Capítulo III - Coelhinho sai da toca

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Se eu fosse covarde, eu ficaria aqui em Santa Rosa até ter dinheiro para voltar pro Brasil. Mas ele me acharia. Talvez a Elisa que o Bruno conheceu até podia ser, mas ela se quebrou. Eu não sou mais Elisa. Já estou há um mês hospedada num hotel barato nessa cidade que fica há pouco mais de uma hora de carro de SF. Eu aluguei um carro para que em caso de emergência a fuga seja prática, além de ser o normal já que nada por aqui é perto. Eu sei que meu dinheiro não vai durar muito, mas eu precisava de um tempo para cicatrizar a ferida da facada. Não levou muito tempo para fechar a pele, o problema mesmo é a cicatrização interna. Ainda dói se eu faço um movimento muito brusco, mas nada que seja insuportável. Logo devo voltar para San Francisco, não posso protelar muito.

Além do mais o Bruno não é burro, ele provavelmente já sabe que eu saí viva. Alguém deve estar atrás de mim. Culpa da estupidez de certo alguém que não sabe acabar direito com uma vítima. Bom pra mim que ainda estou na vertical e ventilada. O pessoal do pequeno hotel em que eu estou acha que minha casa está em reforma, por isso estou aqui.

— Bom dia Liz! Posso entrar?

— Bom dia Telma. Fica a vontade. Estou liberando o quarto.

Telma é a camareira daqui e tem sido simpática comigo desde que cheguei. Ela é Colombiana e diz que nós imigrantes temos que nos ajudar quando nos encontramos aqui nos Estados unidos.

— Na verdade hoje não é dia de faxina chica, só vou tirar a roupa de cama.

— Não por isso Telma, estou saindo mesmo. vou fazer o check out agora no final da manhã. A casa foi liberada ontem, já posso, ahn... voltar para o meu cantinho.

— Buenas notícias hija! Espero que dê tudo certo na sua vida aqui nesse país. Quando eu cheguei foi difícil me adaptar, mas estou bem agora.

Termino de juntar minhas coisas, que não eram muitas quando saí de SF, mas acabei comprando algumas coisas por aqui ao longo do mês. Tudo junto enche apenas uma mala de viagem média. Além da minha bolsa de mão. Dou adeus para Telma, e após fazer o check out do hotel. Entro no ford Focus preto que era o carro mais barato da locadora. Tenho que voltar pra onde essa história toda começou para conseguir descobrir algumas coisas. Volto pela US - 101, e sinceramente, ela é como qualquer BR brasileira. Como Santa Rosa é longe da costa, não é uma paisagem de filmes passados na Califórnia, nada de mar infelizmente. Mas aproveito o sol para renovar meu humor. A vida pode estar sombria, horrorosa mesmo, mas acho que eu mereço alguns flashs de bom humor. Coloco Shout out to my ex do Little Mix bem alto e canto junto:

Shout out to my ex
You're really quite the man
You made my heart break
And that made me who I am
Here's to my ex, hey, look at me now
Well, I'm all the way up
I swear you'll never bring me down

Quando a playlist é boa, a gente nem vê a hora passar. Beyoncé, The Weekend, Nicki Minaj , Rihanna, Anitta, Mc Livinho, Mc Kevinho, Projota... e cheguei. Teve até Bonde do Tigrão. Só percebi que tinha chegado quando avistei a Golden Gate à frente. Abri todas as janelas e desfrutei da passageira sensação de liberdade. Não sei que tipo de coisas perigosas eu me meteria daqui em diante, enquanto o vento atingia meu cabelo eu só pensava no quanto eu queria desfrutar cada segundo de vida que eu tivesse pela minha frente.

A vida poderia ser horrível, mas só se eu deixasse. Prometi para mim mesma que daqui em diante, eu tiraria proveito de tudo. Mesmo de coisas ruins. E se quiserem acabar comigo, eu morro sambando na cara de quem fizer isso e farei a pessoa se lamentar mesmo depois que eu tiver ido.

Espantei esse pensamento negativo enquanto cantava Menina má da Anitta. Rumei para o subúrbio de SF, lá seria mais fácil de conseguir informações sobre La Família. Nesse mês que eu fiquei de molho em Santa Rosa criei algumas teorias, mas tinha uma forte impressão que se trata de um cartel de tráfico internacional. Mais precisamente tráfico humano. Quaisquer que sejam as atividades deles, não são boas. Ainda não tenho idéia de como fazer isso, mas vou destroçá-los.

Chego e resolvo ir no Domino's pra almoçar pizza, que é o primeiro junk food que eu passo, então é o que têm pra hoje. No meio da tarde, passo no mercado pra arranjar algumas coisas que eu possa precisar. Corda, ferramentas, luvas... Ainda não faço ideia pra que eu usaria, mas prefiro ser prevenida. Os mercados aqui são incríveis demais! Tem tanta coisa diferente, e barata. Qualquer mercado americano dá pelo menos duas vezes o tamanho de um mercado brasileiro.
Perto de 18:00 resolvo sair pra arranjar algum lugar pra ficar hoje.
Entro no carro e quando adentro um pouco mais o subúrbio reparo num bar que parece meio barra pesada.

Uh! Parece que mais tarde vou parar para beber. E com isso eu quero dizer investigar.

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