CAPÍTULO 13

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Mais silêncio.
Sento-me na pequena mesa de madeira que possui apenas três cadeiras e espero o sermão que indubitavelmente virá.
_Você só pode ter batido a cabeça em algum lugar e acabou ficando desorientado - Exclama minha irmã. Permaneço quieto, então ela continua: - Como se não bastasse ter se engraçado com a filha do barão, o que só te resultou em dor e decepção, agora você resolve se envolver com a filha do homem que põe pão sobre a nossa mesa? Você não se importa com o seu emprego? Você acha que uma mulher qualquer é mais importante que suas responsabilidades com a sua família?
_Não se refira a ela dessa maneira. - A censuro, usando um tom frio e cortante, apesar de não querer brigar com Mary.
_Ah, mil desculpas meu irmão! Quem sou eu para ofender a mulher mais importante da sua vida?!
_Não diga tolices Mary. E não seja ingrata. Eu nunca falhei com vocês. Sempre cuidei de todas com o mesmo amor e zelo que meu pai lhes destinaria se estivesse vivo.
A menção de nosso pai faz a fúria de Mary retroceder, mas um sentimento ainda pior submerge.
_Amor e zelo? - Ela solta um risada amarga. - Nosso pai nos abandonou muito antes de deixar o mundo dos vivos. Ele abandonou os filhos no mesmo instante que ela o fez. Tudo porque não foi capaz de suportar a sua insuficiência como homem.
_Chega! - A minha mão estala forte sobre o tampo de madeira da mesa. - Não vou deixar que você viole a lembrança do nosso pai. Ele fez o melhor que pôde por nós.
_Acho que é uma maldição desta família que todos os homens sejam envenenados pela paixão. - Desdenha Mary, caindo desanimada sobre uma cadeira. - Você se lembra da mesmas lembranças que eu Henry? De como ele ficou arrasado depois que ela partiu? De cada noite que ele sentou junto à beira da estrada alimentando a esperança tola que talvez ela voltasse? Pois, eu me lembro. De cada dia o ver definhando um pouco mais, da forma como ele nos ignorava porque na sua vida de lamentações e arrependimentos lhe sugava toda a energia, tanto que ele nem tinha forças para amar os próprios filhos.
_Ele nos amava. - Digo num sussurro, pois eu próprio não tenho convicção suficiente para dizer em voz alta. - Não culpe nosso pai por sua fraqueza. Você sabe que ela é a verdadeira pessoa sem coração.
_Você não vê Henry que você está prestes a seguir os mesmos passos do papai? - Me remexo desconfortável na cadeira, ainda assim deixo que fale o que tem para me dizer. - Eu vi a forma que você olhou para ela ontem à noite, enquanto discutiam na sala. Eu sei o que ela faz parecer. Que pode ser algo alcançável, que ela quer o mesmo que você. É provável que a própria Lady Isadora acredite nisso, mas ela engana a si própria e a você também. Desista de qual for o seu intento, meu irmão. Você sairá devastado no final e eu não posso suportar ver mais alguém que eu amo definhar até a morte.
_Por que é tão difícil acreditar que Isadora possa sentir algo por mim? - A questiono ao mesmo tempo que procuro não revelar a mágoa que me aperta o peito.
_Eu acho amar você a coisa mais simples desta Terra. - Ela assegura, repousando a mão sobre a minha.  - Possivelmente Lady Isadora já esteja rendida aos seus encantos. Mas ambos sabemos que isso nunca será o bastante.
Tento bloquear as lembranças que sempre me assombraram e devolvê-las ao canto mais sombrio da minha alma, onde elas adormecem, mas nunca me deixam. Fixo minhas recordações nas últimas semanas. Na jovem de olhos amendoados que me conquista mais a cada gesto. Eu não cometeria o erro de entregar meu coração tão rapidamente para alguém que ainda não confio. Mas Isadora precisa de ajuda e parece me querer por perto. Ela sorriu em meus braços enquanto eu a beijava, mesmo com as costas esfoladas. Isso significa alguma coisa.
_Eu entendo as suas preocupações Mary. - Tento ser pacífico. - Espero que nunca duvide do amor que eu sinto por vocês três. Isso sim me faria definhar até a morte. Mas a minha decisão já foi tomada. Eu ajudarei da forma que puder a Isadora para que escape de um vida de sofrimentos. E se um dia, no futuro, ela desejar, eu ficaria feliz em torná-la minha esposa e protegê-la.
_A filha de um Conde feliz casada com um cavalariço... - Sei que não é por mal, mas sua palavras saem carregada de desprezo. - E vocês viverão felizes para sempre como nos contos? A vida não te ensinou nada Henry, agora eu percebo. A essa altura você deveria estar calejado de saber que não importa o que ela possa sentir por você, o amor ao mundo em qual vive sempre prevalecerá. Ela foi criada assim, é parte da sua natureza. E ainda que ela te escolha por emoção inconsequente, um dia o ostracismo pesará sobre vocês dois quando ela perceber que não é mais bem vista entre os seus. Isso se você tiver sorte de conseguir tê-la por alguns anos, pois o mais certo de acontecer é que ela acabe antes encontrando nos braços de um homem com título o que você nunca poderá lhe oferecer. Não foi assim há um ano?
_Preciso ir trabalhar. - Levanto-me bruscamente e acabo derrubando a cadeira. - Quando eu voltar espero ter o papel que pedi no meu quarto.
Saio assim que Mary concorda com a cabeça.
Por mais que o discurso de Mary tenha atingido feridas antigas em mim, eu prometi ajudar Isadora. Ela precisa de mim. E talvez eu pre... Nada disso.

[COMPLETO] A dama e o cavalariço Onde histórias criam vida. Descubra agora