Capítulo 60

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Eu ainda nao sei como fui capaz, nunca imaginei que seria eu a deixar William, e sair daquele apartamento que em poucos meses se tornou o lar que eu nunca tive, sempre pensei que seria ele a me deixar e com toda certeza foi a coisa mais dificil que eu fiz na vida. Eu desejava voltar pro quarto, onde William estava, abraça-lo e não soltá-lo nunca. Então eu segurava a mão da Candinha e não soltava, porque se eu soltasse, eu não teria mais nenhum motivo pra ficar ali.

— Cuida bem dele por favor, você sabe que ele não come nas horas certas se não ficar insistindo.

— Eu sei,minha menina. — Ela disse segurando o choro e os segundos seguintes foram de silêncio. Então sem opção, eu soltei sua mão e sai por aquela porta, no elevador meu choro havia se tornado prantos e nenhuma palavra de Camilla foi suficiente pra me acalmar. Eu havia cravado uma faca no meu coração, deixando a razão do meu viver dentro daquele apartamento e no momento, nada curaria aquela dor, porque realmente não sei como eu fui capaz, mas eu estava do lado de fora, indo embora e a cada passo que eu dava, a dor parecia aumentar gradualmente e abundantemente, então eu chorei, chorei e chore... Chorei por dias inteiros... E sobrevivi. Eu havia deixado uma parte minha lá dentro, a razão do meu viver estava dentro daquele apartamento e eu... Eu não sei como fui capaz, mas eu estava do lado de fora, indo embora, então eu chorei e chorei... Chorei por dias inteiros... E sobrevivi exatos três dias sem o William, sim sobrevivi e apenas isso, porque não posso chamar de viver, não é , isso é apenas respirar.

Eu me sinto dormente, anestesiada demais pra fazer qualquer coisa além de chorar, por mais que eu tente, não consigo parar, tudo me faz chorar, até mesmo o jeito que o outro lado da cama ficou intacto, mostrando que dormi sozinha. O que é estranho porque naquele pequeno linear entre estar dormindo e estar acordada, eu consegui sentir William me abraçando, como se ele realmente estivesse aqui comigo, mas ao acordar, voltei a realidade e por mais que eu tenha me esforçado pra não pensar, pra não lembrar, eu não consigo evitar e o choro traz tudo consigo novamente. E me pergunto por quanto tempo vou aguentar suportar isso?

Eu já passei por muita coisa, me acostumei a ser decepcionada, abandonada, a receber migalhas e me contentar com elas, mas então William apareceu e ele me deu tudo, descobri uma nova vida ao seu lado, me descobri uma nova mulher e me acostumei com isso também, criei esperanças e pensei que poderia ser a mulher mais feliz do mundo. E nunca doeu tanto, nada doeu tanto como descobrir que tudo não passava era uma mentira. Porque eu havia colocado a minha mãe num pedestal e William estava ao lado dela, descobrir que ambos mentiram pra mim, foi um baque muito grande. Não consigo mais ver eles como eu via antes, de repente se tornaram pessoas que eu não conheço, capazes de me manipular, de mentir e de decidir por mim. Afinal se até eles, que "deveriam" me amar incondicionalmente mentiram, em quem eu vou poder confiar?
Me enrolei nas cobertas, sentindo pena de mim mesma, pensando porque entre todas as pessoas do mundo, isso aconteceu justo comigo. Eu estava tão feliz! Como pude ser tão burra e não perceber que tudo era uma farsa? Como pude acreditar por um momento que a minha sorte tinha mudado? Que o sofrimento era passado, que eu iria ser feliz. Coisas como essas não acontecem a pessoas como eu, o príncipe encantado não existe. E William não me ama, porque eu não consigo imaginar um único motivo pra alguém se apaixonar por mim. Sou fraca, sem personalidade, sem atitude, não sei me expressar e nem ser forte ou corajosa, eu não tenho nenhuma serventia meu pai já disse isso mil vezes, nunca fui a preferida de ninguém, porque ninguém nunca se importou em perder muito tempo comigo, sempre fui descartada no primeiro tempo, a que era facilmente excluída do grupo, porque ninguém sentiria minha falta. É por isso que todos me abandonam, porque eu sou facilmente esquecida e substituída. E isso nunca vai mudar. Se até a minha própria mãe me abandonou, porque outra pessoa me amaria? Ou melhor porque um homem como William me amaria?
Choro me agarrando no travesseiro, e deixo a dor invadir meu ser. Me pergunto se foi fácil pra ela me abandonar? Tão fácil como é pras outras pessoas. Meu desejo é ter cinco anos novamente, apenas para poder me jogar nos seus braços e deixar ela cuidar de mim, sem culpa, sem ressentimento. Cantando aquela canção de ninar que eu nunca consegui lembrar da letra, somente o tom da melodia. Queria perguntar pra ela qual era canção que ela cantava, é a única coisa que eu lembro, dela cantando pra mim dormir... Mas eu não vou conseguir olhar pra ela, menos ainda perguntar alguma coisa. Ela morreu naquela noite chuvosa e escura Isabel Perroni morreu afogada no rio, a minha mãe morreu aquele dia. Essa mulher que voltou agora eu não conheço, é uma total desconhecida e não sei se eu quero conhecê-la.

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