Assim que ambos assinam, Willian acena com a mão e os dois homens, que até agora observavam tudo em silêncio, se aproximam. Da forma como um deles examina atentamente os documentos, creio que trata-se de um advogado. O outro, um brutamontes, com uma altura impressionante, braços com três vezes mais músculos do que o de um homem comum e uma cicatriz atravessando todo o lado direito do rosto, deve ter vindo especificamente para intimidar. O que ele faz magnificamente. Lorde Hadwerty se encolhe ante a presença do homem, parecendo nada mais que um ancião inofensivo. O advogado confirma que tudo está correto e volta ao seu lugar.
_Excelente. - Comemora Willian. - Foi ótimo fazer negócios com os senhores.
Ele sorri abertamente, deliciando-se com cada acontecimento. Enquanto o observo vejo que seu olhar se intensifica em minha direção, como se ele quisesse me passar algum recado através do seu rosto. Com um movimento leve de seus lábios, ele se comunica, e eu finalmente entendo. "Sorria" é o que ele quer de mim. Neste momento, eu percebo o quão maravilhoso Willian Denvalle é. Ele não celebra a vitória como sua, apesar de todos sermos cientes que sem seu poder e influência as coisas continuariam iguais. Ele quer que eu me alegre, porque eu venci. Essa é minha vitória. Meu momento. Lhe devolvo o sorriso mais contente que sou capaz de formar. Will mexe a cabeça, em sinal de aprovação.
_Acabamos? - O Conde questiona, sem encarar ninguém nos olhos. A sua cabeça está ligeiramente curvada.
"Sim, acabou. Estou livre de você, pai."
_Só mais uma coisa. - Responde Willian.
Mesmo de uma curta distância, é perceptível quando o corpo todo do Conde se enrijece, a mandíbula se contrai e a veia que atravessa sua testa agora está mais acentuada.
_Mais exigências? - O Conde força um sorriso, desprovido de humor.
_Apenas assine aqui e teremos encerrado este assunto.
Willian coloca alguns papéis sobre a mesa do meu pai. A princípio, o Conde parece tão confuso quanto eu, entretanto, após ler algumas linhas, ele encara Willian, imaginando o que o Duque está tramando desta vez.
_Você irá se casar com ela? - Meu pai quer saber.
Willian ignora a pergunta.
_Assine e partirei imediatamente.
O Conde exita, mas acaba levando sua mão ao tinteiro. O documento é assinado. O peito de Will sobe e desce em um ritmo lento, profundo e aliviado.
_Suba e arrume suas coisas. - Ouço Willian dizer. - Você partirá comigo.
A boca de meu pai se abre, contudo ele pensa melhor e decide calar-se. Lorde Hadwerty, por sua vez, murmura com um tom exasperado, mas não tem coragem de fazer nada para impedir.
Assemelhando-se a sensação de um grilhão do qual sou liberta, retiro o anel de noivado que ganhei de Lorde Hadwerty, sinto um peso sufocante sair de sobre mim. Jogo-o no chão com desprezo e firmo o olhar para o homem cruel, com quem eu teria que me casar. Ele se contorce de raiva.
Estou prestes a fazer o que Willian pediu, me retirar e buscar meus pertences, mas meu olhar é atraído novamente para Lorde Hadwerty. Não para ele especificamente, mas para sua localização. Ele está sentando na cadeira revestida de veludo, de cor verde, a madeira da cadeira é toda esculpida em desenhos circulares, com singelos toques de dourado. A mesma cadeira em que me sentei na noite em que meu pai açoitou-me. A dolorosa recordação me estimula a ficar.
_Não é humilhante? - Começo a dizer, surpreendendo a todos - Sentir-se acuado por alguém mais forte, ter medo por se Julgar inferior. Isso não o machuca, Lorde Pwenlly?
Um silêncio retumbante é a única resposta que obtenho.
_O senhor deveria me amar. - O acuso, sem me importar com a emoção que essas palavras carregam. - Um pai honrado cuida e protege seus filhos. O senhor não tem honra, independente do quão relevante seja o seu título. - O Conde se levanta, tentando me intimidar, mas eu não recuo. - Eu gravarei em minha mente cada linha de expressão do seu rosto derrotado. Não para me sentir vingada, pois não deixarei que a minha alma se corrompa, não me rebaixarei a ter sentimentos cruéis como o senhor. Mas hoje será uma eterna lembrança de que ninguém é inatingível. Um Conde também é constituído de carne e osso igualmente a qualquer limpador de chaminé. A única diferença é que suas mãos são mais sujas.
Alguns risinhos irrompem o silêncio, o brutamontes tentar reprimir o que seria uma gargalhada.
Eu e meu pai ficamos nos encarando em um embate silencioso, nos enfrentando com o olhar. Pela primeira vez sinto que posso medir forças com ele. Mas depois de um tempo, vejo como tudo isso é inútil. Feri-lo, humilhá-lo, escarnecer da sua momentânea fraqueza, nada me faz feliz. O que traz um sorriso ao meu rosto é pensar que vou embora daqui.
_Eu vou até meu quarto buscar o essencial e voltarei em breve. - Aviso a Willian.
_Seu Duque também é feito de carne e osso, não se esqueça. - Escuto lorde Hadwerty balbuciar a ameaça.
Impetuosamente me aproximo dele e faço o que devia ter feito há muito tempo. Cuspo-lhe no rosto.
_Isso é o que eu realmente sinto pelo senhor, milorde.
Depois executo uma mesura graciosa e me dirijo a porta. Não sem antes ver a feição surpresa e admirada de Will.
Queria que Henrique estivesse aqui para ver esta cena.
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[COMPLETO] A dama e o cavalariço
Historical FictionUma paixão proibida transformada em um amor que não pôde ser impedido. Quando Lady Isadora Pwenlly chegou a Londres para a temporada de 1826 estava resignada com o que o futuro lhe oferecia: um casamento por conveniência. O que a dama não previa é q...