Capítulo 65

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O nosso beijo parecia não ter fim, porque nunca era o suficiente, mesmo a sua boca estando correspondendo a minha com paixão, seu corpo fazendo pressão contra o meu, ainda assim não era o suficiente para acabar com a saudade e o desejo dentro de mim.
Bela está presa entre mim e a parede, ali quietinha, entregue, doce e lânguida entre  meus braços. E eu quando termino o beijo chupando seu lábio inferior, não me fasto dela, a verdade é que não quero solta-la. Vejo que seus olhos estão marejados, mas ela não chora, apenas ergue a mão tocando meu rosto, sentindo a barba por fazer.
— William... — Sussurra. — Eu quero falar com a Isabel antes de ir. Ela me deve uma explicação.
— Está bem. — Já estava mais que na hora dessa conversa acontecer. — Vou chamar ela. Você pode esperar aqui no escritório. — Vou até uma porta e abro deixando ela entrar. Quando me afasto, Bela segura o  meu braço. E eu volto a olha-la.
— Não me deixa sozinha com ela, ta bom? — Quase sorrio com o pedido, sua voz tão meiga que parece um anjo.
— Eu não vou. — Ela respira parecendo aliviada. — Bela... Vai ficar tudo bem. — A abraço mais uma vez. — Eu estou aqui com você. — Ela me aperta e me demoro a solta-lá.

Quando volto para a sala, Isabel já está me olhando, ansiosa.
— Tia Isabel? A Maite quer falar com a senhora. —  Isabel se levanta rápidamente, como se já estivesse esperando por isso. E todos falam ao mesmo tempo, usando palavras diferentes, mas todos querendo dizer a mesma coisa, que ela ficasse calma.
— Estou bem. — Ela fala. — A minha filha está aqui e eu estou bem. — Ela vem até mim. Todos me olham preocupados e Rafa faz sinal pra eu ficar de olho. Guio minha tia até o escritório, ela entra hesitante, procurando por Bela. Que está sentada no sofá perto da janela, as mãos sobre o colo, nitidamente nervosa, olhando a mãe.
Isabel se aproxima dela e eu fecho a porta, sentando numa poltrona mais distante, querendo dar um pouco de privacidade a elas. Estranho o silêncio, pois nenhuma das duas fala nada, por alguns instantes.
— Eu falei com o meu pai hoje de manhã, mas ele não me falou nada de concreto. Então eu quero que a senhora me fale, quero ouvir da sua boca tudo que aconteceu. — Bela falou calmamente e parecia decidida a descobrir a verdade.
— Sim, minha filha... Eu vou te explicar tudo. — Já Isabel estava nervosa, mexendo os dedos das mãos sem parar. — Eu me apaixonei pelo seu pai, era muito nova, não sabia nada da vida e engravidei de você... — Ela respirou fundo e parecia emocionada. — Contrariando todas as expectativas seu pai brigou com a família dele e se casou comigo. Você nasceu e nós eramos felizes, até que o pai do Jorge veio a falecer e ele assumiu a empresa da família. O dinheiro corrompeu, passou a levar uma vida de solteiro, gastando muito e sempre trabalhando pra conseguir mais. O problema era que ele bebia e quando voltava pra casa bêbado, era... Era muito violento. — Isabel gagueja, parecer ter medo de dizer a palavra.
— Ele batia em você? — Bela perguntou, havia raiva em sua voz.
