O que Deus uniu ||Degustação||

Rebecca

Quando penso na minha infância, me lembro de estar muito na casa de meus avós. Lá era meu refúgio, para onde me dirigia sempre que as coisas não iam bem em minha casa. O que acontecia regularmente.

Meus avós paternos moravam na nossa rua, e eu sempre admirei a relação deles. A vovó sempre tinha uma palavra de conforto para qualquer pessoa, tinha um versículo bíblico para cada situação. Mas me lembro bem de um Salmo, que pedia para ela ler pra mim, o Salmo 46. "Deus é meu refúgio e fortaleza; socorro presente na hora da angústia, PELO QUE NÃO TEMEREI."

Poder imaginar que Deus estava com a gente todo o tempo, e que não precisava ter medo, me acalentava.

Na minha casa eu sempre precisava me lembrar disso. Éramos três irmãos, sendo eu a segunda. E pensa num ambiente em que sempre havia brigas? Sim, era a minha casa. Eu tentava entender o que acontecia, porque meus pais brigavam tanto, mas não conseguia. Meus irmãos e eu, éramos testemunhas de seus desentendimentos, mas nada podíamos fazer.

Um dia tudo mudou em poucos segundos.

Um acidente no carro em que estávamos, minha mãe, minha irmã Sara e eu. Minha mãe sofreu algumas escoriações, minha irmã se machucou bastante, mas estava fora de perigo e eu tive alguns ferimentos graves e entrei em coma.

Todos se desesperaram, era uma situação caótica: minha mãe se culpando pelo acidente, sofrendo pelo meu estado, meu pai dividido, meus irmãos perdidos sem saberem o que fazer. Mais uma vez minha avó tinha a palavra certa, no momento certo. Mas nada parecia certo ali. O sofrimento de meus pais com uma filha internada e outra em estado grave não era certo, era surreal.

Apesar dos nossos pais terem sido criados em famílias cristãs, ambos se desviaram na juventude e se casaram em um ato rebelde. Depois que a minha mãe perdeu o pai, um missionário pioneiro na cidade em que foi criada, começou a questionar suas próprias vidas, e se afastaram dos caminhos do Senhor, se negavam a ouvir falar sobre algo relacionado ao Senhor.

Porém, algo inexplicável estava acontecendo ali, sem que ninguém se desse conta. Meus pais haviam se unido na dor, no sentimento mútuo de perda e esperança. Eles tinham esperança na minha recuperação e lutavam juntos por isso.

Essa esperança se arrefeceu no dia que o médico responsável pelo meu caso, os chamou e pediu para que se preparassem para o pior. Eu não estava melhorando, estava piorando consideravelmente. Apenas um milagre resolveria o meu problema.

Minha mãe entrou num desespero sem medidas, queria tirar a própria vida, se culpando ainda mais. Meu pai em prantos tentava amparar a esposa. Meu avô foi um bálsamo:

— Deus tem um propósito nisso! O milagre que a gente precisa, Ele pode realizar!

Dona Sandra, também conhecida como minha mãe, levantou os olhos angustiados para o meu avô:

— Como assim? Deus não existe. Se existisse, não permitiria que isso acontecesse conosco! — disse fungando, tentando em vão enxugar as lágrimas.

— Ele existe e sei que Ele tem um propósito especial com a Rebecca, não será agora que ela irá nos deixar.

— Olha aqui— minha mãe disse com firmeza, olhando bem dentro dos olhos do meu avô. — Eu não tenho nada, só meus filhos. E eles são muito importantes para mim. Se o que o senhor está dizendo for verdade, eu vou ser a primeira a acreditar em Deus! Mas caso contrário, não conseguirei continuar vivendo...

— Eu sei o que digo, minha filha, e o digo com convicção. Espera e veja o agir de Deus.

Ela apenas balançou a cabeça e saiu dali. Meu pai que até então via aquela cena em silêncio foi em direção ao meu avô e quis tirar satisfação com ele.

— Pai, isso não está certo! Está dando falsas esperanças a ela!

— Nada disso, meu filho — disse meu avô com um brilho no olhar— Eu sei o que digo, pois foi Deus quem me mostrou.

— Vamos ver, vamos ver — disse e foi atrás da minha mãe.

Meu avô olhou aquela cena com o início de um sorriso no rosto, pois ele sabia que sim, algo diferente ia acontecer ali, e que mudaria para sempre a nossa vida!

*Capítulo Revisado*