávidas e também vai saber se alguma outra estiver – disse se levantando assustada – eles vão vir atrás de nós, nunca aceitariam isso...
- Ei se acalma – disse me levantando e segurando o rosto dela em minhas mãos – não vai acontecer nada disso, nós vamos conseguir sair daqui e iremos recomeçar nossas vidas, com filhos ou não, não vamos nunca mais deixar que alguém mande em nós dessa forma novamente. – limpei uma lágrima que escorria de seu rosto – tu acreditas em mim?
- Sim – falou com a voz um pouco vacilante
- Então acredite no que te falo, vamos ser muito felizes e tudo o que aconteceu vai ser apenas uma memória ruim que vai nos impulsionar a cada dia que passar.
Hinata ia falar alguma coisa, porém o barulho de mato sendo esmago fez com que ela não se pronunciasse.
- Aí estão vocês! – exclamou Temari – já escureceu e ainda não tinham chegado, fiquei preocupada, achei que tivessem se perdido no meio do caminho.
- Não nos perdemos – respondi largando o rosto de Hinata – tua falta de fé em nossas habilidades me entristece – falei fazendo um beicinho. Logo depois abaixei-me e coletei os galhos que havia pego.
- Não é falta de fé – respondeu ela rolando os olhos pegando um pouco de galhos – é preocupação. As duas nunca andaram por uma floresta na vida, não iam saber se virar se acontecesse de se perderem – deu de ombros.
Por um lado ela estava coberta de razão, eu não saberia como proceder caso me perdesse no meio do mato e não saberia me defender corretamente se precisasse, eu nunca tinha feito algo desse tipo. A menos que correr em direção a minha casa enquanto fazia uma trilha com meu irmão valha de algo.
- Eu apenas cai, Tema – disse Hinata pegando o resto dos galhos e seguindo a gente – estava muito escuro e acabei tropeçando, não queria te deixar preocupada.
- Vocês estão bem e é isso que importa – disse a Loira encerrando o assunto.
Chegamos até nosso acampamento e montamos a fogueira, Temari nos ensinou a como ascender uma, caso precisássemos fazer isso um dia. Assim que as chamas clarearam o lugar e todas nós já tínhamos comido nos aproximamos mais do fogo e nos deitamos para descansar.
- Boa noite – falou Ino bocejando – vejo vocês amanhã.
Respondemos a Loira e nos desejamos Boa noite, logo depois fechei meus olhos e relaxei meu corpo.
Eu estava feliz, mesmo estando no meio de uma floresta dormindo sobre o barro eu estava feliz, pela primeira vez em muito tempo eu me sentia no controle da minha própria vida e isso era algo que eu nunca mais iria deixar que alguém me tirasse.








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