Capítulo 73

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Eu estive me preparado pra esse momento, durante meses, ansiando, desejando por ele, mas por mais preparada que eu esteja, no momento, me sinto completamente apavorada.
— Chama o William, eu quero ele aqui comigo... Mãe? — Olhei ao meu redor, e me encontrei sozinha no jardim, mas Isabel não demorou a aparecer, falando ao telefone.
— É o William. — Agarrei o telefone com força, e a voz rouca do outro lado da linha me fez respirar fundo, tranqüilizando-me.
— Eu já estou indo pra casa...
— William!
— Bela? Eu já to indo... Como você está?
— A bolsa estourou, mas não está na hora, era pra ser semana que vem... Eu to com medo...
— Fica tranquila, se estourou é porque está na hora, se lembra do que a doutora falou? Que o bebê é quem decide quando vai sair, se estorou é porque ele já está pronto pra nascer.
— Sim... — Respirei fundo, tentando me acalmar.
— Não vejo a hora de segurar meu campeão nos braços. — Sorri entre as lágrimas.
—  Eu também....
— Fica calma minha vida... Já estou chegando...

Enquanto William não chegava, Isabel ficou comigo, me ajudou a me trocar, pegar os documentos, verificar se não faltava nada na bolsa do bebê e me acalmou quando as contrações chegaram, inicialmente bem fracas... Tentei me manter calma e me apoiei no berço.
— Filha, tudo bem? — Neguei fechando os olhos. — Está sentindo dor?
— Senti, mas agora passou.
— Foi uma contração, temos que marcar a hora, pra ver o intervalo entre elas. — Ela disse enquanto olhava o relógio.
— Eu não sei se eu vou aguentar...
— Eu sei que vai... Filha? Você vai ver que tem mais forças do que imagina,  que a vontade de ter seu bebê nos braços vai ser mais forte que a dor.
— Estou com medo...
— Eu sei... — Ela acariciou meu cabelo seu olhar demonstrava preocupação, mas tambem muito carinho. — Eu tive tanto medo quando você nasceu, mas nada se comparou a emoção que senti quando te tive nos braços, tão pequena, frágil... Logo vai entender do que eu estou falando, logo vai ter seu bebê nos braços e sim você vai conseguir... Não é uma dor constante, ela vai e volta e tenha a certeza que ela acaba no momento que seu bebê nascer.  — Só o pensamento de tê-lo em meus braços, ver seu rostinho, me encheu de emoção, de ansiedade. E Isabel limpou as minhas lágrimas.
— Você vai ser uma mãe maravilhosa,  Isabella.
— Você também. — Susssurei. É o que eu quero que ela seja pra mim. Minha mãe de verdade.
—  Eu nunca mais a deixarei sozinha, Isabella. Aconteça o que acontecer, você sempre terá a mim, sempre vou estar te cuidando... — Meu sorriso se desfez em uma contração mais forte, saindo das minhas costas, indo até minha barriga.
— O intervalo das contrações é grande, ainda tem bastante tempo.
— William está demorando...
— Ele já está chegando, não se preocupe. É melhor ir se sentar um pouco.
— Esta bem.

Minutos depois, William entrou na sala correndo, como um louco,  ofegante.
— Eu não te disse? — Isabel falou dando espaço pra ele. Vê-lo, me fez sentir um alívio imediato, notei que em seu olhar também havia medo, mas quando ele me abraçou, me senti a mulher mais protegida do mundo.
— Estou aqui amor... Não precisa ter medo. — Tentei me manter forte, mas diante da sua voz rouca, diante dos seus bracos fortes, eu desabei. E ele me acalentou, enxugou minhas lágrimas.
—  Vai dar tudo certo. Nosso campeão vai nascer saudável e forte. — Essas foram suas palavras. E eu acreditei nele.

— AAAAAAAAAHHHHH — A dor é indescritível, não existem palavras, ela chega num ponto insuportável, e quando você pensa que não pode mais aguentar, ela desaparece, num alívio supremo momentâneo, dando a chance do seu corpo respirar. Então ela volta mais forte, como uma doce tortura... Então você pensa que não vai aguentar a próxima, mas ai você grita mais alto, você aperta a mão de alguém com mais força. E você descobre que sim, que você aguenta mais uma vez.
Mesmo depois de quase cinco horas em trabalho de parto, quando eu já não tinha certeza se conseguiria, eu aguentava mais uma contração. William não saiu do meu lado, não soltou a minha mão e acariciava as minhas costas quando a dor vinha, me abraçava quando ia embora. Mas depois de um tempo, ele começou a insistir por uma cesária, não queria me ver sofrer assim, chegou a gritar com a médica que dizia que o parto normal era o mais indicado. Então chamei por ele e intervir.
— Ela já está quase alcançando os dez centímetros de dilatação, uma cesária agora só a faria sofrer mais... — A médica dizia... E William me olhava fixamente, esperando eu decidir.
— Vamos tentar o parto, só mais um pouco. — William apenas concordou com a cabeça. Eu segurei sua mão um pouco mais forte, então ele se inclinou e beijou minha testa.
— Tudo bem, só mais um pouco, mas se não der, vamos fazer a cesária, por favor.  Você não precisa sofrer assim...
— Sim... — Ele forçou um sorriso e me beijou outra vez.
— Te amo...
— Eu também...
— Amor... — William estava me abraçando e se afastou pra me olhar. — Se algo de ruim acontecer comigo, promete que...
— Não! Não diga isso pra mim! Nada de ruim vai te acontecer, eu não vou deixar, tanto você como o nosso filho, vão ficar bem, não se preocupe... Por favor não diga isso pra mim...
— Esta bem. — Acariciei seu rosto vendo que ele se controlava pra não chorar. Logo fui abraçada por seus braços fortes, eram tão confortáveis, até a dor voltar....
Tempo depois a médica se aproximou, ela fez mais uma vez exame de toque e disse que havia chegado a hora.
Me deitei, fechei meus olhos, suportando a dor, tentei manter a calma, apertando a mão de William e respirando como ela me ensinou. Imaginei como seria poder segurar meu pequeno nos braços, ver seu rostinho, sentir seu cheiro, a sua pele macia...
A dor tomou qualquer pensamento, me concentrei nela, em fazer força contra ela, mas isso só a fez ficar ainda mais insuportável, mas eu me neguei a parar de empurrar, com todas as forças que eu tinha, eu dei tudo de mim... Tudo...

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