CAPÍTULO 11

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O medo me faz hesitar.
Olho uma última vez para Anne, tentando desvendar em seu semblante o que está por vir. Minha criada desvia o olhar enquanto esfrega as mãos nervosamente.
_Obrigada por me acompanhar até aqui Anne.  - Uno minhas mãos às suas. - Você já pode ir agora.
_Eu vou esperá-la no seu quarto milady, para ajudá-la a se trocar.
Eu assinto e ela se vai.
Aproveito o momento a sós para orar. Tenho a triste sensação de que precisarei de alguém que me defenda, pois me faltarão forças suficientes. Bato na porta e logo entro. Meu pai está sentando na grande mesa que fica no centro do escritório. Ele bebe laconicamente do Brandy em sua mão ao mesmo tempo que observa-me.
_O senhor mandou me chamar - Digo para preencher o silêncio instaurado.
_Estou ciente deste fato. - Ele responde longos minutos depois.
Cada minuto de incompreensão é mais martirizador do que o antecedente. Me pergunto quantas horas mais meu pai usará o silêncio como forma de tortura.

_É sua intenção introduzir o assunto que me trouxe aqui? - Questiono impaciente.

_Uma mulher não deve contestar o agir de um homem. É por isso que eu a trouxe aqui. Você será a Duquesa de Grafton, e junto com a honra vem as responsabilidades.

_Eu não quero ser a duquesa de Grafton. - Esbravejo com fúria.

_Isso é irrelevante. - Esclarece o Conde sem se alterar. - Você fará o que eu mandar.
Ele levanta-se e começa a caminhar pelo escritório, examina despreocupadamente a lombada dos livros expostos na estante que se estende por toda a parede, depois serve-se um pouco mais de bebida, fazendo cada segundo que se passa transformar-se em uma eternidade angustiante. Eu continuo imóvel no mesmo lugar tentando não demonstrar que minhas pernas estão trêmulas.

_Hadwerty espera uma esposa adequada.

_Certamente. - A sua voz assusta-me, giro instintivamente para trás.
Lorde Hadwerty está parado próximo à porta encarando-me, numa postura intimidadora que me causa confusão e medo em proporções iguais. Apesar da fragilidade natural da idade, lorde Hadwerty ainda conserva consigo uma imponência que me dá arrepios.

_Lorde Hadwerty? - Murmuro mais para mim mesma do que para eles, tentando compreender o que se passa.

Surpreende-me vê-lo aqui, mas pela expressão no rosto do meu pai esse encontro fora premeditado. O Duque serve a si próprio uma bebida enquanto parece saborear a cena por antecipação.

_Hoje você aprenderá de uma vez por todas o que acontece com jovenzinhas propensas a manifestar suas opiniões. - Meu pai comunica - Eu dei a minha palavra a Hadwerty que uma filha minha é digna de ser duquesa. Você obedecerá ao seu marido e será uma esposa graciosa, eu não aceitarei menos que a excelência.

O som da gaveta da mesa se abrindo é quase imperceptível. Eu só noto os movimentos do meu pai quando vejo o chicote já em sua mão.
Uma troca de olhares entre meu pai e lorde Hadwerty faz todos os ossos do meu corpo estremecerem.

_P-pai... - Sussurro em uma súplica tola, pois é evidente que nada nesse mundo deteria meu pai.

Tento não chorar quando meu pai ordena que eu me ajoelhe perante ele. Minhas faces queimam de vergonha a medida que sinto seus dedos desabotoarem meu vestido, mas permaneço muda. Lorde Hadwerty acompanha atentamente cada ato do meu pai, exibindo um sorriso satisfeito. Eu poderia tentar me defender. Talvez se eu fosse rápida o bastante pudesse sair pela porta e correr até meus pés não aguentarem mais. Entretanto, isso só aumentaria a ira do meu pai e duplicaria meu castigo quando ele me encontrasse. Então, resignada, eu permito que ele faça o que quer comigo e apenas rogo em silêncio para que seja rápido.
_Espero que você mantenha o dia de hoje em mente pelo resto de sua vida. Você está abaixo de mim Isadora. E, em breve, você estará abaixo do seu marido. Ainda assim vejo em seu olhar uma centelha de obstinação e rebeldia. Isso deve ser corrigido.

[COMPLETO] A dama e o cavalariço Onde histórias criam vida. Descubra agora