— Sim... — A voz de Isabel sai quase um sussurro. E ambas ficaram em silêncio, Bela encara o chão, parece distante dali. E só quando a mãe volta a falar, ela ergue o olhar. — Fói nessa época que conheci o Heriberto, ele trabalhava com Jorge e sempre estava lá em casa, era gentil e atencioso. Eu me apaixonei por ele, mas eu te juro, por tudo que a de mais sagrado que não aconteceu nada entre nós, antes de eu sair de casa. — Bela apenas afirmou com a cabeça sem olhar a mãe, talvez com vergonha, por falar de sexo com ela. — Eu me apaixonei por outro homem, mas eu nunca pensei em te deixar, jamais sequer cogitei a idéia de ir embora, eu aguentaria todas as humilhações do mundo por voce. — Num impulso, Isabel agarra a mão da filha, que está no colo dela, Bela não faz nada, mas também não tira a mão. Vejo que ela luta contra o choro. — Seu pai parecia me odiar e um dia eu pedi o divórcio, pensei que ele não de importaria, que ficaria feliz em se livrar de nós, sem perder o dinheiro dele. Mas eu estava enganada, ele enlouqueceu e me obrigou a dizer o motivo, falei sobre Heriberto foi pior... — É horrível entender que o pior que ela se refere, é que apanhou mais daquele desgraçado. — Ele nos levou a força para fazenda e quando Heriberto soube, temeu por nós e foi atrás. Foi então que Jorge me expulsou de casa, naquela noite chuvosa... — Isabel começa a chorar e Bela já não luta mais contra as lágrimas, minha vontade é ir até lá e abraca-la com força, protegê-la, em meu peito. — Ele... ele não me deixou te levar comigo,  tive que deixa-la sozinha,  mesmo sabendo que você tinha medo de chuva... E acordaria chamando por mim.... — É então que Bela desmorona, soluçando, escondendo o rosto com as mãos. Isabel acaricia suavemente as costas da filha, hesitante, mas então a puxa pra deitar no seu colo. Bela não se afasta e deixa a mãe acariciar seu cabelo enquanto seu choro vai se acalmando aos poucos. — Naquela noite eu fui embora, mas eu lutei pra te ter de volta meu amor, estava convencida que conseguiria sua guarda na justiça. Mas não foi assim... Foram quatro processos de guarda, e seu pai ganhou todos eles, me acusando de adultério, de ser uma má influência pra você, tantas coisas... Até de loucura... Mas eu não era louca, não sou... Eu sabia que podia cuidar de você, sou sua mãe... Mas nenhum juiz acreditou nisso, e o poder e o dinheiro do seu pai, terminaram por convencê-los a me afastar de uma vez por todas de você. E quando Jorge me disse que você pensava que eu estava morta... — Ela soluçou, colocando a mão no peito. Foi então que Bela levantou do colo dela, a olhando preocupada.
— Tudo bem?
— Sim... Só... dói lembrar... — As duas ficaram em silêncio , Isabel olhando para o nada. Bela me encarou, como se me pedise se ela estava bem, mas eu não sabia dizer, geralmente ela chora muito quando tem uma crise.
— Você era tão pequena... Precisava de mim... — Isabel a olha, devagar ergue a mão tocando o cabelo dela. — Agora já é uma mulher feita... eu perdi tudo isso... Perdi tudo... tudo... tudo... — Com a outra mão Isabel começou a bater na sua perna, dando socos, se autoflagelando. Só parou quando Bela agarrou a mão dela, olhando assustada.
— Não... Não faz isso. — Sussurrou. Isabel parou, perdida, mas foi então, que o choro desesperado veio forte, entre soluços e palavras incompreensíveis, de lágrima em lágrima o sofrimento ia transbordando para fora de seu corpo. Bela segurava sua mão e alizava as costas dela, seus olhos também com lágrimas contidas. O choro de Isabel parecia ser eterno, martirizante e quando ela começou a ficar sem ar, Bela se desesperou também.
Gritei por Heriberto, ele era o único que quase sempre conseguia acalmar ela. Ele se ajoelhou na frente dela e chamou por ela, disse pra ela respirar, se acalmar. Bela não soltou a mão dela e permaneceu sentada a seu lado. Heriberto conversou com Isabel por um longo tempo, a ajudando a respirar e pedindo que se acalmasse, que a filha dela estava ali com ela agora e não havia motivo pra chorar. Só então ela começou a se acalmar e respirar normalmente. Muito cansada, ela se apoiou nele. Heriberto disse que ia leva-la para cama, mas ela não queria, porque Bela estava ali, queria ficar com a filha. Bela permanecia ao seu lado, quieta, com lágrimas contidas e uma expressão de preocupação e medo que me partiu o coração. Eu sabia que seria assim e talvez por isso eu tenha demorado tanto pra leva-la a Nova York, porque não queria ver ela sofrendo com a mãe, como todos nós.
Mas então com a voz doce e embargada,  ela disse pra mãe, que a ajudava a ir até o quarto, pois ela precisava descansar, só assim Isabel aceitou se deitar. Bela a levou junto com Heriberto, não queria que ela ficasse sozinha, mas minha mãe me puxou de volta pra sala.
