Capítulo XIV - See you, baby

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Resolvemos almoçar no píer 39, decidi que seria mais seguro um lugar movimentado. Temos algumas horas antes de embarcar no nosso voô. Antes de virmos pra cá paramos numa farmácia e comprei remédios, anti-inflamatórios e curativos para a Nina. Ela parece bem. Mas de tudo o que aconteceu hoje, não consigo para de pensar no que Ana de disse. Ela é uma sobrevivente, assim como eu, como Nina, como a Carmen... Como todas as garotas por quem agora sou responsável por manter vivas. Ela parece disposta a se aliar a nós.

— Você está me ouvindo Liz? — Nina chacoalha a mão boa na frente da minha cara.

— É... não. Desculpa. O que era?

— Temos que ligar para a Serena para saber se as meninas que já chegaram lá estão bem.

— É mesmo. — remexo meus nachos apimentados — Vou ligar assim que terminarmos de comer. Que horas são?

— Três e meia passada — Jade responde.

Terminamos nossa comida sem pressa. Estamos todas em silêncio, mas não nos incomodamos. Estamos cansadas, chocadas, até mesmo com medo. Sei que todas gostariam de paz o mais breve possível, mas estão todas aqui. Fortes. Bravas. Prontas para lutar. E tem gente que diz que o belo sexo é o "sexo frágil".

Pago a refeição e caminhamos para a saída do píer. Tem crianças andando de bicicleta, turistas, casais tirando foto. Gente feliz. O dia está lindo, anunciando o verão que se aproxima. Observando essas pessoas reparo, que tem um grupo de caras grandes andando juntos, indo em direção ao restaurante mexicano do qual acabamos de sair. Merda. Vejo logo atrás dele entrar Diego. Sei que é ele porque mesmo de longe dá para ver que ele manca um pouco, resultado do tiro que dei na coxa dele na semana passada. É claro que o Bruno já deve ter sido avisado.

— Meninas, não quero assustar vocês, mas vamos ter que sair daqui o mais rápido possível. Eles estão a um fio de nos achar... Acabaram de entrar no restaurante.

— Droga, Liz, o carro está longe... Se a gente correr, eles nos pegam, vamos chamar atenção. — Ana me lembra.

Uma van de turismo para ao nosso lado, numa vaga de desembarque. Tento avisar elas, mas já é tarde demais. A porta se abre rapidamente e quando me dou conta, já puxaram a Nina e a Jade para dentro. Quero gritar e sair correndo mas de repente alguém põe a cabeça para fora do vidro da parte da frente da van.

— Liz, se você não embarcar agora você estará morta dentro de uma hora e nem vai ter se vingado dos coleguinhas filhos da puta que foram almoçar no mexicano ali.

— Tudo que você faz ter que ter efeito dramático Asher? — aceno para que Ana e Carmen embarquem. Está tudo bem. Eu acho.

— Drama sempre, querida. Deveria tentar um dia. Isso impressiona garotas. — Ele pisca para as minhas amigas.

Reviro os olhos e entro na cabine, ao lado do Asher, que imediatamente dá a partida.

— Você? Numa van de turismo?

— Queria que eu escrevesse "Casa Roja: A melhor máfia que você respeita" seguida do meu telefone de contato?

— Bacaba. Pode nos deixar perto do estacionamento? Deixei o carro num estacionamento ali da Powel com a Beach Street...

— Aeroporto? Claro que sim, sem problema. Babaca é você de achar que eles já não viram seu carro. Deixe a chave com o Brad ali. Ele vai desviar o carro do trajeto do aeroporto e devolver o carro pra você. — Um brutamontes acena para mim da parte de trás da van. As meninas estão em silêncio. Devem estar com medo.

—Está tudo bem meninas, fiquem tranquilas. Vocês vão ficar bem. — "Sou só eu que não vou", acrescento mentalmente.

Entrego a chave ao Brad e ele desce da van na Powel Street, e logo estamos em movimento de novo.

— Deu certo a primeira parte da sua vingancinha querida?

— Só vou saber se deu se eu desembarcar em segurança em Miami.

— Claro, é a cara de brasileira ir pra lá. Outlets, parques, comida brasileira, tudo do Brasil...

— Turismo na Flórida sempre foi meu sonho... Mas não né. Me poupe.

— Vou ignorar seus sarcasmos, agora que estamos quites. Vocês fizeram a maior bagunça, garotas. Digamos que só todo mundo do submundo do crime aqui de San Francisco já está sabendo que o bordel dos La Família foi arrebentado por duas garotas e mais umas amigas.

Eu tive que gargalhar. Meu Deus, estou tão ferrada.

— Acho que assustamos eles. Bom, depois dessa você está livre de mim, Asher.

— Eu se fosse você não contava com isso tão cedo. Você está só começando, mas vai fazer muito mais estrago por aí ainda. Não vou ser apenas expectador disso, se quiser, estou aí. Hoje você já provou que seu interesse não é prejudicar Casa Roja.

— Quando eu precisar te chamo, mas por enquanto só quero acabar logo com isso. Aliás, por que você veio? Não é mais fácil mandar os seus leões de chácara?

— Vocês não confiariam neles. Além disso, não quero ser um Capo intocado, que se enfia num escritório luxuoso e administra as operações. Quero participar do que acontece dentro do meu grupo. A ação é a parte mais legal. Você vai entender quando tiver sua própria máfia.

— Não quero uma máfia.

— Por enquanto. Mas eu vejo seu futuro claramente, querida. Você só não viu que já começou uma máfia pois está muito ocupada no momento.

Deixo o que ele falou pairar no ar. Não tenho tempo para pensar nisso agora, estou mais preocupada em me manter viva e chegar em Miami. Estamos na Bayshore Freeway há quase vinte minutos quando entramos na alça de acesso ao aeroporto. Em poucos minutos estamos estacionando na área de desembarque de passageiros. Asher e um de seus capangas, se eu posso chamar assim, descem da van, e outro assume o volante e vai embora com o veículo.

— Não temos muita coisa, mas tinham alguns pertences nossos no porta malas do Mustang. — Nina fala para o capanga.

— Não se preocupe moça, Brad vai estar com sua bagagem aqui em no máximo meia hora, se ele não tiver problemas com os La Família, claro.

Ele tem razão, pois nos instalamos na sala de espera, logo após eu ligar para Serena e confirmar que estava tudo indo bem, aparece o brutamontes Brad com nossas malas e o ticket de devolução do veículo.

— Por favor, se vocês querem ficar seguras, não vão muito longe de onde eu e os rapazes possam vigiar vocês. — ele me dirige um sorriso confiante. Lindo.

Depois de fazer o check-in, passamos quase uma hora conversando até o embarque abrir.

Falamos de amenidades, ele explica um pouco sobre os negócios dos Casa Roja, eu falo sobre os meu planos de enviar logo as moças para seus países e como fizemos com os passaportes e vistos. Nos dirigimos ao portão de embarque. Quando todas as meninas já foram, Asher se aproxima do meu ouvido.

— Você é uma criminosa de primeira categoria Liz. Já está fazendo coisas que alguns de nós preferimos não arriscar, como entrar em redes do governo. Me escute, você tem potencial para se vingar e para fazer muito mais coisas além disso. Quando quiser, o seu primeiro aliado, você já tem.

Ao terminar de falar, ele beija meu pescoço, me deixando incapaz de responder. Ele me dá um rápido selinho e se vira para ir embora.

— Tchau, Asher.

— Até mais, Liz.

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