— O que a Maite disse pra ela? — Rafael logo perguntou. Sempre buscando um jeito de culpa-la por tudo.
— Não disse nada. Foi muito compreensiva e ouviu tudo que a Isabel falou.
— Então porque minha mãe está assim?
— Porque ela percebeu que agora Bela era uma mulher feita e que ela tinha perdido todo o crescimento dela, foi então começou a chorar sem parar e... — Me calo quando vejo Bela voltando pra sala. A expressão triste em seu rosto acaba comigo.
— Ela dormiu. — Bela sussura, pois todos a estamos olhando. Minha mãe se aproxima dela e a abraça. Quando ela disse que me ajudaria a cuidar de Bela e a trataria como uma filha, ela não estava brincando.
— Não fica assim querida, amanhã ela já vai estar bem de novo. — Bela só confirma com a cabeça, recebendo o abraço dela. E quando as duas se soltam, ficam lado a lado nos olhando.
— Bem... — Minha mãe fala. — Eu vou ir dormir, para de madrugada trocar com o Heriberto e deixar ele descansar um pouco.
— Não precisa tia, eu faço isso. — Rafael a responde. Ouço a conversa deles, mas com o olhar sigo Bela indo até a Camilla, que está sentada no sofá bebendo, ainda não ouvi a voz de Camilla depois de tudo o que aconteceu, o que é muito estranho, pois ela foi a que mais falou durante todo o jantar. As duas conversam baixinho, então Camilla a abraça forte, falando algo no ouvido dela...
— William? — Minha mãe me chama, pois estava longe...
— O que?
— Convence o Rafa a ir se divertir com os amigos, é o aniversário dele, Heriberto e eu cuidamos da Isabel.
— É Rafa, vai se divertir. Ela já esta bem agora.
— Sim, pode ir meu filho. — Minha mãe o abraça a depois a mim, se despidindo então de Bela e Camilla, indo se deitar.
— Nós também já vamos. — Minha Bela fala. E olha pra trás, esperando que Cami se levante também.
— Eu levo vocês... — Me apresso em dizer. 
— Não, precisa eu vim de carro. — Camilla fala, como se estivesse em condição de dirigir. Desde que chegou ela não parou de beber whisky puro.
— Exatamente por isso.
— Deixa que eu levo elas William, depois pego um taxi, você está de carro. E já que minha tia faz questão, eu vou comemorar lá com o pessoal do trabalho.  — Olho pra Rafael querendo matá-lo. Será que é tão difícil entender que eu quero ficar mais tempo com a minha mulher?
— Eu deixo meu carro aqui sem problema nenhum. Vamos? — Digo olhando para as  meninas, Bela acena com a cabeça e puxa Camilla com ela.
— Eu vou junto até lá embaixo. — Rafael fala, pois Bela iria se despedir dele. Então seguimos até o elevador.
— Quem vai levar nós? Deixei o carro lá no final da rua. — Camilla ergue a chave, que Rafael se apressa em pegar da mão dela. É hoje que eu vou socar a cara dele, sem me importar que é o seu aniversário.
— Eu já disse que levo elas... — Digo, mas ninguém parece me ouvir. Nesse instante o elevador chega e entramos, todos em silêncio, a expressão de preocupação em cada rosto, especialmente no de Bela, que encara o chão e parece cansada, Camilla esta igual e deita a cabeça no ombro dela.
— Eu não vou transar com ele, só porque estou bêbada. — Camilla sussura, ou ela pensa que está sussurrando né, porque  todos conseguimos ouvir perfeitamente. 
— O que? — Bela a olha confusa, acho que só agora percebendo que ela ta bêbada.
— Shhi... O barbeiro. Ainda to brava com ele, por te gritado comigo aquele dia. Ou... você acha que eu devo transar com ele por pena?
— Cami, fica quietinha por favor.
— Me responde antes.
— Acho que deve transar por pena. — Rafael fala a encarando. E me seguro pra não rir.
— A conversa não é com você. — Camilla fala brava e finalmente o elevador se abre.
— Eu vou buscar o carro. — Rafael diz indo na frente. Estou com raiva, mas agora ele já foi, não posso fazer mais nada. Ele é um idiota, será que custava deixar eu levar elas? É óbvio que a única coisa que ele quer é comer a Camilla e não que eu também não queira isso com a Bela, mas vai além disso, quero estar com ela, pra poder cuidar dela. Porque sei que nesse momento, ela me necessita mais que nunca. Vejo que ela suspira fundo, limpando a lágrima que escapou, Camilla está agarrada nela, mas não parece perceber, ela está bêbada, é óbvio que não vai cuidar de ninguém.
É nesse momento que Rafael chega com o carro, sei que vou ter que deixa-la ir e que vou passar mais outra noite em claro. principalmente agora, depois que a tive em meus braços, o gosto do seu beijo ainda em minha boca, a lembrança recente do seu corpo contra o meu. Camilla vai na frente, abrindo a porta do carro, mas Bela continua ali, parada ao meu lado. E sinceramente eu não sei o que falar pra me despedir dela, não quero uma despedida. Então vou implorar mais uma vez, pra que volte pra casa comigo.
— Bela... — Ela me olha, mas a voz de Camilla chama sua atenção.
— Você vai com a gente Bel? Não quero ficar sozinha com esse barbeiro.  — Camila fala, já dentro do carro, mas com a porta aberta. Acabando com todas as minhas esperanças.
— Não... — Ela me olha, como se pedisse permissão. — Eu... Vou pra casa com o William. — Solto o ar preso em meus pulmões, uma onda de alívio percorre meu corpo. Sentindo-me extremamente bem e confortável, aquela apreensão e angústia em meu peito sumindo por completo.
Eu não espero, puxo Bela para os meus braços, a aninhando em meu peito e beijo a sua testa.
— Vamos pra casa. — Ela apenas acente com a cabeça, sei quando ela está prestes a começar a chorar e esse é o momento, então não falo nada, apenas a levo para o carro e a coloco no seu lugar. Ali no carro, sozinha comigo, ela não consegue evitar e chora, escondendo o rosto com as mãos. Eu havia colocado o cinto, mas o retiro e a puxo para meu colo é um pouco difícil pelo volante, mas não impossível. Beijo seus cabelos e ela se esconde em meu peito, chorando de soluçar, eu deixo que chore e coloque tudo pra fora, chorar é bom.

— William... ela ta doente... Tá muito doente... — Diz entre soluços.
— Não... Ela já esta melhor, lúcida, e agora que conversou com você ela vai melhorar ainda mais. — Falo mas ela não parece acreditar e chora ainda mais. — Ela vai melhorar Bela.
— Eu olho pra ela... E eu sinto alivio a cada vez que ela respira... Porque eu penso que se eu me descuidar... Por um momento... Vou perder ela de novo...
— Isso não vai acontecer. Olha pra mim, não vamos deixar ela ficar doente de novo, todos nos vamos cuidar dela.
— Ela tenta se matar...
— Não é ela, é a doença... E ela não vai mais fazer isso, agora ela tem você. Ela tem você agora? — Ela afirma com a cabeça chorando. E eu a abraço mais forte, sabia que ela jamais iria abandonar a mãe e que ela vai fazer de tudo para que a mãe melhore. Sei que vai ser difícil, mas vamos estar juntos e isso basta.
Quando a sinto mais calma, pergunto se ela pode voltar pro lugar dela para irmos pra casa, ela concorda e coloca o cinto. Então eu saio com o carro, ela está calada e eu enlaço nossos dedos, mostrando que estou ali, ao seu lado. Ela não demora a pegar no sono, dormindo todo o trajeto até chegarmos em casa.
— Bela? — A chamo sorrindo, a olhando enquanto abre os olhos e ela sorri também — Nos já chegamos. Vamos? — Ela afirma e saio do carro, indo abrir a porta pra ela. A abraço, indo até o elevador, ela tem as mãos envolta da minha cintura e a cabeça apoiada em meu peito. Estou emocionado, depois de tanto sonhar, finalmente eu vou a ter em meus braços novamente,  dormindo em nossa cama, na nossa casa. E o melhor, porque ela decidiu voltar pra mim.


Enfim nosso casal ternura vai voltar pra casa, juntos e enamorados como sempre, acho que vai acontecer muita coisa essa noite ainda.. 😏❤




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